Taxas de juros sobem com piora da aversão ao risco geopolítico na véspera do Copom

Os juros futuros subiram nesta terça-feira, 17, com exceção dos vértices curtos, que terminaram o dia estáveis. Pesou sobre a curva local a piora na aversão ao risco geopolítico dada a escalada das tensões no Oriente Médio, o que eleva o cenário de incertezas nesta véspera de decisão do Comitê de Política Monetária (Copom).

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 fechou em 14,860%, de 14,863% na terça-feira no ajuste, e a do DI para janeiro de 2027 subiu de 14,17% para 14,23%. O DI para janeiro de 2029 terminou com taxa de 13,54%, de 13,45%.

Após uma manhã de movimentos lateralizados, as taxas passaram a avançar à tarde com a possibilidade de intervenção dos EUA no Irã. Fontes indicaram à CNN que o presidente Donald Trump está cada vez mais inclinado a usar recursos militares dos EUA para atacar instalações nucleares iranianas e a rejeitar a ideia de uma solução diplomática. Trump afirmou nesta terça que a paciência com o líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, “está se esgotando”. A busca por segurança pressionou os rendimentos dos Treasuries para baixo e o dólar teve alta generalizada. O petróleo subiu mais de 4%.

“Os mercados abriram mais tranquilos, mas, com as notícias à tarde de que Trump poderia autorizar um ataque a instalações nucleares no Irã, pioraram um pouco. Mas nada muito dramático, dada a dimensão do conflito”, afirma o economista e sócio-gestor da Oriz Partners, Carlos Kawall, para quem o Brasil de certa forma está “protegido” pela condição de exportador de petróleo.

Os trechos mais afetados na curva foram o longo, normalmente mais sensível aos eventos externos, e o intermediário, que capta um pouco do exterior mas também os efeitos para os próximos meses produzidos pelos movimentos da Selic no curto prazo, pela questão da defasagem. Na percepção dos agentes, as tensões geopolíticas não devem pesar sobre a decisão do Copom de amanhã, mas fecham ainda mais o espaço para qualquer tipo de indicação sobre os próximos passos da política monetária.

“Já não acreditávamos em guidance. Mesmo considerando que teremos alta de juros de 0,25 ponto porcentual, a desancoragem das expectativas de inflação e o hiato do produto positivo não permitem que o BC afirme que o ciclo de alta acabou”, afirma o economista-chefe da MAG Investimentos, Felipe Rodrigo de Oliveira.

Do mesmo modo, o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, acredita que os diretores “não vão se comprometer com nada”. “O cenário externo está bem incerto para as próximas reuniões e o cenário local tá dando sinais de que a política monetária começou a pegar tração”, avalia, dando como exemplo o comportamento de indicadores como o IBC-Br ex-agro, o mercado de crédito e a desinflação dos IGPs.

O cenário das apostas para a taxa básica na quarta-feira segue dividido, mantida a proporção de 60% a 40% de probabilidade de alta de 25 pontos-base e manutenção do nível de 14,75% na precificação dos DIs e nas opções digitais da B3.

Dólar

O dólar ganhou força no mercado local ao longo da tarde e passou a operar em terreno positivo, superando pontualmente o nível de R$ 5,50 nesta terça-feira, 17, em meio ao aumento dos ganhos da moeda americana no exterior. Temores de que os Estados Unidos se envolvam diretamente na guerra entre Israel e Irã, na esteira de declarações do presidente dos EUA, Donald Trump, deflagraram uma onda de aversão ao risco.

Investidores intensificaram na segunda etapa de negócios o movimento de saída de bolsas e divisas emergentes e buscaram abrigo no dólar e nos Treasuries. Termômetro do comportamento da moeda americana em relação a uma cesta de seis divisas fortes, o índice DXY renovou máxima à tarde acima dos 98,800 pontos. Já em alta firme pela manhã, os preços do petróleo acentuaram os ganhos e fecharam com valorização de quase 5%.

O presidente norte-americano afirmou, em publicação na rede social Truth Social, que os EUA têm “controle total e completo dos céus no Irã”. Trump escreveu que o líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, é um “alvo fácil”, mas que os EUA não vão “eliminá-lo (matar!), pelo menos não por enquanto”. A CNN informou que Trump está cada vez mais inclinado a usar recursos militares dos EUA para atacar instalações nucleares iranianas.

Após registrar máxima a R$ 5,5076, o dólar à vista encerrou a sessão desta terça-feira, em alta de 0,20%, a R$ 5,4968. Na segunda-feira, a moeda havia recuado 1,00%, para o menor nível de fechamento desde 7 de outubro. Em junho, a divisa apresenta perdas de 3,89%, o que leva a desvalorização acumulada em 2025 a 11,06%.

O economista-chefe da corretora Monte Bravo, Luciano Costa, observa que o real, que chegou a se apreciar em boa parte do pregão, terminou o dia com perdas inferiores às de outras moedas, incluindo pares como o peso mexicano. “O real ainda se beneficia da percepção dos últimos dias de que o Banco Central possa promover uma alta da taxa Selic nesta semana, o que tornaria o diferencial de juros ainda mais favorável”, afirma Costa, em referência ao encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) na quarta-feira.

De 48 casas ouvidas por Projeções Broadcast, 27 preveem que o Copom opte por deixar a taxa básica estacionada em 14,75%. Já outras 21 instituições apostam em elevação da Selic em 0,25 ponto porcentual, para 15% ao ano. A maioria dos analistas ouvidos pelo Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) nos últimos dias afirma que, seja qual for a decisão, o comitê não vai decretar o fim do aperto monetário.

“Além dos desdobramentos do conflito no Oriente Médio, há um clima de cautela com a espera das decisões de política monetária aqui e nos EUA. Uma parcela do mercado acredita em alta de 0,25 ponto da Selic, o que acaba favorecendo o ingresso de capital especulativo e favorece o real”, afirma a economista-chefe do Ouribank, Cristiane Quartaroli.

Nos EUA, a perspectiva é que o Federal Reserve anuncie na quarta-feira manutenção da taxa básica de juros na faixa entre 4,25% e 4,50% e reitere que a política monetária está bem posicionada para lidar com as incertezas provocadas pela política comercial e migratória da administração Trump. Por ora, as apostas majoritárias são de que o BC americano inicie um processo de corte de juros em setembro, com redução total de 50 pontos-base neste ano.

Para Costa, da Monte Bravo, o Fed tende a revisar para cima a projeção de inflação e estimar uma piora pequena do mercado de trabalho – quadro que justificaria manutenção da taxa de juros, dado o duplo mandato do BC americano, que consiste em buscar a meta de inflação com o máximo emprego.

“O Fed pode optar por esperar mais um pouco e, eventualmente, conforme os dados evoluírem, fazer algum corte mais para o fim do ano”, afirma Costa, ressaltando que a apreciação do real em 2025 está intimamente ligada à depreciação global dólar, dado movimento de rotação global de carteiras. “Se não tivermos um Fed um pouco mais duro nem mais aversão ao risco com essa questão da guerra, a tendência é o dólar se enfraquecer ainda mais. Podemos ver a taxa de câmbio perto de R$ 5,40.”

Ibovespa

O Ibovespa acompanhou até certo ponto a piora de Nova York à tarde, onde a percepção de risco voltou a se deteriorar nesta terça-feira, pré-Fed e pré-Copom, com a falta de descompressão no Oriente Médio. O temor, agora, é de que os Estados Unidos, deliberadamente, possam vir a se envolver de forma direta no conflito deflagrado por Israel, de forma a neutralizar as capacidades nucleares do Irã, vistas como uma ameaça existencial pelo aliado na região – estratégica para a produção global de petróleo.

Nesta terça-feira, a commodity subiu mais de 4% em Londres e Nova York, com impulso na etapa vespertina ante os rumores sobre eventual participação americana no conflito iniciado na noite da última quinta-feira.

Em comentário ambíguo, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou nesta terça que os americanos não pretendem assassinar o líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei – “pelo menos não por enquanto”, ressalvou.

Em publicação na rede social Truth Social no início da tarde, Trump disse que os EUA sabem exatamente onde Khamenei está se escondendo. “Ele é um alvo fácil, mas está seguro lá – não vamos eliminá-lo (matar!), pelo menos não por enquanto”, escreveu. Em Nova York, as perdas da sessão ficaram entre 0,70% (Dow Jones) e 0,91% (Nasdaq).

Aqui, o Ibovespa caiu 0,30%, aos 138.840,02 pontos, entre mínima de 138.293,11 e máxima de 139.496,64 em sessão na qual saiu de abertura aos 139.255,91 pontos. O giro financeiro ficou em R$ 22,7 bilhões. Na semana, com a alta de cerca de 1,5% na segunda-feira, o Ibovespa ainda avança 1,19% e, no mês, tem ganho de 1,32%. No ano, o índice da B3 sobe 15,43%.

Por um lado, o Ibovespa foi pressionado pela queda de 4,50% de Vale ON, a principal ação da carteira – e que na segunda, em alta de 3,26%, havia sido fundamental para o avanço de 1,49% do índice. Por sua vez, o sólido ganho de Petrobras (ON +2,95%, PN +2,27%) desempenhou papel correlato, ao abrandar o efeito negativo da mineradora sobre o Ibovespa – na segunda-feira, os dois papéis da estatal haviam fechado o dia em baixa. Os grandes bancos ao final foram majoritariamente positivos, com variações entre +0,20% (Santander Unit) e +1,50% (Bradesco PN), ambas nas respectivas máximas da sessão no encerramento – exceção para Banco do Brasil (ON -0,36%).

Na ponta ganhadora do Ibovespa, além de Petrobras, destaque nesta terça também para Vamos (+2,46%), Prio (+1,97%) e Direcional (+1,90%). No lado oposto, além da Vale, apareceram Usiminas (-6,90%), Cosan (-3,79%), Bradespar (-3,00%) e Suzano (-2,97%).

Considerando a desaceleração do IPCA nos últimos meses, a expectativa para o Copom da quarta-feira, em parte, é de manutenção da Selic em 14,75%, mas há quem pense que a taxa básica de juros possa ser elevada em 25 pontos-base, o que a colocaria em 15%. De qualquer forma, o ciclo de alta de juros está perto de sua conclusão, na avaliação do mercado a partir dos sinais emitidos pelo BC, seja no comunicado, seja na ata da mais recente reunião – o que recolocará, mais adiante, o debate sobre o momento em que as taxas poderão começar a cair.

Ainda assim, ao se analisar a conjuntura econômica desde a última reunião do Copom, e os impactos da política monetária e comercial, “é crucial observar que o cenário internacional permanece incerto: países continuam negociando condições tarifárias com o Departamento de Comércio americano, sem a garantia de grandes avanços”, aponta Roberto Simioni, economista-chefe da Blue3 Investimentos.

“A inflação de curto prazo continua pressionada, principalmente nos setores de serviços e bens industrializados, refletindo efeitos do câmbio e do setor alimentício”, acrescenta o economista, observando também que os dados ainda indicam que “o mercado de trabalho e a atividade econômica permanecem dinâmicos, embora com sinais de moderação no crescimento”.

“Está dividido para o mercado: atividade ainda está relativamente aquecida, o que prejudica a tese de que os juros possam já ter chegado ao fim do ciclo de alta, mas o que se tem na mesa, mesmo, é manutenção da Selic amanhã ou mais um aumento de 0,25 ponto porcentual”, diz Ian Lopes, especialista da Valor Investimentos.

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