As investigações da Polícia Federal apontam que dois executivos da Tirreno, empresa de fachada usada pelo Banco Master para captar R$ 12,2 bilhões do Banco de Brasília (BRB), também foram sócios de uma fintech suspensa do Pix por ter recebido recursos desviados no incidente de segurança que atingiu a C&M Software, em julho.
Segundo relatório da PF, ao qual o Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) teve acesso, André Felipe de Oliveira Seixas Maia (ex-funcionário do Master e diretor da Tirreno) e Henrique Souza e Silva Peretto (apontado como responsável por integralizar o capital social da empresa) foram sócios da empresa Sillium Consultoria em Negócios, Finanças e Meios de Pagamento – hoje, chamada Nuoro Pay.
André Seixas Maia e Henrique Peretto chegaram a ser presos temporariamente pela PF, mas acabaram soltos na noite de quinta-feira, 20.
Como mostrou a reportagem, a Nuoro foi uma das três primeiras fintechs suspensas cautelarmente do Pix após o ataque, por suspeitas de ter recebido uma parcela dos recursos desviados da C&M. Até hoje, a fintech continua excluída do rol de participantes do sistema de pagamentos instantâneos.
Nenhum dos dois era sócio da fintech no momento em que a suspensão ocorreu, em julho deste ano. André Seixas Maia participou da Nuoro, ainda como Sillium, em três oportunidades: de fevereiro de 2014 a outubro de 2022; de janeiro de 2024 a novembro de 2024; e de dezembro de 2024 a abril de 2025. Henrique Peretto foi sócio da Sillium entre dezembro de 2011 e fevereiro de 2025.
A suspeita
Segundo a PF, a Tirreno era uma empresa de fachada usada pelo Master em um esquema. O banco teria firmado um contrato para comprar créditos consignados inexistentes da empresa, e cedido esses mesmos contratos ao BRB por R$ 12,2 bilhões. O objetivo era garantir a liquidez necessária para honrar o vencimento de Certificados de Depósito Bancário (CDBs).
A Tirreno foi criada com o nome “SX 016 Empreendimentos e Participações” em novembro de 2024, pelo empresário Daniel Moreira Bezerra, que disponibiliza empresas de prateleira. Ela foi transferida para André Seixas Maia, ex-funcionário do Master, e rebatizada Tirreno em dezembro do ano passado, mesmo mês em que a parceria como o Master foi firmada.
Sócio de André Seixas Maia em outras empresas, Henrique Peretto é apontado por ter integralizado o capital social da empresa, elevando-o de R$ 100 para R$ 30 milhões.
A corporação destaca, no relatório, que a Tirreno cedeu R$ 6,7 bilhões ao banco de janeiro a junho de 2025. Esses mesmos contratos foram repassados pelo Master ao BRB, por R$ 12,2 bilhões. As operações acabaram canceladas por falta de apresentação de documentos, mas a parceria foi mantida pelo Master.
Citando investigação conduzida pelo BC, a PF destaca que há evidências de que os créditos supostamente originados pela Tirreno não existiam. Além disso, o único relacionamento financeiro da empresa era com o próprio banco Master, e não foram identificadas movimentações da Tirreno em sistemas de Ted, Pix, boletos ou câmbio.
A PF também aponta que André Seixas Maia e Henrique Paretto são sócios em outra empresa, a Cartos. Correspondentes dessa empresa teriam celebrado todos os créditos intermediados pela Tirreno. “Há que se considerar, portanto, a forte hipótese de que a Tirreno serviu como blindagem para atuação criminosa da Sociedade de Crédito Direto Cartos, a verdadeira originadora dos créditos cedidos ao Banco Master para alcançar os recursos do BRB”, diz o relatório.


