A frota de motocicletas no Brasil teve um crescimento de 42% na última década e, atualmente, beira as 36 milhões de unidades, de acordo com dados da Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran). Só neste ano, o setor de motos deve bater recorde com a venda de 2,1 milhões de unidades. Esse número comprova que as motos se firmaram como opção de mobilidade no País.
Entre os diversos fatores para esse sucesso do modal, os especialistas destacam o baixo custo de aquisição e manutenção, na comparação com os automóveis, a economia de combustível, a deficiência do transporte público em muitas regiões, além, é claro, de ser uma ferramenta essencial de trabalho e geração de renda para milhões de brasileiros.
Nesse cenário, uma política de descarbonização da frota nacional passa, necessariamente, pelas motos e outros veículos de duas rodas. Entretanto, a venda de motos elétricas ainda engatinha no Brasil. Até outubro deste ano, foram emplacadas 7.133 unidades, segundo levantamento da Fenabrave, federação que reúne os distribuidores de veículos do País. Embora represente aumento de 20,5% em relação ao mesmo período do ano passado, o volume ainda é considerado baixo. Ainda mais quando comparado às mais de 1,8 milhão de motos emplacadas nos dez primeiros meses deste ano.
Apesar do pequeno volume, as motos elétricas estão ganhando alguns nichos de mercado, acredita o presidente da Fenabrave, Arcelio Junior. “Notamos que são motos para usos muito específicos e, normalmente, em rotas de quilometragem reduzidas, como segurança em condomínios e outros usos”, comenta o executivo. Entre os outros usos estão, principalmente, a logística e as entregas de última milha.
E-DELIVERY. Se as motos elétricas ainda não conquistaram o consumidor comum, já estão seduzindo muitos entregadores e empresas de delivery. Atraídos, principalmente, pela questão financeira. Afinal, reduzem os custos operacionais com combustível e manutenção na proporção de 30% a 60% quando comparado às motos de combustão interna.
Uma das empresas que se destaca nesse novo nicho é a Vammo. Além de alugar motos elétricas diretamente aos entregadores, a startup, fundada em 2023, oferece estações de recarga própria para facilitar a vida desses profissionais.
Com mais de mil motos locadas e atuação ainda restrita na Grande São Paulo, a Vammo também monta motos elétricas em Manaus (AM) e, recentemente, captou US$ 45 milhões em uma rodada de investimentos liderada pelo Ecosystem Integrity Fund (EIF), fundo de investimento em tecnologias limpas de São Francisco, nos Estados Unidos. “Acredito que as motos e os entregadores são o caminho para facilitar a eletrificação no Brasil e na América Latina. Afinal, eles querem economizar e temos o objetivo de reduzir a emissão de carbono”, diz Blaustein.
Já a 99, em parceria com a Riba Brasil, especializada em soluções de descarbonização para entregas de última milha, aproveita a realização da COP-30 no Brasil para oferecer o aluguel de motos elétricas em Belém. A iniciativa conta com 300 unidades para locação pelos motociclistas parceiros da plataforma na capital paraense.
Parte da Aliança pela Mobilidade Sustentável, a ação busca reduzir os custos operacionais dos entregadores parceiros, ao mesmo tempo em que contribui para a diminuição da emissão de poluentes. De acordo com estimativas da empresa, a cada 10 mil quilômetros percorridos pelos condutores com motos elétricas reduz-se cerca de 1 tonelada de CO2 emitido.
INVESTIMENTOS. Em setembro passado, em reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), executivos da 99 e da gigante chinesa DiDi anunciaram um pacote de investimentos de R$ 6 bilhões no setor de entregas no Brasil, com destaque para programas de acesso a motos e bicicletas elétricas para entregadores.
Além de um programa de financiamento e aluguel de motos elétricas com condições especiais, que deve beneficiar até 600 mil entregadores nos próximos três a cinco anos, a 99 anunciou uma parceria estratégica com a Yadea, líder global na fabricação de veículos elétricos de duas rodas que se instalou no Brasil em maio deste ano. A colaboração visa o desenvolvimento de um modelo elétrico adaptado às dinâmicas das cidades brasileiras.
“Estamos investindo para que os entregadores brasileiros tenham acesso às soluções mais modernas e sustentáveis do mundo, ampliando suas oportunidades de renda e apoiando a transição para veículos elétricos”, disse, à época, o fundador e CEO da controladora da 99, DiDi Global Inc, Will Cheng.
Seguindo a mesma linha, o iFood e a YvY Capital se uniram para acelerar a eletromobilidade no Brasil em março deste ano. O iFood foi o primeiro investidor âncora do Fundo FIP YvY Fábrica de Negócios, com um aporte inicial de US$ 7,5 milhões.
“As motos elétricas ainda têm uma produção muito baixa e um custo elevado para os entregadores. É preciso fomentar a infraestrutura de recarga e padronização no segmento”, explica Luana Ozemela, CSO e vice-presidente de Impacto e Sustentabilidade do iFood.
A expectativa da empresa é que, até 2035, o fundo tenha capacidade de produzir e comercializar 600 mil motos elétricas por ano, com preços acessíveis e competitivos, beneficiando entregadores e outros parceiros do setor, além de contribuir para a evolução da mobilidade urbana.


