Ibovespa retoma os 133 mil pontos pela 1ª vez no ano e fecha em alta; dólar sobe a R$ 5,75

Descolado de Nova York, o Ibovespa retomou o nível de 133 mil pontos em fechamento pela primeira vez no ano, como ontem no maior patamar desde 2 de outubro para encerramentos de sessão. Hoje, o índice da B3 se movimentou em faixa mais ampla, dos 132.478,98 aos 133.904,38, saindo de abertura aos 132.522,18 pontos. O giro financeiro foi, nesta quinta-feira, 27, a R$ 20,8 bilhões. Na semana, o Ibovespa avança 0,61% e, no mês, acumula ganho de 8,43%. No ano, sobe 10,70%. No fechamento, o Ibovespa marcava hoje 133.148,75 pontos, em alta de 0,47%.

Na semana, o Ibovespa avança 0,61% e, no mês, acumula ganho de 8,43%. No ano, sobe 10,70%. No fechamento desta quinta, o Ibovespa marcava 133.148,75 pontos, em alta de 0,47%.

Entre as ações de primeira linha, os ganhos do dia foram puxados por Vale (ON +0,80%) e Petrobras (ON +1,02%, PN +0,75%), enquanto os grandes bancos fecharam na maioria em baixa moderada, à exceção de Santander (Unit +0,62%) e, ao fim, de Itaú (PN +0,12%). Na ponta ganhadora do Ibovespa, JBS (+5,83%), Hapvida (+5,38%), Cogna (+5,15%) e Yduqs (+4,93%). No lado oposto, Marcopolo (-4,98%), CVC (-2,58%), Vamos (-2,28%) e IRB (-2,00%).

Para Cesar Mikail, gestor de renda variável na Western Asset, desde que se iniciaram os “movimentos erráticos” do governo Trump com relação à política tarifária, tem prevalecido nas bolsas de Nova York certa apreensão com relação ao risco de uma recessão nos Estados Unidos – cautela que desencadeou uma rotação de ativos em direção a mercados emergentes e da Europa, apreciando também as respectivas moedas. “Ainda é pouco provável que uma recessão venha a ocorrer nos EUA, mas europeus e emergentes, inclusive o Brasil, e suas respectivas moedas, têm sido beneficiados nesse contexto”, ressalta.

Outro fator importante que tem sustentado fluxo estrangeiro para a B3 neste primeiro trimestre é uma melhor percepção sobre a evolução da economia chinesa, da qual o mercado brasileiro é visto como ‘proxy’ pela exposição a commodities. “Isso favorece a ‘compra de Brasil'”, pelo foco que o estrangeiro tem em ações de grande capitalização de mercado, e liquidez, como as de Vale e Petrobras, produtoras de insumos com preços formados no exterior e sensíveis à demanda da China.

Por fim, observa Mikail, há uma percepção relativamente mais equilibrada do mercado com relação ao fiscal doméstico, o que se reflete também na ponta longa da curva de juros – em ajuste de baixa, no DI, que desperta em especial o apetite do investidor doméstico pelas ações cíclicas, como as de construtoras e do setor de consumo. “Com a definição da isenção do IR para os que ganham até R$ 5 mil, não há espaço para que o governo venha a fazer muito mais, então é algo que já está no preço. Ajuste nas contas públicas, se vier, é para depois de 2026. E, no momento, o governo parece em condição difícil de popularidade para o ano que vem”, diz.

No momento, Mikail considera que 65% do ajuste em andamento na Bolsa brasileira tem relação com a realocação global de ativos a partir da correção nas bolsas dos Estados Unidos, e 25% com a visão mais favorável sobre a China. Os 10% restantes teriam relação com a percepção sobre o doméstico – fatia que tende a aumentar ao longo do tempo, à medida que se aproximar o decisivo ano de 2026.

Nesta quinta-feira, os principais índices de Nova York fecharam o dia com variações contidas, e o fim negativas, entre -0,33% (S&P 500) e -0,53% (Nasdaq). O dólar à vista subiu 0,36%, a R$ 5,7533, mas a curva do DI teve retração, embora moderada em direção ao encerramento do dia.

“Há um movimento interessante de descolamento da bolsa brasileira e da americana, com uma série de dados a corroborar isso. O valuation da bolsa americana estava muito acima das médias históricas, e o valuation da brasileira, abaixo do padrão. Outro fator era a extrema concentração das alocações para o mercado americano, muito grande em relação aos demais ativos listados no mundo, algo como 56% do total”, diz Felipe Moura, sócio e analista da Finacap Investimentos.

“Continuamos com um bom ingresso de capital estrangeiro no ano, com o rebalanceamento de carteira – essa troca de Estados Unidos por emergentes -, e o grande gatilho tem sido Trump e sua política comercial”, acrescenta Moura.

No acumulado em 2025, conforme dados disponíveis até o dia 25, o fluxo de capital externo está positivo em R$ 11,895 bilhões na B3. No mês de março, até a mesma data, houve entrada de R$ 4,371 bilhões por parte de estrangeiros, resultado de compras acumuladas de R$ 225,782 bilhões e vendas de R$ 221,411 bilhões.

Dólar

O dólar encerrou a sessão desta quinta-feira, 27, em alta moderada no mercado doméstico, na casa de R$ 5,75, em dia marcado por perdas de divisas latino-americanas na esteira do aumento de temores relacionados à escalada tarifária do governo norte-americano de Donald Trump.

O real, que costuma sofrer mais em episódios de aversão ao risco, apresentou perdas inferiores a de seus pares. Pesos colombiano e chileno amargaram desvalorização mais aguda entre as divisas da região, embora o peso mexicano tenha acentuado o ritmo queda à tarde, depois de o Banxico cortar a taxa básica em 0,50 ponto porcentual, para 9% ao ano.

Segundo operadores, os impactos da piora do ambiente global sobre o real teriam sido amenizados pela perspectiva de continuidade do aperto monetário e de permanência da taxa Selic em níveis elevados por período prolongado, após a mensagem dura do Relatório de Política Monetária (RPM) e falas do presidente do BC, Gabriel Galípolo, reforçando a busca pela meta de inflação.

Com máxima a R$ 5,7707, pela manhã, o dólar à vista fechou em alta de 0,36%, cotado a R$ 5,7533.

Foi o segundo pregão seguido de avanço da moeda norte-americana, que acumula ganhos de 0,62% em relação ao real na semana. Em março, o dólar ainda apresenta desvalorização de 2,76%.

Na quarta à noite, Trump anunciou que vai impor tarifas de 25% sobre automóveis fabricados no exterior e exportados para os EUA a partir de 3 de abril, o que aguçou as expectativas para o anúncio da tarifas recíprocas no próximo dia 2. À tarde, o primeiro-ministro do Canadá, Mark Carney, afirmou que o país vai retaliar os EUA.

“A pressão no câmbio hoje está mais relacionada ao ambiente externo de cautela com a questão tarifária nos EUA. Isso gera muita incerteza e acaba trazendo mais volatilidade para os ativos de risco”, afirma a economista-chefe do Ouribank, Cristiane Quartaroli.

Por aqui, além do RPM e do aceno de Galípolo, avalia-se que leitura abaixo do esperado do IPCA-15 de março, com alguma melhora qualitativa, não desautoriza a expectativa de pelo menos mais uma alta da taxa Selic, como sinalizado pelo Copom na reunião deste mês.

Em entrevista após a apresentação do RPM, Galípolo afirmou que a aceleração do ciclo de aperto monetário a partir de dezembro mudou a relação de “carry trade”, o que contribui para a apreciação do real ao longo deste primeiro trimestre.

“O aumento das tarifas de importação anunciadas ontem pelo presidente Trump contribui para a valorização do dólar com relação às moedas emergentes, mas não altera a visão construtiva que temos do real”, afirma o diretor de Pesquisa Econômica do Banco Pine, Cristiano Oliveira, que projeta Selic em 14,75% no fim do ciclo, com alta de 75 pontos em maio, mas admite a possibilidade de elevação também em junho.

Embora o ambiente externo seja predominante para o comportamento do real, analistas ouvidos pelo Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) nos últimos dias afirmam as medidas anunciadas recentemente pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva, que tenta recuperar a popularidade, causam desconforto entre investidores ao aumentar a percepção de risco.

A bola da vez é a surpresa com a forte demanda pelo chamado crédito consignado privado, vista como medida populista para sustentar o consumo em momento no qual o Banco Central aperta a política monetária para tentar conter a inflação. Há dúvidas também sobre a aprovação de medidas de compensação à isenção do Imposto de Renda para que ganha até R$ 5 mil por mês.

Juros

O volume menor de títulos ofertados pelo Tesouro em leilão e a inflação abaixo da esperada no IPCA-15 de março abriram espaço para que as taxas de Depósito Interfinanceiro (DI) recuassem após cinco pregões consecutivos de alta. A queda ocorre também após o Banco Central indicar que espera uma desaceleração mais intensa da atividade em 2026.

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – 15 (IPCA-15) desacelerou o ritmo de alta de 1,23% em fevereiro para 0,64% em março. A leitura ficou abaixo da mediana das projeções do mercado, de 0,68%.

Segundo Luciano Costa, economista-chefe e sócio da Monte Bravo Investimentos, o mercado reagiu favoravelmente ao indicador e à desaceleração dos núcleos de inflação na margem. Ele disse que a expectativa de desaceleração da economia trazida pelo Banco Central não é algo novo, mas lida em conjunto com a ênfase dada pelo presidente da instituição, Gabriel Galípolo, ao nível contracionista da Selic, deixa margem para debate sobre as chances de o ciclo de alta da Selic terminar na próxima reunião. A Monte Bravo espera que a taxa aumente em maio (+0,50 pp) e pare por ali, aos 14,75% ao ano, voltando a cair no início de 2026.

Guilherme Almeida, head de renda fixa da Suno Research, considera que os dados de hoje e as informações vindas do Banco Central colaboraram para a correção das taxas e da visão recente do mercado sobre a trajetória dos juros.

“O RPM corroborou o que foi colocado no comunicado e na ata. Existe uma incerteza grande em relação ao cenário externo, e no cenário doméstico a desaceleração da atividade econômica está contratada. Com o hiato negativo, a pressão inflacionária tende a diminuir”, afirmou. Na Suno, a projeção é de Selic subindo 0,75 ponto porcentual em maio e 0,25 ponto em junho, com o início dos cortes a partir de 2026.

A taxa de deposito interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 caiu para 15,100%, de 15,158% no ajuste anterior. O DI para janeiro de 2027 recuou para 15,000%, de 15,134%, e o para janeiro de 2029 fechou em queda a 14,780%, de 14,901% no ajuste de ontem.

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