Com giro a R$ 24,5 bilhões em dia de vencimento de opções sobre ações, o Ibovespa chegou a piorar no meio da tarde, mas moderou o ajuste em direção ao fechamento, em baixa de 0,37%, conservando o nível de 127 mil pontos pela terceira sessão – hoje, aos 127.128,06. Na semana, teve perda de 0,85%, após avanço de 2,89% no intervalo precedente. Dessa forma, colheu o segundo revés em sete semanas completas desde o início do ano. Em 2025, avança 5,69% e, em fevereiro, sustenta alta de 0,79%.
“O Ibovespa veio ontem de leves ganhos amparado em Vale e na valorização das commodities – com alta então no papel da mineradora acima de 3%. Hoje, o índice mais do que devolveu o avanço do dia anterior, com agenda esvaziada e fala do ministro Haddad que, pela manhã, não causou maior impacto sobre a precificação dos ativos”, diz Bruna Centeno, economista e advisor da Blue3 Investimentos.
Ela acrescenta que, lá fora, o dia foi de baixa para os rendimentos dos Treasuries e, também, para os índices de ações em Nova York, após recuo no índice de confiança do consumidor nos EUA, que contribuiu para reforçar a cautela dos investidores nesta última sessão da semana.
Aqui, no meio da tarde, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou abertura de crédito extraordinário de R$ 4 bilhões para linhas do Plano Safra, e criticou a demora do Congresso em aprovar o Orçamento de 2025. Segundo ele, os recursos serão acomodados dentro dos limites do arcabouço fiscal quando o orçamento for aprovado. Em paralelo, no exterior, a identificação de um novo coronavírus na China, com potencial pandêmico segundo avaliação científica, piorou o sentimento do mercado – e deu impulso às ações de empresas farmacêuticas em Nova York.
Por lá, contudo, os principais índices fecharam em baixa de 1,69% (Dow Jones), 1,71% (S&P 500) e 2,20% (Nasdaq). À tarde, a retomada da retórica protecionista por Trump, ao reiterar que anunciará em 2 de abril tarifas de 25% sobre carros importados, não contribuiu para o apetite por ativos de risco nesta sexta-feira. Por aqui, o dólar encerrou o dia bem mais perto da máxima (R$ 5,7362) do que da mínima (R$ 5,6943) da sessão, em alta de 0,46%, a R$ 5,7306. Na B3, o Ibovespa tocou mínima a 126.483,02 pontos, em queda então de 0,88%.
No quadro mais amplo, porém, a especialista da Blue3 destaca a tendência de prosseguimento do ajuste de baixa do dólar frente a moedas de referência e também ao real, em meio à expectativa de entendimento entre EUA e China que evite escalada protecionista que era sinalizada pelo presidente americano, Donald Trump, desde antes da posse em 20 de janeiro. Assim, embora a moeda americana tenha avançado 0,60% frente ao real na semana, ainda acumula perda de 1,82% no mês.
Na B3, as expectativas para o comportamento das ações no curtíssimo prazo permaneceram inalteradas no Termômetro Broadcast Bolsa desta sexta-feira. Como na última edição, entre os participantes, as previsões de alta, queda e estabilidade para o Ibovespa na próxima semana permaneceram com fatia de 33,33%, cada.
Nesta sexta-feira, o desempenho das ações de primeira linha foi negativo, à exceção da principal delas, Vale ON, que fechou na máxima do dia, a R$ 58,16, em alta de 0,73%, após ganho de 3,68% ontem – na semana, o papel da mineradora avançou 4,47%, colocando a alta do mês a 7,37%.
Em dia negativo para as cotações do petróleo, Petrobras ON e PN cederam hoje 0,56% e 0,29%, ainda retendo ganho de 3,45% e de 2,54% na semana, pela ordem. A semana, por outro lado, foi negativa para as ações de grandes bancos, com destaque para Bradesco, que cedeu 2,07% (ON) e 2,87% (PN) no intervalo. Nesta sexta-feira, as perdas entre as maiores instituições ficaram entre 0,07% (Banco do Brasil ON) e 0,92% (Bradesco PN), moderando a baixa em direção ao fechamento – o que contribuiu para a relativa melhora do Ibovespa, assim como o desempenho de Vale.
Na ponta ganhadora do Ibovespa na sessão, destaque para Automob (+3,85%), CVC (+1,66%), WEG (+1,63%) e Marfrig (+1,62%). No lado oposto, Lojas Renner (-14,00%), que divulgou balanço trimestral na noite anterior, à frente de PetroReconcavo (-4,78%), Embraer (-3,67%) e Localiza (-3,66%).
Dólar
Após operar ao redor da estabilidade na maior parte da sessão, descolado do sinal predominante de alta da moeda americana lá fora, o dólar ganhou força nas últimas horas de negócios e não apenas se firmou em terreno positivo como ultrapassou a linha de R$ 5,73.
O gatilho principal para o escorregão do real teria sido uma piora adicional na percepção de risco no exterior após a notícia da descoberta de um novo coronavírus com potencial pandêmico na China. Houve também declarações de Donald Trump sobre tarifas de importação de 25% sobre carros a partir de abril.
As bolsas em Nova York e as taxas dos Treasuries aprofundaram o ritmo de queda, ao passo que as cotações do petróleo caíram quase 3%. Divisas emergentes e de países exportadores de commodities acentuaram as perdas.
“O dólar vinha numa calmaria pela manhã, com baixa liquidez, mas a piora da aversão ao risco lá fora acabou respigando por aqui no fim do dia”, afirma o gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo. “Nos últimos dias, o mercado local estava meio anestesiado com o diferencial de juros, o leilão de linha do Banco Central e as captações lá fora de empresas e do Tesouro”.
Com máxima a R$ 5,7362, o dólar à vista terminou o pregão em alta de 0,46%, a R$ 5,7306. A divisa encerra a semana com ganhos de 0,60%, mas ainda acumula perdas de 1,82% em fevereiro, após ter recuado 5,56% em janeiro. No ano, o dólar acumula desvalorização de 7,27% em relação ao real, que apresenta o segundo melhor desempenho entre as principais moedas globais em 2025, atrás apenas do rublo russo.
Apesar da predominância do quadro externo na dinâmica do mercado cambial, operadores citaram também certo desconforto com o quadro fiscal após declarações do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre abertura de crédito extraordinário de R$ 4 bilhões para restabelecer linhas do Plano Safra que haviam sido interrompidas pelo atraso na aprovação do Orçamento de 2025.
A abertura de crédito extraordinário vai ser realizada por meio de Medida Provisória, atendendo ao pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva por uma “solução imediata ao problema”, e obedecer aos limites impostos pelo arcabouço fiscal, prometeu Haddad.
“O real está muito valorizado e o dólar deve voltar para a casa de R$ 5,95, porque não há expectativa de melhora no quadro fiscal. Não há disposição do governo em cortar gastos públicos”, afirma o economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni.
Lá fora, o índice DXY – que mede o desempenho da moeda americana em relação a uma cesta de seis divisas fortes – subiu cerca de 0,20%, para a casa dos 106,600 pontos, graças sobretudo aos ganhos do dólar em relação ao euro. O iene voltou a se fortalecer com a perspectiva de aperto monetário no Japão.
As taxas dos Treasuries caíram em bloco, com o retorno da T-note de 10 anos tocando 4,40% nas mínimas. Dados de serviços nos EUA e de confiança decepcionaram, sugerindo desaceleração da atividade. De outro lado, houve piora das expectativas de inflação, segundo pesquisa da Universidade de Michigan.
Ferramenta da CME Group mostrou aumento das expectativas de dois cortes de 25 pontos-base na taxa básica americana pelo Federal Reserve neste ano, de cerca de 30% para pouco mais de 33%. Autoridades do Fed reiteraram nos últimos dias que a política monetária está “bem posicionada” e que não há pressa em retomar o processo de redução de juros, até por conta das incertezas provocadas pelas medidas do governo Trump.
Juros
Os juros futuros renovaram mínimas por toda a curva no período da tarde, acompanhando o fechamento das taxas dos Treasuries – sob receio de uma nova pandemia – e também com o amparo de uma queda superior a 2% do petróleo, que em tese suscita menor pressão inflacionária no curto prazo. Operadores mencionam ainda ajustes após leilões do Tesouro expressivos na semana. As taxas dos contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) apontam que o mercado precifica um pico da Selic em 15% na tarde desta sexta-feira, que deve ser alcançada na reunião de junho do Comitê de Política Monetária (Copom).
A taxa de depósito interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 caiu para 14,515%, de 14,650%, e a para janeiro de 2027 cedeu para 14,375%, de 14,621% no ajuste anterior. O vencimento para janeiro de 2029 recuou para 14,295%, de 14,460% ontem no ajuste.
No balanço semanal, o DI para janeiro de 2026 recuou 25 pontos-base, o para janeiro de 2027 cedeu 34 pontos e o para janeiro de 2029, 15 pontos em relação aos fechamentos da última sexta-feira.
“O grande driver é internacional, os Treasuries acabam ditando o ritmo de todas as curvas de juros ao redor do mundo”, resume o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez. As quedas nos rendimentos dos Treasuries se acentuaram nesta tarde após relatos de que um laboratório da China identificou um novo coronavírus com potencial pandêmico.
O economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, destaca que o petróleo acentuou as perdas à tarde, o que embute expectativa de menor pressão inflacionária no curto prazo, ajudando assim a queda dos DIs mais próximos.
O fechamento da curva também se dá por fatores técnicos após o Tesouro Nacional fechar a semana com uma das maiores emissões de títulos públicos da história, considerando os volumes financeiros e risco (DV01) para o mercado. “O Tesouro colocou muito volume de prefixados ontem, e parte disso é drenado pelos DIs”, afirma Sanchez, da Ativa.
Pela manhã o mercado acompanhou as falas do diretor de Política Monetária do Banco Central, Nilton David, que também contribuíram para uma queda dos juros. “Achei o tom dovish. Ao falar que se necessário o BC vai ajustar os juros e não repetir aquela frase de segunda-feira, de que ‘um pouquinho acima do que seria em tempos normais’, dá a entender que o BC já tá próximo de terminar o trabalho de subir os juros”, avalia Borsoi, da Nova Futura.