A Polícia Civil de São Paulo concluiu, nesta quinta-feira, 4, o inquérito sobre o desaparecimento da estudante trans Carmen de Oliveira, da Unesp de Ilha Solteira. O policial militar da reserva Roberto Carlos de Oliveira e Marcos Yuri Amorim, então namorado de Carmen e suposto amante de Oliveira, estão presos.
A dupla foi indiciada por feminicídio, ocultação de cadáver e fraude processual. A reportagem não conseguiu contato com as defesas de Amorim e Oliveira. O inquérito policial foi remetido ao Poder Judiciário, informou a Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP-SP).
Carmen de Oliveira Alves desapareceu em 10 de junho, em Ilha Solteira, no interior de São Paulo, e a polícia acredita que ela tenha sido vítima de feminicídio dois dias depois, em 12 de junho. O corpo dela ainda não foi encontrado. Carmen cursava o último ano de Zootecnia no campus da Unesp em Ilha Solteira.
Marcos Yuri e o policial militar estão presos preventivamente desde 10 de julho. Nenhum dos dois confessa o crime, mas ambos atribuem ao outro a responsabilidade pelo desaparecimento e a morte de Carmen. Eles mantinham um relacionamento afetivo e também financeiro, já que o PM da reserva sustentava Amorim, numa espécie de relação de “sugar daddy”.
De acordo com o delegado Miguel Rocha Neto, que conduziu as investigações, a dupla teria planejado a morte de Carmen devido às pressões que ela vinha fazendo para que Yuri assumisse o relacionamento. Segundo a investigação, ela preparava um dossiê contra o rapaz, que teria cometido furtos, e o ameaçava de denúncia caso não a assumisse publicamente.
Versões
No dia 6 de agosto, o PM da reserva, Roberto Carlos de Oliveira, disse em depoimento que Marcos Yuri teria matado Carmen e que ele próprio não teve participação no crime. Chegou a apresentar um álibi, relatando que estaria em uma loja com outra pessoa no momento em que a estudante foi assassinada.
Após as declarações de Oliveira, Amorim resolveu apresentar sua versão. Até então em silêncio, afirmava que só falaria em juízo, mas mudou de postura depois do depoimento do policial.
Aos investigadores, o ex-namorado de Carmen contou que estava no sítio com a jovem, quando ambos brigaram e ela o ameaçou com uma faca. O rapaz então a empurrou, fazendo com que Carmen caísse, batesse a cabeça e desmaiasse.
Sem saber o que fazer, Amorim disse ter ligado para Oliveira e pedido ajuda. O PM da reserva foi até o local, encontrou Carmen ainda inconsciente e, segundo o depoimento de Amorim, bateu na cabeça dela com uma barra de ferro. Em seguida, com uma faca, Oliveira teria cortado o pescoço da vítima.
Os dois arrastaram o corpo até o curral, e dali Oliveira teria descartado o cadáver – sem que Amorim explicasse onde. O corpo de Carmen nunca foi localizado e segue sendo procurado.
Esclarecimentos
Durante as investigações, foram encontrados o celular da vítima e restos mortais que passaram por perícia. A polícia também solicitou exames de confronto genético para verificar se o sangue encontrado em uma lona pertencia a Carmen.