Tarifas tiveram impacto especialmente relevante nos preços de insumos nos EUA, diz Livro Bege

A edição de agosto do Livro Bege do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), publicada nesta quarta-feira, 3, apontou que a inflação nos Estados Unidos segue pressionada por custos de insumos e tarifas, com sinais de que a tendência pode se intensificar. Segundo o documento, “dez distritos caracterizaram o crescimento dos preços como moderado ou modesto”, mas outros dois relataram forte crescimento nos preços de insumos, “superando o crescimento moderado ou modesto dos preços de venda”.

O documento destacou que quase todos os distritos notaram aumentos de preços relacionados a tarifas, afetando especialmente insumos, além de custos crescentes em seguros, serviços públicos e tecnologia. A dificuldade das empresas em repassar integralmente esses aumentos também foi ressaltada. “Enquanto algumas empresas relataram repassar totalmente os aumentos de custos aos clientes, em quase todos os distritos algumas empresas descreveram pelo menos certa hesitação em elevar preços, citando sensibilidade dos consumidores, falta de poder de precificação e medo de perder negócios”, diz o texto.

Em alguns casos, a concorrência tem até forçado cortes de preços. O Livro Bege registrou que, em distritos como Cleveland e Minneapolis, empresas relataram estar “sob pressão para reduzir preços devido à concorrência, apesar do aumento nos custos de insumos”.

Ainda assim, a expectativa predominante é de continuidade da pressão inflacionária. “A maioria dos distritos relatou que suas empresas esperavam que os aumentos de preços continuassem nos próximos meses”, afirmou o Fed, acrescentando que em três regiões avaliadas “o ritmo desses aumentos deve se acelerar ainda mais”.

Atividade

O Livro Bege do Federal Reserve de agosto destacou ainda que a maioria dos doze distritos relatou “pouca ou nenhuma mudança na atividade econômica”, enquanto apenas quatro reportaram “crescimento modesto”. O documento narrou sinais de fragilidade no consumo, ao mesmo tempo em que setores específicos mostraram fôlego, sobretudo os ligados a construção de data centers e infraestrutura relacionada.

O consumo aparece como ponto sensível. Em todos os distritos, os contatos apontaram gastos do consumidor estáveis ou em queda, “pois, para muitas famílias, os salários não acompanhavam a alta dos preços”. A incerteza econômica e o impacto das tarifas também foram citados como fatores negativos. Em Nova York, os consumidores estavam sendo pressionados pelo aumento dos custos de seguros, serviços públicos e outras despesas.

Para tentar atrair clientes, os setores de varejo e hospitalidade “ofereceram promoções e descontos”, medidas que ajudaram a sustentar a demanda doméstica, mas não foram suficientes para compensar a queda de turistas internacionais. O setor automotivo, por sua vez, registrou vendas “estáveis a ligeiramente maiores”, com alta na procura por peças e serviços para manutenção de veículos mais antigos.

A indústria reagiu com ajustes em suas cadeias de suprimento, privilegiando fornecedores locais quando possível e ampliando o uso de automação para reduzir custos. O impulso para adotar inteligência artificial (IA) também explica em parte o “surto de construção de data centers”, uma rara área de força no mercado imobiliário comercial, segundo os distritos da Filadélfia, Cleveland e Chicago. Já Atlanta e Kansas City observaram aumento na demanda de energia provocado por esses centros.

No geral, o Fed destacou que o sentimento permanece dividido: “a maioria das empresas relatou pouca ou nenhuma mudança no otimismo ou expressou expectativas divergentes” sobre os próximos passos da economia.

Mercado de trabalho

O Livro Bege de agosto do Federal Reserve mostrou ainda que o mercado de trabalho nos Estados Unidos perdeu fôlego, refletindo menor disposição das empresas em contratar e mudanças estruturais geradas pela automação. O relatório apontou que onze distritos descreveram “pouca ou nenhuma mudança líquida” nos níveis gerais de emprego, enquanto um distrito relatou uma queda modesta.

A cautela das empresas apareceu com força: sete distritos observaram que as empresas estavam hesitantes em contratar trabalhadores devido à demanda mais fraca ou à incerteza. Em paralelo, dois distritos relataram aumento nas demissões, enquanto outros mencionaram cortes de pessoal por atrito, “em parte estimulada por políticas de retorno ao escritório e, em parte, facilitada por maior automação, incluindo novas ferramentas de inteligência artificial (IA)”.

Esse cenário levou a um aumento na procura por vagas. “A maioria dos distritos mencionou aumento no número de pessoas procurando emprego”, observou o Fed. Ao mesmo tempo, o documento chamou atenção para a redução na oferta de mão de obra imigrante, que afeta especialmente a construção civil em grandes centros. Nova York, Richmond, St. Louis e São Francisco destacaram “o impacto na indústria da construção”.

Sobre os salários, a pressão foi contida. “Metade dos distritos descreveu crescimento modesto dos salários, enquanto a maioria dos demais relatou expansão moderada”, registrou o Livro Bege. Apenas dois distritos observaram pouca ou nenhuma mudança nos salários.

Deixe um comentário