Na semana, Ibovespa avança quase 2% e dólar se valoriza 0,26%

Após ter fechado a quinta-feira, 15, pela primeira vez no patamar de 139 mil pontos, o Ibovespa teve nesta sexta-feira, 16, de leve ajuste, em baixa de 0,11%, aos 139.187,39 pontos, relativamente imune à forte correção em Banco do Brasil (ON -12,69%) posterior ao balanço trimestral, que não levou consigo o setor financeiro, de grande peso no índice e majoritariamente em alta na sessão. Na semana, a referência da B3 subiu 1,96% e, no mês, acumula 3,05% de alta nesta abertura de segunda quinzena. No ano, o Ibovespa avança agora 15,72%.

O giro financeiro nesta sexta-feira de vencimento de opções sobre ações foi a R$ 29,2 bilhões.

Foi o sexto avanço semanal consecutivo para o Ibovespa, igualando em extensão a série vista na passagem de outubro para novembro de 2023.

A mudança das normas contábeis a que os bancos brasileiros devem obedecer criou uma “tempestade perfeita” para o Banco do Brasil, que viu o lucro cair no primeiro trimestre deste ano e colocou as projeções para o ano (guidances) sob revisão, reporta o jornalista Matheus Piovesana, do Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado. As novas regras, que são mais rigorosas em determinados pontos relacionados à inadimplência, chegaram em um momento em que o agro, uma das principais carteiras do banco, vive uma piora na qualidade de ativos, intensificada por pedidos de recuperação judicial.

Entre as ações das maiores instituições, contudo, apenas a de Santander (Unit -1,05%) fechou o dia no campo negativo, além de BB. Destaque para alta de 0,58% em Itaú PN, o principal papel do segmento, e para ganho de 0,75% em Bradesco ON. O fechamento foi misto para Petrobras (ON -0,12%, PN +0,47%) e de alta marginal para Vale (ON +0,07%). Na ponta ganhadora do Ibovespa, Marfrig (+21,35%), Petz (+7,18%) e CVC (+5,86%). No lado oposto, vieram, depois de Banco do Brasil, as ações de Yduqs (-3,63%) e Azul (-2,63%).

“O destaque negativo foi mesmo Banco do Brasil após a divulgação de um lucro líquido de R$ 7,374 bilhões no primeiro trimestre, redução de 20,7% em comparação ao mesmo período de 2024, além da suspensão das projeções para o ano”, diz Inácio Alves, analista da Melver. Por outro lado, ele destaca também o forte avanço das ações de Marfrig com o anúncio da fusão com a BRF para formar a MBRF Global Foods Company. “A nova empresa terá presença global em 117 países, com marcas consolidadas como Sadia, Perdigão e Qualy, e a expectativa de sinergias anuais de até R$ 805 milhões, o que trouxe um fôlego para o setor”, acrescenta.

Para Bruna Centeno, economista, sócia e advisor na Blue3 Investimentos, o Ibovespa teve um dia em boa parte condicionado pelo setor financeiro – com agenda macro relativamente esvaziada neste fechamento de semana, apesar de certa retomada de temores em relação a possíveis movimentos do governo com relação ao fiscal, em sessão marcada por alguma cautela no exterior.

Nesse contexto, o mercado financeiro está um pouco mais cauteloso sobre o desempenho das ações no curtíssimo prazo, segundo o Termômetro Broadcast Bolsa desta sexta-feira. As expectativas de alta e de queda para o Ibovespa na semana que vem têm, cada uma, fatia de 40% entre os participantes. Os demais 20% esperam estabilidade. Na edição anterior, 50% esperavam avanço; 16,67%, estabilidade; e 33,33%, baixa.

Dólar

Invertendo o comportamento visto pela manhã, o dólar se firmou em baixa ante o real na segunda etapa do pregão. O movimento foi atribuído a ajustes – considerando que a divisa americana teve forte valorização na véspera pelo desconforto fiscal -, com desmonte de posições defensivas no mercado futuro e eventual entrada de fluxo estrangeiro. A alta acima de 1% dos contratos futuros de petróleo também proporcionou alívio, apesar do minério de ferro em baixa.

O dólar à vista fechou em queda de 0,16%, a R$ 5,6695. Na semana, contudo, a divisa americana se valorizou 0,26%, com o fiscal doméstico voltando para o radar dos investidores, após trégua nas tarifas por 90 dias entre Estados Unidos e China no fim de semana. Assim, a alta do real no mês foi diluída para 0,13%.

Após máxima intradia a R$ 5,71, o dólar à vista passou a operar perto da estabilidade no início da tarde e, depois, renovou mínima a R$ 5,6615. “Só consigo imaginar que a melhora do câmbio seja uma devolução da piora de ontem e a melhora no petróleo”, comenta o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi.

Os contratos futuros de petróleo recuperaram parte das perdas expressivas registradas nas duas sessões anteriores. Ao longo da semana acumularam ganhos modestos, impulsionados pelo alívio trazido pela trégua comercial entre Estados Unidos e China, que prevaleceu sobre as preocupações relacionadas ao excesso de oferta global da commodity.

Na véspera, o real teve o pior desempenho entre as moedas mais líquidas, penalizado por relatos de que o governo estuda a adoção de um pacote de medidas para impulsionar a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, inclusive de um reajuste no Bolsa Família a partir de 2026.

Ainda ontem autoridades em Brasília negaram os relatos, com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, inclusive dizendo que “não há demanda de espaço fiscal para projetos novos. O orçamento do ano que vem não está sendo discutido. Estamos discutindo o cumprimento da meta fiscal”.

Com isso, “o mercado acaba zerando uma ou outra posição desconfortável, por conta da proteção rápida que tiveram que fazer ontem, a fim de evitar prejuízo”, segundo o gerente de câmbio da Treviso, Reginaldo Galhardo, mencionando a possibilidade de entrada de fluxo estrangeiro nesta sexta-feira.

Apesar da leve recuperação do real, participantes do mercado financeiro frisam que o destaque desta semana ficou para o retorno do risco fiscal. Na próxima quinta-feira, o mercado tende a acompanhar com atenção o relatório bimestral de avaliação de receitas e despesas.

Juros

Os juros futuros fecharam a sessão desta sexta-feira, 16, em queda firme, com a melhora do câmbio e apesar da indefinição de rumo dos rendimentos dos Treasuries. Também esteve no radar a reunião do diretor de Política Monetária do Banco Central, Nilton David, com instituições do mercado financeiro. Num dia sem vetores fortes a conduzir os negócios, o mercado devolveu parte do estresse de ontem provocado pelas preocupações fiscais, num ambiente relativamente hoje tranquilo no exterior.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 fechou em 14,740%, de 14,814% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2027 cedeu de 14,18% para 14,00%. A taxa do DI para janeiro de 2029 caiu a 13,60% (13,74% ontem).

Na semana em que a ata do Copom reforçou a percepção de que o ciclo de altas da Selic terminou em maio, as taxas curtas acumularam leve queda e as longas subiram, afetadas ainda pela piora na percepção do risco para as contas públicas e pela esticada das taxas dos Treasuries.

As taxas já caíam pela manhã, mas limitadas pela alta do dólar. No início da tarde, a moeda virou para baixo, renovando mínimas na casa dos R$ 5,66 e abrindo caminho para os DIs acentuarem o ritmo de baixa. No meio da tarde o movimento ganhou novo impulso, especialmente no miolo da curva, que chegou a fechar mais de 20 pontos-base, empurrando a taxa do DI para janeiro de 2027 novamente para 14% nas mínimas do dia. Este vencimento capta as perspectivas para a Selic no horizonte da política monetária e o fim do mandato do presidente Lula.

O comportamento do câmbio isoladamente não conseguiria promover um ajuste tão expressivo nas taxas, uma vez que o noticiário da tarde foi relativamente morno para a renda fixa e os Treasuries operavam sem rumo definido. Nas mesas de operação, profissionais chamavam a atenção para a agenda dos diretores do Banco Central, em especial a de Nilton David, que recebeu vários economistas da Itaú Asset nesta tarde. Pela manhã, houve reunião com o Santander.

A economista-chefe da CM Capital, Carla Argenta, viu a dinâmica do mercado mais influenciada pela falta de novidades no exterior que pudessem agravar as preocupações com a guerra comercial e também ausência de notícias que pudessem confirmar os receios de medidas fiscais expansionistas, que atormentaram ontem o mercado, como o possível reajuste no valor do Bolsa Família.

No exterior, a curva dos Treasuries abriu com o aumento da expectativa de inflação do consumidor na pesquisa da Universidade de Michigan, mas acabou não afetando as taxas locais. Outro fator de possível estresse, mas que também foi ignorado, foram os possíveis desdobramentos da identificação do primeiro foco de gripe aviária em um granja comercial no Rio Grande do Sul, que já provocou suspensão temporária da exportação de frango pela União Europeia.

“É preciso esperar para mensurar o tamanho do problema e, por isso, ainda não chega a afetar a perspectiva para a inflação. Riscos inflacionários que transbordam para o mercado de juros não estão neste tema”, afirma a economista, citando como exemplo a inflação de serviços.

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