Zema diz que loja da família foi alvo da PF e insinua perseguição de Lula; ministério nega

O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), afirmou em uma entrevista que uma loja da família dele foi alvo de uma fiscalização do Ministério do Trabalho acompanhada de sete viaturas da Polícia Federal em fevereiro deste ano. Sem apresentar provas, ele sugeriu que a ação teria motivação política, em meio às articulações para as eleições de 2026. A declaração foi feita durante entrevista à Revista Oeste, na noite de quinta-feira, 22.

O Ministério do Trabalho e Emprego contesta a versão, diz que alvo não era uma empresa do Grupo Zema e que a PRF, e não a PF, atuou na ação. Já a PRF diz que só atua na segurança dos agentes do MTE e também do Ministério Público do Trabalho. (veja as respostas abaixo). A PF e a Secretaria de Comunicação da Presidência não se manifestaram.

“Um fato interessante. A minha empresa, a empresa que eu administrei, sou sócio, não é minha, é da família, dois meses atrás chegaram lá sete veículos da Polícia Federal. Nunca, na história da empresa, que tem mais de 100 anos, teve uma fiscalização desse jeito. Chegou lá o Ministério do Trabalho, acompanhado de sete viaturas da Polícia Federal”, afirmou o governador.

Zema disse ainda que a empresa, que segundo ele “sempre foi fiscalizada”, recebeu a visita dos agentes para uma suposta “fiscalização de praxe”, e que, após a inspeção, os policiais teriam seguido para verificar a situação de empresas terceirizadas.

“A empresa tem 102 anos. Nunca entraram lá com força policial. A empresa tá aberta, sempre foi fiscalizada. É uma das melhores empresas para se trabalhar em Minas Gerais, de acordo com o Great Place to Work”, declarou. Questionado se via perseguição política, respondeu: “Eu deixo pra vocês concluírem”.

O superintendente do Ministério do Trabalho em Minas Gerais, Carlos Calazans, rebateu as declarações do governador Romeu Zema e negou que tenha ocorrido fiscalização em lojas do Grupo Zema acompanhada pela Polícia Federal.

Segundo ele, houve uma fiscalização feita em fevereiro, que teve como alvo uma transportadora terceirizada, chamada Cidade das Águas, após denúncia de trabalho análogo à escravidão. A operação foi acompanhada por agentes da Polícia Rodoviária Federal, e não da Polícia Federal.

“Lá nós encontramos 22 trabalhadores em condições análogas à escravidão. Trabalhavam até 20 horas seguidas, transportando os produtos da Eletrozema, como móveis, eletrodomésticos, para toda a região, não tinham horário de almoço, dormiam na boleia dos caminhões. Então há condições muito precárias dessa transportadora, que continua sob investigação” explicou Calazans.

Os representantes da transportadora não foram encontrados para se manifestarem sobre as informações do ministério. O espaço está aberto.

“A fala do governador foi uma fala imprecisa, incorreta. Não sei por que motivo ele trouxe esses fatos, que não são verídicos, à tona nessa entrevista”, completou.

A PRF destacou que só fica responsável pela segurança das equipes do Ministério do Trabalho e Emprego e do Ministério Público do Trabalho.

Além da fala sobre a operação, Zema fez uma série de críticas ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O governador disse que percebe um movimento do governo federal para prejudicar Minas Gerais e citou, como exemplo, um evento da empresa farmacêutica Novo Nordisk, em Montes Claros, no norte do estado.

Segundo ele, o governo federal teria mobilizado apoiadores para vaiá-lo durante o anúncio de investimentos bilionários da companhia, o que o fez cancelar a participação no evento. “Pagam um sanduíche, pagam passagem pros seus, pra companheirada ir lá fazer a festa deles”, afirmou.

O governador também acusou o governo federal de má conservação das rodovias federais que cortam Minas Gerais e de negligenciar o estado. Citou acidentes graves como reflexo disso e associou a situação a uma suposta retaliação política.

“Parece que tem uma birra com Minas Gerais. É um governo que investe pouco, que cobra taxa de agiota, e é um estado que tá lá, resistindo. Foi no PT que ele afundou. Vale lembrar: Minas Gerais afundou no PT”, disse.

O Estadão entrou em contato com o governador Romeu Zema pedindo esclarecimentos sobre a fiscalização citada, e aguarda retorno. A Secretaria de Comunicação da Presidência da República também foi procurada e não se manifestou, assim como a Polícia Federal.

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