O presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, alertou para riscos negativos para o mercado de trabalho nos Estados Unidos, em discurso no seminário de Jackson Hole, nesta sexta-feira. De acordo com ele, o equilíbrio dos riscos parece estar mudando.
“Em termos dos objetivos do duplo mandato do Fed, o mercado de trabalho permanece próximo do máximo emprego, e a inflação, embora ainda um pouco elevada, diminuiu consideravelmente em relação aos picos pós-pandemia”, disse ele, durante suas palavras iniciais no simpósio de Jackson Hole, que acontece na região montanhosa de Wyoming, nos Estados Unidos.
Powell destacou que a economia norte-americana enfrenta novos desafios neste ano, mencionando como exemplos as novas políticas comercial e imigratória do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. “A política de imigração mais rígida levou a uma desaceleração abrupta no crescimento da força de trabalho”, afirmou.
Segundo ele, a longo prazo, mudanças nas políticas fiscais, de gastos e regulatórias também podem ter implicações importantes para o crescimento econômico e a produtividade. “Há uma incerteza significativa sobre onde todas essas políticas eventualmente se estabelecerão e quais serão seus efeitos duradouros na economia”, avaliou.
O presidente do Fed avaliou ainda que mudanças nas políticas comerciais e de imigração estão afetando tanto a demanda quanto a oferta. “Nesse ambiente, distinguir desenvolvimentos cíclicos de desenvolvimentos de tendência, ou estruturais, é difícil”, avaliou.
Na sua visão, essa distinção é “crítica”. Isso porque a política monetária pode trabalhar para estabilizar flutuações cíclicas, mas pode “fazer pouco” para alterar mudanças estruturais, explicou Powell.
Desaceleração de empregos em julho bem maior do que se avaliava há apenas um mês
O presidente do Federal Reserve avaliou que a desaceleração no mercado de trabalho dos Estados Unidos em julho foi “bem maior” do que as previsões apontavam um mês atrás.
A criação de vagas nos EUA desacelerou para uma média de apenas 35.000 por mês nos últimos três meses, abaixo dos 168.000 por mês durante 2024, conforme ele. “Essa desaceleração é muito maior do que a avaliada apenas um mês atrás, pois os números anteriores de maio e junho foram revisados substancialmente para baixo”, disse, durante discurso no simpósio de Jackson Hole, nesta sexta-feira.
Apesar disso, para Powell, não parece que a desaceleração no crescimento do emprego tenha aberto uma “grande margem de folga” no mercado de trabalho. “É algo que queremos evitar”, disse.
Na sua visão, a taxa de desemprego, embora tenha subido em julho, para 4,2%, está em um “nível historicamente baixo” e tem se mantido amplamente estável. Enquanto isso, outros indicadores das condições do mercado de trabalho também mudaram pouco ou suavizaram apenas modestamente, avaliou. “De fato, o crescimento da força de trabalho desacelerou consideravelmente este ano com a queda acentuada na imigração, e a taxa de participação da força de trabalho diminuiu nos últimos meses”, acrescentou.
Powell afirmou que embora o mercado de trabalho nos EUA pareça estar em equilíbrio, é um “tipo curioso de equilíbrio” que resulta de uma desaceleração acentuada tanto na oferta quanto na demanda por trabalhadores. “Essa situação incomum sugere que os riscos de queda para o emprego estão aumentando”, alertou.
Segundo ele, se esses riscos se materializarem, podem desencadear uma onda de demissões acentuada e aumento do desemprego na maior economia do mundo.
É a oitava e última vez que ele fala no seminário de Jackson Hoje, já que passa o bastão da chefia do Fed no próximo ano. Com o tema ‘Mercados de Trabalho em Transição: Demografia, Produtividade e Política Macroeconômica’, o evento chega a sua 48ª edição, promovido pelo Fed de Kansas City até o sábado, dia 23.