No maior nível desde 8/7, Ibovespa sobe 1,04% e volta aos 139 mil, com bancos

Alternando ganhos e perdas nas últimas sessões, o Ibovespa retomou nesta quarta-feira, 27, os 139 mil pontos no fechamento, em alta de 1,04%, aos 139.205,81 – mais uma vez no maior nível desde 8 de julho, data que antecede o tarifaço dos EUA. De lá para cá, o índice da B3 tem evitado uma correção mais aguda, que o colocasse abaixo dos 132 mil pontos. Ao mesmo tempo, enfrentou dificuldades para retomar o patamar de 139 mil, tocado hoje no intradia e também no fechamento, buscando gradualmente reaproximar-se da máxima histórica dos 141 mil pontos, de 4 de julho.

Nesta quarta, oscilou dos 137.455,72 até os 139.280,98 pontos na máxima do dia, saindo de abertura aos 137.772,79 pontos. O giro voltou a se enfraquecer, moderado a R$ 18,3 bilhões. Na semana, o Ibovespa avança 0,90% e, no mês, 4,61%. No ano, sobe 15,73%.

“A temporada de resultados corporativos praticamente chegou ao fim, com destaque hoje para Nvidia, após o fechamento de Nova York, um papel que é referência para todo o setor de IA, e do qual sempre se tem grandes expectativas. Os principais mercados globais, à exceção de China, estão em máximas históricas, o que reforça o call para diversificação quando se considera a perspectiva de juros mais baixos nos Estados Unidos. Mas ainda há ruídos por aqui, seja sobre o tarifaço ou mesmo fatores domésticos indefinidos – como a questão da compensação da isenção do IR – que justificam certa cautela, e esse giro acomodado” na B3 com Selic ainda alta, observa Naio Ino, gestor de renda variável na Western Asset.

“O mercado engatou à tarde um certo otimismo que há algum tempo não se via. Os dados do Caged – após a relativa decepção de ontem com a deflação menor do que se antecipava para o IPCA-15 de agosto – vieram na direção de um mercado de trabalho menos aquecido, com geração de vagas abaixo do esperado, o que contribui para realimentar a expectativa por corte da Selic, quem sabe, ainda este ano”, diz Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos. Ele acrescenta que a fala desta quarta-feira do presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, também foi recebida pelo mercado em tom relativamente moderado, sem sobressaltos, o que estimulou o apetite por ações na B3.

“O Caged abaixo do esperado, com menor geração de emprego e renda, implica desaceleração econômica e, possivelmente, a antecipação da redução de juros antes do que o mercado vinha precificando”, diz Rubens Cittadin, operador de renda variável da Manchester Investimentos, destacando o patamar ainda restritivo para a taxa básica de juros, a Selic, em 15% ao ano, que compete com a renda variável como opção entre os investidores, domésticos e de fora.

Por sua vez, Moliterno, da Veedha, destaca em especial a reação do setor financeiro à tarde, que levou o Ibovespa às máximas do dia na reta final da sessão, embora com volume financeiro ainda enfraquecido.

Entre os maiores bancos, as variações no fechamento desta quarta-feira ficaram entre +0,14% (Bradesco ON) e +1,68% (Itaú PN). Em dia de prosseguimento na recuperação do petróleo, Petrobras ON subiu 0,58% e a PN, 0,76%, com Vale ON ficando perto da estabilidade, mas no negativo (-0,05%) no fechamento. Na ponta ganhadora do Ibovespa, Braskem (+5,79%), São Martinho (+4,61%) e Vibra (+4,09%). No lado oposto, Auren (-1,66%), Embraer (-1,15%) e Telefônica Brasil (-1,04%).

Dólar

O dólar perdeu força ao longo da tarde no mercado local, em sintonia com o comportamento da moeda norte-americana no exterior, e encerrou a sessão desta quarta-feira, 27, em baixa moderada, na casa de R$ 5,41. A alta do petróleo e fluxo estrangeiro teriam contribuído para a apreciação do real, segundo operadores.

Apesar da agenda doméstica carregada, as atenções ficaram nos atritos entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano). Espera-se uma batalha judicial em torno da intenção de Trump de remover Lisa Cook da diretoria do Fed.

O aumento da percepção de risco abriu a curva de juros americana e impulsionou o dólar pela manhã, em relação a divisas fortes e emergentes. Por aqui, o dólar à vista engatou alta e chegou a superar R$ 5,45, com máxima de R$ 5,4580.

Sem gatilho aparente, parte do estresse se dissipou. A taxa da T-bond de 30 anos virou para o campo negativo e o índice DXY – que mede o desempenho do dólar ante seis divisas fortes – passou a rondar a estabilidade.

No mercado local, a moeda trocou de sinal à tarde e operou em queda. Após mínima de R$ 5,4151, fechou em baixa de 0,32%, a R$ 5,4170. A divisa apresenta recuo de 3,28% em agosto e de 12,35% no ano.

O economista André Perfeito afirma ser evidente um suporte gráfico em torno de R$ 5,30 e que o dólar tende a subir ao se aproximar dele. Perfeito aposta, porém, no rompimento desse piso nos próximos meses.

Na avaliação dele, o real deve continuar a se apreciar porque a “tendência geral” é de um dólar globalmente mais fraco, em razão da necessidade de ajuste nas contas externas americanas. Além disso, o Fed deve promover em breve afrouxamento monetário.

“O Banco Central (BC) brasileiro está sendo extremamente cauteloso em anunciar cortes, logo o diferencial de juros permanece favorável para o Brasil”, afirma Perfeito.

O presidente do BC, Gabriel Galípolo, disse que a economia segue resiliente, mas que há sinais de transmissão da política monetária para a atividade por meio do crédito. Ele ponderou, contudo, que a Selic deve ficar restritiva por período prolongado para levar a inflação à meta.

Dados de crédito e do mercado de trabalho divulgados nesta quarta sugerem moderação da economia. O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) registrou 129.775 vagas em julho, abaixo da mediana da pesquisa Projeções Broadcast, de 135 mil.

O real se aprecia apesar da saída de recursos, o que sugere desmonte de posições defensivas no mercado de derivativos. Os juros elevados tornam custoso o carregamento de posições na moeda americana.

À tarde, o BC informou que o fluxo cambial em agosto (até o dia 22) está negativo em US$ 1,833 bilhão, devido a retirada líquida de US$ 1,814 bilhão pelo canal financeiro. No ano, o saldo é negativo em US$ 16,674 bilhões.

O departamento econômico do Itaú Unibanco avalia que as contas externas são um “vento de proa” para a economia, pois o déficit em transações correntes atingiu 3,5% do Produto Interno Bruto (PIB) nos 12 meses encerrados em julho.

Durante conversa com jornalistas, em São Paulo, a economista Julia Gottlieb disse que, não fosse um déficit em conta corrente tão elevado, o câmbio poderia estar mais apreciado que o intervalo entre R$ 5,40 e R$ 5,50, projeção oficial do banco para o fim de 2025 e 2026.

Considerando apenas o enfraquecimento global do dólar e o diferencial de juros entre Brasil e EUA, a taxa poderia rodar entre R$ 5,20 e R$ 5,38, observou a economista.

*Conteúdo gerado com auxílio de Inteligência Artificial, revisado e editado pela Redação do Broadcast

Juros

Os juros futuros percorreram a segunda etapa do pregão desta quarta-feira, 27, em sua maior parte, rondando os ajustes do dia anterior. Algumas taxas chegaram a tocar mínimas intradia pouco antes da divulgação do Caged de julho – que trouxe uma criação de vagas abaixo da esperada pelo mercado -, mas o alívio maior não se sustentou. Uma análise mais aprofundada dos dados sugere que o mercado de trabalho não perdeu tanto fôlego, ao mesmo tempo em que o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, deu indicações ainda conservadoras para a política monetária durante evento da Fenabrave.

No fechamento, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 oscilou de 13,977% no ajuste de ontem para 13,965%. O DI para janeiro de 2028 passou de 13,297% no ajuste a 13,28%. O DI de janeiro de 2029 marcou 13,245%, de 13,244% no ajuste anterior. Já o DI de janeiro de 2031 subiu ligeiramente, de 13,586% no ajuste antecedente para 13,61%.

O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostrou que 129.775 vagas com carteira assinada foram abertas em julho, ante expectativa de 135 mil postos de trabalho, segundo a mediana do Projeções Broadcast. De acordo com cálculos com ajuste sazonal do Bradesco, no entanto, o saldo trimestral do Caged continua acima de 100 mil – patamar suficiente para manter a taxa de desemprego em estabilidade.

Por volta do mesmo horário da divulgação do Caged, Galípolo participou do 33º Congresso e Expo Fenabrave, em São Paulo. Em sua fala, o presidente do BC afirmou que a renda tem se mostrado resiliente e que o País segue com o desemprego nas mínimas históricas, reforçou que a taxa de juros deve permanecer em patamar restritivo por período prolongado, e que as expectativas de mercado e projeções do próprio BC ainda indicam que a convergência da inflação à meta ocorre em ritmo lento.

Segundo o banqueiro central, o Comitê de Política Monetária (Copom) não pode se “deixar levar por emoções” ou por um ou outro dado pontual na hora de tomar suas decisões. “O BC não pode se emocionar. A velocidade e a função de reação do BC precisa ser diferente da do mercado”, comentou.

Para Tiago Hansen, diretor de gestão e economista da Alphawave Capital, era de se esperar que, com o fechamento da curva de juros americana e a desaceleração no ritmo de abertura de vagas evidenciada pelo Caged, os DIs tivessem evolução mais favorável na sessão desta quarta.

“Mas o Galípolo teve um discurso mais ‘hawkish’, ao afirmar que a inflação está convergindo à meta de forma mais lenta, e que o Copom entende que o aperto monetário se dará por tempo mais longo. Ele descartou corte de juros no curto prazo, o que fez com que as taxas se inclinassem”, disse Hansen.

Economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi avalia que, mais do que as falas do comandante do BC, as taxas futuras refletiram hoje uma percepção de que o Caged, mesmo com um ‘headline’ mais fraco, trouxe dados ainda positivos.

“Houve maior criação de empregos em setores cíclicos, especialmente construção civil e manufatura”, observa Borsoi. “A criação de empregos no comércio, construção civil, manufatura e serviços somou 110,7 mil empregos, acima de junho (107,5 mil)”, destaca.

Para o economista Rodolfo Margato, da XP Investimentos, o Caged apontou um mercado ainda aquecido, devido ao elevado volume de admissões e demissões. Na avaliação da XP, a taxa de desocupação vai continuar abaixo do seu nível neutro – aquele que não acelera nem desacelera a inflação – por período “bastante prolongado”.

*Com Francisco Carlos de Assis e Daniel Tozzi

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