Sinal de apoio de Bolsonaro a Tarcísio ofusca tensão externa e taxas caem

Os juros futuros encerraram a sexta-feira, 13, em queda até os vencimentos intermediários, enquanto as taxas longas fecharam praticamente estáveis. O mercado se descolou à tarde das tensões externas, priorizando a sinalização de um possível apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro à candidatura do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, à Presidência em 2026.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 fechou em 14,840%, e 14,863% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2027 caiu de 14,21% para 14,17%. O DI para janeiro de 2029 encerrou com taxa de 13,53%, de 13,55%. No balanço da semana marcada pelo IPCA no piso das estimativas, todas as taxas recuaram, apesar da piora de percepção de risco político e fiscal.

O mercado já amanheceu sob o impacto do ataque de Israel ontem à noite a instalações nucleares do Irã, o que levou o petróleo a disparar 10% durante a madrugada. Ao longo da manhã, a commodity desacelerou o ritmo de alta para 5%, mas a o avanço voltou a ganhar força à tarde com a resposta dos iranianos – foi identificado um míssil lançado a partir do Iêmen em direção ao território israelense.

Em meio às tensões geopolíticas e com o impasse sobre o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) no pano de fundo, os trechos curtos e intermediários rondavam a estabilidade, enquanto os vencimentos longos subiam. À tarde, houve uma mudança de cenário. Mesmo com a piora no exterior, as taxas curtas se firmaram em baixa e as longas zeraram a alta, após a Broadcast publicar a notícia apurada pelo Estadão de que Bolsonaro sinalizou a Tarcísio disposição em apoiá-lo como candidato a presidente em 2026 em uma chapa que teria como vice a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL).

Tarcísio tem sido apontado pelas pesquisa de intenção de votos como o nome mais competitivo para enfrentar o presidente Lula numa possível tentativa de reeleição, sendo um candidato bem visto pelo mercado por seu perfil liberal e de linha econômica mais ortodoxa. Ao mesmo tempo, os recentes levantamentos têm mostrado perda acelerada da popularidade de Lula.

Desse modo, a percepção sobre o cenário eleitoral acabou por suavizar, ao menos na ponta longa, a pressão vinda do fiscal e do ambiente externo, ambos apontando grande aumento de incerteza no curto prazo.

O diretor de Investimentos da Azimut Wealth Management, Leonardo Monoli, considera que os prêmios da curva de juros já são bem elevados e o termômetro do risco geopolítico para os mercados é o petróleo. “A guerra teria de atingir por exemplo a estrutura de petróleo do Irã e daí haveria uma confusão maior, e até também algum posicionamento mais duro de chineses e dos russos, que não houve até agora”, avalia. Um ataque às estruturas de petróleo iraniano, diz, abriria “um gap de produção”, o que seria um problema.

Para Monoli, se a situação se agravar e o preço do petróleo “explodir”, “vamos deixar de ter só um ruído e vai passar a ter um problema, inclusive para o Banco Central, de inflação, etc. que é a última derivada da situação”. Ele destaca que as apostas para o Copom da próxima semana estão divididas, com a curva projetando nesta tarde probabilidade de 56% e 44% para alta de 25 pontos-base e estabilidade, respectivamente. “É um ajuste fino. O mais importante agora vai ser quanto tempo vai precisar ficar nesse patamar”, afirma.

Ibovespa

Nos ombros de Petrobras (ON +2,13%, PN +2,46%), o Ibovespa mostrou certa resiliência ao dia de aversão a risco na sessão global – da Ásia à Europa e aos Estados Unidos, com perdas em geral acima de 1% – na esteira do ataque israelense ao Irã, considerado a princípio sem precedentes por alguns comentadores. Em Nova York, Dow Jones caiu 1,79%, S&P 500, 1,13%, e Nasdaq, 1,30%.

“Em Wall Street, o índice de volatilidade VIX chegou a saltar mais de 20%, com a forte aversão a risco. E o petróleo chegou a subir mais de 10% em meio a temores de que o conflito afete o fornecimento global da commodity. Ainda que as variações tenham se amenizado após relatos de que os ataques não atingiram campos petrolíferos, a volatilidade persiste”, diz Christian Iarussi, economista e sócio da The Hill Capital.

Aqui, o Ibovespa cedeu apenas 0,43%, aos 137.212,63 pontos, entre mínima de 136.585,90 e máxima de 137.799,95, quase correspondente à abertura (137.799,54). O giro financeiro foi de R$ 22,7 bilhões nesta sexta-feira. Na semana, o índice da B3 avançou 0,82%, tendo cedido terreno nos três intervalos precedentes, no agregado iniciado em 19 de maio. No mês de junho, oscila agora levemente ao positivo (+0,14%), com ganho de 14,07% no ano.

Foco dos mercados nesta sexta-feira, a ofensiva israelense foi direcionada à cúpula da Guarda Revolucionária, unidade de elite das Forças Armadas e o poder, de fato, por trás do regime dos aiatolás. Analistas apontam que a estratégia de Israel parece ser a de tirar de cena homens fortes do sistema de segurança que ampara a teocracia, de forma a criar a chance de um vácuo de poder que, no limite, poderia resultar na queda de Ali Khamenei, o Líder Supremo do país desde 1989.

Nessa linha de raciocínio, o ministro israelense de Assuntos da Diáspora, Amichai Chikli, compartilhou nesta sexta uma foto com Reza Pahlevi, um líder da oposição iraniana e ex-príncipe herdeiro do país. Na postagem, feita na rede social X, o ministro escreveu “em breve em Teerã”. Pahlevi vive no exílio e, nos últimos dias, vem fazendo postagens sobre eventual troca de poder no Irã. O regime dos Xás, aliado histórico do Ocidente, foi derrubado por uma insurgência interna em 1979, que trouxe do exílio o aiatolá Khomeini, substituído por Khamenei após sua morte.

Na mesma linha, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, divulgou um pronunciamento endereçado ao povo do Irã, em meio aos ataques mútuos entre os países. No vídeo, ele diz que mais ações contra o regime iraniano estão a caminho. E exortou a população local a se juntar ao objetivo de derrubar o governo do país persa. “À medida que alcançamos nosso objetivo, também estamos abrindo caminho para que vocês alcancem sua liberdade”, acrescentou.

Em meio ao cenário de uma crise longa entre duas grandes forças militares do Oriente Médio, o petróleo subiu 7% em Londres e Nova York, amparando a progressão de Petrobras na sessão da B3 – o que contribuiu para mitigar o efeito negativo de outros pesos-pesados do índice, como Vale (ON -1,33%) e de parte da ações de grandes bancos, como Itaú (PN -1,20%) e Bradesco (ON -1,19%, PN -1,15%).

Na ponta perdedora do Ibovespa, CVC (-8,33%), Magazine Luiza (-7,07%), Usiminas (-5,92%), RD Saúde (-5,06%) e Minerva (-4,33%). No lado oposto, além das duas ações de Petrobras, apareceram Suzano (+2,19%), PetroReconcavo (+2,71%) e Prio (+1,76%) – as duas últimas do setor de petróleo e gás. “Suzano também foi destaque de alta após o Goldman Sachs elevar a recomendação da ação para compra”, destaca João Paulo Fonseca, head de renda variável da HCI Advisors.

A primeira reação do governo americano ao ataque israelense não veio do presidente Donald Trump, mas do secretário de Estado, Marco Rubio. Ele enfatizou que os Estados Unidos “não estão envolvidos” e que a preocupação central da gestão republicana era proteger as forças americanas na região. Os EUA agora estão realocando recursos militares, incluindo navios, no Oriente Médio, buscando se proteger contra possível retaliação do Irã.

Por sua vez, Khamenei afirmou nesta sexta que forças armadas de seu país “agirão com força e empobrecerão o regime sionista, que não escapará ileso deste crime”. Em discurso televisionado após os ataques de Israel e de ações retaliatórias iranianas, Khamenei disse que o “povo iraniano pode ter certeza de que não haverá trégua” na resposta.

Em outro desdobramento, o porta-voz do exército israelense (IDF), Nadav Shoshani, confirmou que Israel realizou ataques contra a usina nuclear de Isfahan, que fica 340 quilômetros ao sul de Teerã. Segundo Shoshani, os ataques são complementos às operações realizadas mais cedo contra a usina de Natanz, a maior do Irã e na qual foi detectada contaminação nuclear, segundo a Organização de Energia Atômica do Irã.

“Dia negativo com a retomada do risco geopolítico no Oriente Médio de ontem para hoje, com efeito em especial para commodities como o petróleo e o gás. Mas o Ibovespa resistiu bem, com o efeito sobre o petróleo e as ações de Petrobras. Na semana que vem, com o reinício da agenda, que inclui a decisão do Copom sobre a Selic, na quarta-feira, a situação fiscal doméstica deve voltar a ganhar atenção”, diz Rodrigo Ashikawa, economista da Principal Asset Management no Brasil.

A escalada nas tensões entre Irã e Israel pode levar os preços do petróleo acima de US$ 80, o que significaria mais alta para o dólar, segundo relatório do ING divulgado nesta sexta. o banco holandês afirma que já era provável que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) mantivesse as taxas de juros em espera até o terceiro trimestre – “e os últimos acontecimentos apenas reforçam isso”, acrescenta o ING.

“Se as tensões se transformarem em um conflito mais amplo e os preços do petróleo subirem ainda mais, deve haver mais espaço para a alta do dólar, que já está fortemente subvalorizado no curto prazo”, ressalta o relatório.

Nesse contexto, o mercado está mais cauteloso quanto ao desempenho das ações no curtíssimo prazo, mostra o Termômetro Broadcast Bolsa desta sexta-feira. Entre os participantes, metade (50%) acredita em estabilidade para o Ibovespa na próxima semana e apenas 16,67% projetam alta. Para os demais 33,33%, o índice terá uma semana de perdas. No Termômetro anterior, as estimativas estavam divididas, com fatias de 33,33% cada para alta, baixa e variação neutra.

Dólar

Após apresentar alta firme pela manhã e se aproximar do nível de R$ 5,60, com a aversão ao risco provocada pelo conflito entre Israel e Irã, o dólar perdeu força no mercado local ao longo da tarde e fechou praticamente estável nesta sexta-feira, 13, na contramão do comportamento da moeda norte-americana no exterior.

A recuperação do real se deu em dois estágios. Primeiro, houve um movimento mais técnico de ajustes e realização de lucros, embalado em parte pela valorização adicional do petróleo, para mais de 7%, com a escalada dos atritos no Oriente Médio. Em um segundo momento, o dólar desceu mais um degrau e se firmou em terreno negativo, descendo até R$ 5,5309 na mínima da sessão.

Operadores atribuíram esse segundo movimento à informação apurada pelo Estadão de que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) sinalizou ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), disposição em apoiá-lo como candidato a presidente na eleição de 2026 em uma chapa que teria como vice a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL).

É corrente a leitura entre operadores e analistas de que investidores já começaram a operar de olhos nas eleições de 2026, especialmente em razão da perda da popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A crença é a de que um candidato mais à direita no espectro político faria um ajuste estrutural nas contas públicas, o que beneficiaria ativos locais. A reação contrária do Congresso e dos setores produtivo e financeiro à Medida Provisória do governo e ao decreto do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) atestariam a deterioração do capital político de Lula.

No fim do dia, o dólar à vista era cotado a R$ 5,5417 (-0,02%). A moeda norte-americana encerra a semana com queda de 0,50%, o que leva as perdas acumuladas no mês a 3,11%. Em 2025, o dólar apresenta desvalorização de 10,33% em relação ao real, que tem o melhor desempenho nesse período entre as divisas latino-americanas.

O economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni, afirma que a esticada mais forte do dólar pela manhã foi uma reação natural às incertezas provocadas pelo ataque de Israel ao Irã. “Em seguida, o mercado deu uma acalmada, corrigindo parte dos excessos. Tecnicamente, o avanço do petróleo tende a trazer um pouco mais de capital para o Brasil, e o real pode ter surfado isso”, afirma Velloni, acrescentando que a questão fiscal, com o imbróglio envolvendo o IOF, pode uma hora acabar respingando na moeda brasileira.

À tarde, uma coalização de 20 frentes parlamentares ligadas a diferentes setores produtivos divulgou nesta sexta-feira, 13, um manifesto contra a medida provisória com alternativas para amenizar a alta do IOF. Segundo apurou o Broadcast Político (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), o texto deve ser endossado por mais apoios nos próximos dias, tanto de setores quanto de parlamentares, já que a Coalizão das Frentes Parlamentares dos Setores Produtivos ainda está coletando assinaturas de confederações e mais partidos. A ideia da coalizão é se juntar na próxima terça-feira, 17, em um grande ato no Salão Azul, para pressionar o presidente do Congresso a devolver a MP.

O gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, afirma que, embora a reação negativa à tentativa do governo de aumentar impostos comprometa o esforço de elevar as receitas e lance dúvidas sobre o cumprimento das metas fiscais, o real pode até se apreciar ainda mais se não houver uma grande onda de aversão ao risco no exterior.

“Não dá para ficar comprado em dólar com taxa Selic em 14,75% e podendo chegar a 15%. Ninguém aguenta sustentar uma posição com um custo de carregamento desse tamanho”, afirma Galhardo, referindo-se à possibilidade de o Comitê de Política Monetária (Copom) elevar a taxa básica de juros em 0,25 ponto porcentual na próxima semana, para 15% ao ano.

No exterior, o índice DXY – termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes, apresentou alta moderada e operava na casa dos 98,200 pontos, após máxima aos 98,586 pontos. Os preços do petróleo dispararam e encerraram o dia com ganhos de mais de 7%.

Diferentemente do que era costumeiro em episódios de aversão ao risco, investidores não correram para buscar abrigo nas Treasuries. Pelo contrário. As vendas dos papéis fizeram as taxas subirem, em parte refletindo as preocupações com os impactos inflacionários provocados pelas tensões geopolíticas.

“Chama a atenção o fato de que o dólar teve uma reação modesta ao aumento dos riscos, com o DXY subindo apenas cerca de 0,5%, o que deve aumentar a percepção de erosão de seu papel como porto seguro”, afirma o economista Vladimir Caramaschi, sócio-fundador da +Ideas Consultoria Econômica.

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