Ibovespa sobe 1,5% e se reaproxima dos 140 mil pontos com impulso de Vale

O Ibovespa voltou a se aproximar dos 140 mil pontos na máxima (139.988,36) desta segunda-feira, 16, com a retomada do apetite por risco também em Nova York (EUA), apesar das hostilidades, desde a noite da última quinta-feira, entre Israel e Irã. A expectativa de que o conflito venha a ser contido – como sugerido pelo próprio presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em declarações nesta abertura de semana – fez o petróleo recuar na sessão. E dados econômicos chineses, como os de produção industrial e vendas do varejo, deram impulso ao setor metálico nesta segunda-feira, com destaque para a principal ação da carteira, Vale ON (+3,26%).

O giro financeiro ficou em R$ 22,1 bilhões na sessão. No mês, o Ibovespa avança 1,63% e, no ano, sobe 15,77%. Nesta segunda, em alta de 1,49%, aos 139.255,91 pontos, o índice não apenas colheu seu maior ganho diário desde 13 de maio (+1,76%), há pouco mais de um mês, como também esboça retomar o campo positivo, tendo permanecido em alta, ainda que moderada, em quatro das últimas cinco sessões, à exceção da correção da última sexta-feira (13) – de qualquer forma, um ajuste negativo bem mais suave do que em geral observado nos mercados de Ásia, Europa e Estados Unidos no encerramento da última semana.

O nível de fechamento, nesta segunda, foi o maior para o Ibovespa desde 27 de maio. Em Nova York, Dow Jones subiu hoje 0,75%, S&P 500, 0,94%, e Nasdaq, 1,52%. Por lá, o humor do mercado melhorou após The Wall Street Journal informar que o Irã estaria buscando retomar negociações sobre seu programa nuclear com a Casa Branca, em tentativa de diminuir o conflito militar com Israel.

Na ponta ganhadora do Ibovespa nesta segunda-feira, Magazine Luiza (+6,71%), CSN (+6,05%) e Embraer (+5,34%). No lado oposto, BRF (-2,38%), Prio (-1,82%), Marfrig (-0,71%) e Brava (-0,48%), além de Petrobras PN (-0,98%). Entre as blue chips, Petrobras chegou a mostrar desempenho misto, mas a ON também fechou em baixa, ainda que leve (-0,17%). Por outro lado, os ganhos entre os maiores bancos ficaram entre 0,97% (Santander Unit) e 2,15% (Bradesco PN) no fechamento.

“Quando petróleo sobe muito de uma hora para outra, cria alguma tensão com relação às margens de lucro e também quanto à expectativa de geração de caixa da Petrobras, o que resulta em um ajuste de curto prazo para as ações. Há uma volatilidade em relação ao papel, pelo momento de tensão de geopolítica”, diz Daniel Teles, especialista da Valor Investimentos, fazendo uma referência indireta à política de preços da estatal, desde que se abandonou a política de paridade com as cotações internacionais, quando a empresa passou a aguardar um tempo maior para que os preços internos, de refinaria, se ajustem à situação global.

Após a pressão de alta sobre os preços da commodity no encerramento da semana passada, os contratos futuros de petróleo fecharam em baixa, hoje, com o mercado atento aos próximos passos no conflito entre Israel e Irã. A escalada nas tensões nos últimos dias havia dado impulso às cotações do barril, com analistas acreditando que a marca dos US$ 100 poderia ser ultrapassada. Por sua vez, com sinalizações de que Teerã não tem a intenção de ampliar os ataques, parte dos prêmios de risco foi devolvida hoje, apontam operadores.

Assim, em Nova York, o contrato de petróleo WTI para julho fechou em baixa de US$ 1,67 (US$ 1,22), a US$ 71,77 o barril. O Brent para agosto, negociado em Londres, recuou 1,35% (US$ 1,00), a US$ 73,23 barril.

Em semana de reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), o mercado segue dividido quanto ao que correrá com a taxa básica de juros nesta quarta-feira (18): metade dos gestores multimercados projeta alta da Selic, enquanto a outra metade aposta em estabilidade. É o que mostra a mais recente edição da pesquisa Pré-Copom da XP Investimentos, que ouviu 27 gestoras com estratégias baseadas em cenários macroeconômicos entre os dias 4 e 12 de junho, reporta a jornalista Júlia Pestana, da Broadcast.

Resultado semelhante teve o levantamento do Projeções Broadcast, publicado no dia 12 de junho. A pesquisa realizada com 48 casas mostra que 27 preveem o juro básico estacionado em 14,75%, enquanto outras 21 instituições apostam em uma nova alta da Selic, de 0,25 ponto porcentual, no encontro desta semana.

Dólar

O dólar abriu a semana em queda firme no mercado local, alinhado à onda de enfraquecimento da moeda americana no exterior. A perspectiva de que o confronto entre Israel e Irã possa não se estender e ficar circunscrito entre os dois países, sem envolvimento direto dos Estados Unidos, diminuiu a aversão ao risco no exterior, abrindo espaço para recuperação de mercados acionários e divisas emergentes.

Operadores também citaram dados positivos da economia chinesa – varejo e indústria – e o possível desenlace das decisões de política monetária no Brasil e nos EUA na quarta-feira, 18, com manutenção de amplo diferencial de juros interno e externo, como pontos favoráveis ao recuo do dólar. O real apresentou o melhor desempenho entre as divisas latino-americanas. Considerando as moedas mais líquidas, ficou atrás apenas do rublo russo e do novo shekel israelense.

Com mínima a R$ 5,4856 na reta final dos negócios, o dólar à vista encerrou a sessão desta segunda-feira, 16, em queda de 1,00%, a R$ 5,4861 – menor valor de fechamento desde 7 de outubro (R$ 5,4859). Após o escorregão desta segunda, a moeda americana passa a recuar 4,08% em junho, o que leva as perdas acumuladas no ano a 11,23%.

“O mercado parece estar tirando um pouco dos ativos os prêmios de risco relacionados à guerra entre Israel e Irã. É só olhar o preço do barril do petróleo voltando um pouco”, afirma o economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima. “Além disso, os dados positivos da China acabam ajudando as moedas da América Latina, como o real.”

À tarde, o presidente dos EUA, Donald Trump, afirmou que o Irã precisa “negociar o mais rápido possível antes que seja tarde demais”. O presidente iraniano, Masoud Pezeshkian, disse que o país não busca intensificar o conflito, mas prometeu reagir a agressões israelenses. Já o ministro das Relações Exteriores de Israel, Gideon Sa’ar, disse ter comunicado à chefe da diplomacia da União Europeia, Kaja Kallas, que a ofensiva contra o Irã ainda não acabou.

Termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes, o índice DXY caía cerca de 0,05% no fim da tarde, abaixo dos 98,100 pontos, após mínima aos 97,685. A moeda americana ganhou força, contudo, em relação ao franco suíço e ao iene, o que sugere menor aversão ao risco. As cotações do petróleo recuaram, com o contrato do Brent para agosto encerrando em baixa de 1,35%, a US$ 73,23 o barril.

Entre os indicadores americanos, destaque para a queda do índice de atividade industrial Empire State, que mede as condições manufatureiras no Estado de Nova York, para -16, baixa bem superior a esperada (-5,5). Apesar das leituras benignas de inflação e de dados mostrando sinais de perda de fôlego da economia americana, a expectativa é que o Federal Reserve (Fed) não apenas anuncie manutenção da taxa básica de juros dos EUA nesta quarta-feira como reforce a postura cautelosa, indicando que não há pressa em mudar a política monetária.

Para Lima, da Western Asset, a percepção de que a desaceleração da economia americana não vai levar a uma recessão global, evitando assim um movimento de aversão ao risco, deixa investidores mais propensos a migrar investimentos dos EUA para ativos de outras regiões, o que favorece as divisas emergentes.

“O alto custo de carregamento, com os juros locais elevados, acaba potencializando esse efeito externo de queda do dólar no mercado local”, afirma Lima, para quem o Comitê de Política Monetária (Copom) deve deixar a taxa Selic inalterada em 14,75% ao ano na quarta-feira. “As expectativas de inflação estão desancoradas e nem é preciso dizer como anda o fiscal. Mas o Copom deve tentar comunicar a necessidade de deixar a taxa Selic alta por mais tempo para garantir a convergência da inflação para a meta.”

No quadro político, as atenções estão voltadas à votação ainda nesta segunda na Câmara dos Deputados do requerimento de urgência para apreciação do projeto de decreto legislativo (PDL) que derruba o decreto do governo Lula que propõe aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Fontes ouvidas pelo Broadcast Político, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, afirmaram nesta segunda que o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), recebeu interlocutores do Planalto, como a ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, e o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE).

Pela manhã, o Banco Central vendeu a oferta integral de US$ 1 bilhão em dois leilões de linha com compromisso de recompra realizados simultaneamente, contribuindo para deixar o mercado cambial irrigado. À tarde, a Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) informou que a balança comercial brasileira registrou superávit de US$ 1,215 bilhão na segunda semana de junho. No ano, o superávit acumulado é de US$ 27,539 bilhões.

Juros

Os juros futuros encerraram o dia com taxas curtas e intermediárias mostrando viés de alta e as longas em queda moderada, refletindo principalmente o compasso de espera pela decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) na quarta-feira (18). A menor aversão ao risco no exterior e alguma melhora na percepção sobre a questão da novela do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) também exerceram um pouco de influência, nos vencimentos longos.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 fechou na máxima de 14,880%, de 14,837% no ajuste de segunda-feira. A do DI para janeiro de 2027 encerrou estável em 14,16%. A do DI para janeiro de 2029 caiu de 13,52% para 13,46%, e a do DI para janeiro de 2031, de 13,66% para 13,61%.

O giro de contratos foi fraco, evidenciando a pouca disposição dos investidores em montar posições antes de uma semana pesada de eventos, com destaque para o Copom e a reunião do Federal Reserve na quarta-feira.

“A janela de informações e dados tecnicamente se fechou. Então, salvo grandes disrupções, até a deliberação de quarta-feira, tudo o que se tem de tangível já foi lançado”, afirma o estrategista-chefe da BGC Liquidez, Daniel Cunha, ao explicar a dinâmica mais contida do mercado nesta segunda-feira. Pela manhã, foi divulgado o IBC-Br de abril, que subiu 0,16%, acima da mediana das estimativas (+0,10%).

A pressão marginal de alta na ponta curta reflete o quadro de apostas para a Selic levemente pendente para um novo aperto em junho, de 25 pontos-base, que também se observa nas opções digitais na B3. Grosso modo, o mercado está dividido, com chances de 60% para uma alta de 25 pontos e de 40% para manutenção.

Cunha defende que o Copom deveria dar novo aperto de 25 pontos, que, para ele, teria um efeito residual apenas “estatisticamente”, pois na prática pode ser importante para a coordenação das expectativas dos agentes e recuperação da credibilidade da política monetária, que estaria abalada, segundo o estrategista, pelo elevado nível de desancoragem das expectativas de inflação ante a meta de 3%. “Na prática, esses 25 pontos lembram a reunião dividida de maio de 2024”, diz, recordando que essa era exatamente a diferença entre a ala que votou por um corte de 25 pontos (cinco diretores) e os quatro diretores que defenderam redução de 50 pontos-base naquele Copom. “Foi um estrago na condução das expectativas”, afirma.

Os vencimentos longos também repercutem a expectativa levemente majoritária de um Copom mais duro, com taxas em queda, além da leitura do ambiente internacional. “O exterior tirou um pouco do risco de cauda na precificação da guerra Israel-Irã e se o Copom vier mais hawkish essa ponta longa tende a ficar mais comportada”, afirma Cunha.

Apesar da escalada no conflito no fim de semana, o impacto nos mercados permanece relativamente limitado, afirma a consultoria britânica Capital Economics. “A não ser que haja alguma disrupção na infraestrutura de exportação de energia, os impactos econômicos e financeiros do conflito no quadro global provavelmente continuarão limitados”, afirma o economista Jonas Golterman. O petróleo devolveu parte dos ganhos da sexta-feira e fechou o dia em queda.

Ao mesmo tempo, o mercado mantém um olho em Brasília, dada a expectativa de votação da urgência do projeto de decreto legislativo que susta o novo decreto sobre o IOF. Governistas contam com o indicativo de que o plenário vai votar somente o requerimento de urgência nesta noite, mas não se descarta a possibilidade de derrubada do decreto.

Deixe um comentário