Um dos mais importantes festivais de quadrinhos do mundo pode ser cancelado após denúncias

O Festival de Quadrinhos de Angoulême, considerado uma espécie de “Cannes do Gibi”, está no centro de uma série de escândalos que coloca em risco a sua realização em janeiro de 2026. Enquanto a prefeitura da cidade de Angoulême acusa a organização do evento de má gestão financeira, artistas e profissionais do setor debatem a invisibilização da mulher na sua programação e até uma denúncia de violência sexual.

Mais de 2.500 artistas, associações e sindicatos ligados ao mundo dos quadrinhos assinaram uma petição indicando boicote em massa ao evento. Pelo menos três artistas brasileiros participam da manifestação: Laerte, Aline Zouvi e Allan Sieber. Em paralelo, um grupo de 20 ganhadores do Grand Prix do Festival assinaram conjuntamente uma carta aberta exigindo uma “mudança rápida e profunda na gestão do festival”.

O festival ocorre desde 1974, mas desde 2008, o evento é organizado pela 9e Art+, uma produtora sediada na cidade de Angoulême, no Sul da França. A empresa é acusada de falta de transparência, exploração de trabalhadores e invisibilização do trabalho feminino.

Estas acusações não são recentes. Em 2016, por exemplo, o Festival foi duramente criticado quando apresentou a lista dos 30 indicados ao prêmio, todos eram homens. Em 2023, o Festival levou mais uma saraivada de críticas ao premiar uma obra de Bastien Vivès, que retratava cenas de pornografia infantil.

Na edição do ano passado, uma questão ainda mais grave: uma ex-funcionária acusou a empresa de demiti-la após ela denunciar ter sido vítima de estupro, envolvendo o uso de substâncias químicas. Diante de toda esta situação, Franck Bondoux, fundador da 9e Art+, foi afastado da gestão do Festival. Ao jornal Le Monde, o empresário declarou: “Não quero ser um obstáculo para o futuro do Festival. Pediram-me para me afastar e é o que estou fazendo.”

Pelas redes sociais, o Festival também se pronunciou dizendo que está ciente das questões e tem debatido com representantes de diversas entidades. “Os organizadores esperam que as discussões em andamento levem a uma solução para que a edição de 2026 possa acontecer, em nome do interesse do ecossistema dos quadrinhos e por respeito aos apaixonados dessa forma única de leitura”, diz a nota publicada no X, antigo Twitter.

Um novo comitê diretivo será formado por representantes do próprio Festival, financiadores públicos e profissionais do setor. No entanto, o contrato que prevê os direitos artísticos e comerciais do Festival em favor da 9e Art+ segue em vigor até 2027. Ou seja, as medidas só devem afetar a edição de 2028. Até lá, o mais tradicional Festival de Quadrinhos do mundo segue na berlinda.

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Por Redação Folha de Guarulhos.

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