Muro do Bope, fila de corpos, embates de Castro e Lula: pontos da operação no Rio

A megaoperação contra o Comando Vermelho (CV) nos complexos do Alemão e da Penha, na zona norte do Rio de Janeiro, foi a mais letal da história do Estado. A ação, deflagrada na terça-feira, 28, mobilizou as polícias Civil e Militar para cumprir 180 mandados de prisão e busca e apreensão. O resultado foi 121 mortos, entre eles quatro policiais, além do bloqueio de vias e suspensão de serviços em várias regiões da cidade.

Segundo o governo do Rio, o objetivo era conter o avanço da facção e prender lideranças criminosas. O governador Cláudio Castro (PL) classificou a operação como “um sucesso”. Já a Defensoria Pública do Estado (DPU) apontou indícios de ilegalidades e violações de direitos durante a ação.

A ofensiva foi planejada com base em uma denúncia do Ministério Público do Rio de Janeiro, que descrevia a justiça paralela e as execuções promovidas pelo Comando Vermelho e identificava Edgar Alves de Andrade (Doca ou Urso) e Pedro Paulo Guedes (Pedro Bala) como líderes do grupo.

Polícia encurralou criminosos em área de mata

Parte central da ação ocorreu com a montagem do “Muro do Bope”, uma linha de contenção usada para encurralar os criminosos na área de mata entre os dois complexos onde, segundo a polícia, ocorreram a maioria dos confrontos e mortes.

O saldo da operação inclui 113 presos, sendo 33 de outros Estados, e 118 armas apreendidas – 90 fuzis e 26 pistolas. “A grande maioria dos confrontos ocorreu na mata. Aqueles que quiseram se render, se renderam”, disse o secretário da PM, Marcelo de Menezes.

Uma contagem preliminar apontava para um total de 64 mortos na operação, número que já ultrapassava o que, até então, havia sido a ação policial mais letal da história do Estado, realizada no Jacarezinho, em 2021, que deixou 28 pessoas mortas.

Moradores levaram dezenas de corpos para Praça São Lucas

Durante a madrugada e a manhã de quarta-feira, 29, no entanto, moradores do complexo da Penha encontraram 72 corpos na Serra da Misericórdia, área de mata que separa as comunidades, que não faziam parte da contagem. Os corpos foram encontrados amarrados e com marcas de facadas. O Estadão presenciou ainda ao menos um corpo decapitado.

Os moradores levaram os corpos dos familiares até a Praça São Lucas, formando uma fila onde permaneceram até o início da tarde, quando foram encaminhados ao Instituto Médico-Legal (IML).

Quatro policiais foram mortos durante ação

Mais da metade das vítimas já foi identificada. O governo montou uma força-tarefa no IML Afrânio Peixoto para a necropsia. O Ministério Público acompanha o processo e vai investigar a dinâmica dos confrontos e a legalidade das mortes.

O órgão utiliza tecnologia de reconstrução digital dos corpos, ferramenta que permite registrar com precisão as lesões e auxiliar nas investigações. A Defensoria Pública, que atua no apoio aos familiares das vítimas, foi impedida de participar das perícias.

Entre os mortos estão os sargentos do Bope Cleiton Serafim Gonçalves, 42 anos, e Heber Carvalho da Fonseca, 39, além dos policiais civis Marcos Vinicius Cardoso Carvalho, 51, conhecido como Máskara, e Rodrigo Velloso Cabral, 34. Todos morreram após serem baleados em confrontos. A operação também foi a que registrou o maior número de policiais mortos no Estado desde 2007.

Castro anunciou parceria com governo Lula após embate

No campo político, a operação acirrou os embates entre o governo estadual e o federal. Castro criticou o que considerou uma falta de apoio da União na ofensiva contra as facções. Em coletiva na manhã de quarta-feira, 29, ele chegou a dizer que não ficaria “chorando por ajuda do governo federal no combate ao crime”. O Ministério da Justiça rebateu afirmando que todas as solicitações de Força Nacional foram atendidas.

Na noite de quarta, após as críticas, Castro e Lewandowski anunciaram uma parceria entre os dois governos para reforçar o combate ao crime organizado. O plano prevê o aumento do efetivo da Polícia Federal e da PRF no entorno da cidade e a integração da Força Integrada de Combate ao Crime Organizado (Ficco) e do Comitê Integrado de Investigação Financeira e Recuperação de Ativos (Cifra), criado para descapitalizar as facções criminosas.

Governadores de diferentes Estados também foram ao Rio nesta quinta-feira, 30, para firmar, junto a Castro, um “Consórcio da Paz”, com o objetivo de integrar forças operacionais e de inteligência entre algumas das unidades federativas.

Operação superou número de mortos no Jacarezinho e na Vila Cruzeiro

A operação, batizada de Contenção, superou os números de mortos de Jacarezinho (2021) e Vila Cruzeiro (2022) e se tornou a mais letal já registrada no Rio. A Organização das Nações Unidas (ONU) pediu investigação independente e reformas no modelo de policiamento após o episódio.

Três das operações mais letais do Rio desde 2007 ocorreram durante o governo de Cláudio Castro. Desde que Castro assumiu o governo, no fim de agosto de 2020, o Estado registrou 1.846 mortes em operações policiais.

Entre setembro de 2020 e outubro de 2025, foram 8.035 ações do tipo, segundo levantamento do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos (GENI), da Universidade Federal Fluminense (UFF). No ranking das operações mais letais realizadas no Rio desde 2007, entre as 11 que ocupam as primeiras posições, seis ocorreram sob a atual gestão.

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Por Redação Folha de Guarulhos.

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