Na onda do ‘true crime’, série da Record revisita casos que abalaram o Brasil

“Todo crime guarda um segredo.” Foi partindo dessa certeza que a repórter e produtora Thais Furlan mergulhou de cabeça em casos de crimes reais que abalaram o Brasil, mas ainda continuam sem respostas. No ano passado, ela topou assumir o comando de “Doc Investigação”, série documental que abordou crimes como o assassinato de Duda Dourado e Tarsila Gusmão e o serial killer de Goiânia.

Na segunda-feira passada, dia 14, a série ganhou uma segunda temporada que revisita histórias como o “Caso Gil Rugai” e o “Caso Eugênio Chipkevitch”. O episódio de estreia, porém, leva informações inéditas a um dos casos que mais ganharam repercussão nacional nos últimos anos: o da morte do menino Henry Borel.

Pela primeira vez, os suspeitos do crime, Monique Medeiros, mãe do menino, e o ex-vereador Jairo Souza Santos Júnior, conhecido como Jairinho, padrasto de Henry, concederam uma entrevista dentro da prisão. “[Eles] não falaram com mais ninguém. E disseram que não vão falar com mais ninguém”, detalha Thais.

Foram dois anos tentando uma conversa com os acusados de terem matado Henry, à época com 4 anos. O objetivo era tratar do caso logo na primeira temporada de Doc Investigação. Sem sucesso.

“Não dava para fazer esse true crime sem ouvir a versão dos dois. […] Eu não fiz o episódio, porque eu achava pouco entregar para o telespectador”, diz a repórter. O sim veio depois da promessa de não oferecer uma tese de defesa, mas um “espaço equilibrado para que cada um conte a sua verdade”.

“Para a nossa surpresa, a entrevista, principalmente com a Monique, é uma entrevista reveladora. Não podemos adiantar o que ela vai falar, mas vem com furo de reportagem”, revela Thais. “Ela muda boa parte do que ela contou até agora. Ela ia só contar no júri, e ela resolveu contar [para a série]. A entrevista com ela está muito quente. É bombástica.”

Duas versões, sem sensacionalismo

O formato da produção foi criado por Antônio Guerreiro, vice-presidente de jornalismo da Record, que desejava fazer a primeira série documental da TV brasileira em 2023. Esse tom documental acompanharia a equipe de Doc Investigação desde o início da produção, evitando o sensacionalismo com o qual muitos dos casos de crimes reais são tratados.

O formato de documentário é ainda mais aprofundado, segundo Thais, na versão que estreia na plataforma de streaming PlayPlus. A versão que estreia na segunda às 22h45 é “mais televisiva”.

A repórter detalha, porém, que, independente da versão, o cuidado é o mesmo: conversar com todos os envolvidos no caso, dos familiares das vítimas aos suspeitos do crime. Uma das precauções, por exemplo, é sempre contactar as vítimas em primeiro lugar.

“Não levamos ao ar casos em que assassinos queiram falar, em que advogados queiram falar, em que promotores queiram falar, mas que a família queira esquecer dessa história”, diz Thais. “No processo de apuração, começamos com 30, 40 casos para fecharmos em sete.”

Interesse dos brasileiros por ‘true crime’

A maioria dos casos abordados na série segue fora do eixo Rio-São Paulo. Por ser uma repórter baseada na capital paulista, Thais detalha que esse fato proporciona que chegue a cada história sem uma visão predefinida. Segundo ela, é lendo processos que a jornalista mais descobre detalhes nunca revelados.

“Precisamos contar isso de uma maneira muito detalhada para que as pessoas consigam entender a relevância do documentário”, diz. Explorar cada um dos crimes, conforme a repórter, também é uma forma de jogar luz às falhas do sistema de segurança brasileiro.

É justamente a insegurança no Brasil o que, para Thais, atrai tanta atenção a casos de crimes reais no País. “É o cotidiano da vida das pessoas. Vivemos em um País em que segurança pública é um dos nossos maiores problemas. Todo mundo convive com isso. É um interesse natural das pessoas querer entender essa criminalidade, querer entender onde estão esses assassinos em potencial.”

A repórter também diz que outro fator é a curiosidade provocada pelos casos. “É instigante. As pessoas acabam transformando como se fosse uma novela da vida real. Acompanhando aquilo passo a passo, o crime passo a passo”, comenta.

Ao todo, são sete episódios da segunda temporada de Doc Investigação. Além de Henry Borel, outros casos retratados na produção serão: “Jogador Daniel; o Serial Killer de Contagem”; “A Chacina de Passo Fundo”; “O Médico Predador (Eugênio Chipkevitch)”; “A Morte de Victória Natalini” e o “Caso Gil Rugai”.

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