Ibovespa recupera linha dos 138 mil pontos, no maior nível desde 8 de julho

O Ibovespa mirou e obteve o maior nível de fechamento desde 8 de julho, o dia anterior ao tarifaço norte-americano, de volta nesta segunda-feira, 25, à casa dos 138 mil pontos em leve alta na sessão, após o salto de 2,57% na última sexta-feira. Da mínima â máxima desta segunda-feira, o índice foi dos 137.970,63 aos 138.890,17 pontos, saindo de abertura correspondente ao ponto mais baixo da sessão. Ao fim, marcava leve ganho de 0,04%, aos 138.025,17 pontos, com giro bem fraco, a R$ 15,0 bilhões, em pregão com poucos gatilhos para os negócios além do boletim Focus, que contribuiu para recuo da curva do DI com o prosseguimento da melhora nas projeções de mercado.

Assim, com foco nas projeções domésticas, o Ibovespa estendeu muito levemente os ganhos da última sexta-feira, quando o apetite global por risco foi sustentado pelos sinais dados pelo presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, no evento anual de Jackson Hole – o que comprimiu os rendimentos na ponta curta da curva de juros, observa Roberto Simioni, economista-chefe da Blue3 Investimentos.

“A frase-chave ‘o cenário-base e o equilíbrio de riscos podem justificar ajustes’ foi interpretada como uma abertura explícita para cortes de juros, elevando a probabilidade de uma redução já em setembro” pelo Fed, aponta o economista. Contudo, acrescenta Simioni, os vértices mais longos da curva de juros dos EUA, como os títulos do Tesouro de 30 anos, mantiveram resistência, o que, na avaliação do economista, reflete “a preocupação com os riscos inflacionários de médio e longo prazo, especialmente diante da possibilidade de que cortes agressivos possam comprometer a estabilidade de preços” nos Estados Unidos.

Na B3, o dia foi misto para os grandes bancos com BB ON retornando a campo negativo, em baixa de 2,20% (na mínima do dia no fechamento), junto com o principal papel do setor, Itaú PN, que cedeu 0,51%. Entre os carros-chefes das commodities, Vale fechou pouco acima da estabilidade (+0,24%) e Petrobras avançou 0,12% na ON e 0,59% na PN. Na ponta ganhadora do Ibovespa, dois nomes do ciclo doméstico, Pão de Açúcar (+8,98%) e Magazine Luiza (+3,19%), ao lado de Eneva (+4,61%). No lado oposto, Rumo (-3,05%), RD Saúde (-3,00%) e Natura (-2,74%).

“O Ibovespa teve uma alta bem leve com mais ou menos 60% das ações no campo positivo, após ter aberto com um ganho melhor, principalmente no setor de materiais, em especial no minério de ferro. Mas Vale perdeu força ao longo do dia, com apreciação do real frente ao dólar na sessão”, diz Felipe Paletta, estrategista da EQI Research, destacando, no cenário macro, o prosseguimento nesta semana, no Boletim Focus, da reavaliação das projeções de mercado para o IPCA, em sentido de desaceleração.

“As taxas de juros em prazos médios e longos têm caído de forma relevante, o que apoia setores como os de Utilities e de consumo discricionário”, acrescenta Paletta, observando que a indicação dada por Powell na sexta-feira sobre a perspectiva para os juros americanos dá suporte, também, a expectativas de um início de ciclo de cortes da Selic possivelmente antes do que o mercado vinha precificando. “Emergentes podem surfar esses ventos mais favoráveis com relação a juros mais baixos nos Estados Unidos em breve”, acrescenta.

Para Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos, após a “euforia” da sexta-feira prevaleceu “cautela” nesta abertura de semana, com o setor financeiro em especial realizando em parte os ganhos da sessão anterior, em meio à expectativa por novos dados econômicos esta semana, como o IPCA-15. “O volume foi muito baixo nesta sessão, o que reflete a cautela e expectativa por novos dados” que deem direção aos negócios, acrescenta Moliterno.

“O dia realmente foi tímido em relação ao que se viu na sexta-feira, apesar do prosseguimento da devolução de prêmios na curva de juros doméstica, com a melhora nas expectativas de inflação – a 13ª queda consecutiva nessas projeções para 2025. O corte da Selic em dezembro está na mesa e pode se fortalecer caso se concretize a redução de juros nos Estados Unidos e não haja sustos pelo lado fiscal doméstico – e também na questão comercial com os EUA”, diz Matheus Spiess, analista da Empiricus.

Mesmo com a desaceleração do IPCA e das projeções de inflação – com efeito direto para os juros futuros domésticos – e a expectativa de que juros mais baixos nos EUA venham a resultar em mais fluxo de capital para o Brasil, os preços continuam acima da meta perseguida pelo Banco Central no País, aponta Alison Correia, analista e cofundador da Dom Investimentos – o que reforça a importância da leitura, a ser conhecida na terça, do IPCA-15 referente a agosto, considerado uma prévia da inflação oficial do mês.

Dólar

O dólar à vista recuou nesta segunda-feira, 25, e voltou a flertar com o rompimento do piso de R$ 5,40, apesar do avanço da moeda americana no exterior. Além da valorização de commodities como minério de ferro e petróleo e da redução das expectativas de inflação revelada pelo Boletim Focus, o real teria sido impulsionado por apostas na corrida presidencial de 2026.

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), deu sinais de que pode se lançar candidato ao Palácio do Planalto contra o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva.

Após declarações nesse sentido ao participar da Festa do Peão de Barretos (SP) no fim de semana, Tarcísio disse nesta segunda em evento na capital paulista que é preciso discutir um “projeto para o Brasil” e que o “primeiro desafio é a questão fiscal”.

Economistas e gestores de recursos apontam que uma mudança na política fiscal a partir de 2027, com eventual vitória da oposição em 2026, seria um dos principais gatilhos para a redução dos prêmios de risco embutidos na taxa de câmbio.

Exceto por uma alta pontual e bem limitada no início do pregão, quanto registrou máxima de R$ 5,4367, o dólar passou o restante da sessão em baixa. Com mínima de R$ 5,4017, fechou em queda de 0,20%, a R$ 5,4147, levando as perdas em agosto a 3,32%. No ano, a moeda recua 12,39%.

O estrategista-chefe da EPS Investimentos, Luciano Rostagno, avalia que o comportamento da taxa de câmbio parece refletir uma combinação benigna de fatores externos e domésticos.

“O principal continua sendo a perspectiva de o Fed começar a cortar os juros em setembro, enquanto o Banco Central deve demorar um pouco mais para reduzir a Selic, o que significa maior diferencial de juros”, afirma Rostagno. “Mas os rumores de que a candidatura de Tarcísio está se fortalecendo, com aglutinação de grupos políticos, também ajudam a moeda”.

A queda nas expectativas de inflação reveladas pelo Boletim Focus desta segunda-feira contribuem para o bom desempenho do real, uma vez que fortalece a posição do Banco Central e, por tabela, reduz a percepção de risco.

Além do recuo da mediana das projeções para o IPCA neste ano (4,95% para 4,86), 2026 (4,40% para 4,33%), o Boletim Focus trouxe pela primeira vez neste ano redução das expectativas de inflação para 2027, de 4% para 3,97%.

“As notícias sobre Tarcísio podem ter ajudado o real, mas o principal fator do dia foi o Focus. As projeções do IPCA de 12 e 18 meses à frente já estão abaixo da banda superior da meta. Está começando a ancorar”, afirma o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi.

Termômetro do comportamento da moeda americana frente a uma cesta de seis divisas fortes, o Dollar Index (DXY) operou em ascensão e voltou a superar os 98,000 pontos, com máxima de 98,543 pontos no fim da tarde.

Houve um ajuste de posições após o mergulho do dólar na última sexta-feira, 22, com o discurso dovish do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, no Simpósio de Jackson Hole. Além disso, o euro renovou mínimas ao longo da tarde com as turbulências na política francesa, após o primeiro-ministro François Bayrou anunciar uma votação de confiança no dia 8 de setembro.

O economista-chefe do Banco Master, Paulo Gala, observa que há um ambiente mais positivo para ativos domésticos, com o aceno do presidente do Fed e “uma primeira vitória” do Banco Central brasileiro “na tarefa de debelar as expectativas de inflação”.

“Esse movimento do Powell, visto pelo mercado como um pivô dovish, fortalece o diferencial de juros a favor do Brasil, atrai capital estrangeiro, valoriza o real e contribui para reduzir as expectativas de inflação doméstica”, afirma Gala.

Juros

Tendo como pano de fundo a queda do dólar, a curva a termo mostrou redução nos vértices intermediários e longos na sessão desta segunda, 25. Hoje, o fechamento das taxas reagiu principalmente à melhora das perspectivas inflacionárias no horizonte relevante para a política monetária, movimento considerado bastante positivo pelo mercado. Declarações do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), de que pode disputar as eleições presidenciais de 2026 também ajudaram a moderar a curva.

No fechamento, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 recuou de 13,956% no ajuste de sexta-feira para 13,9%. O DI para janeiro de 2028 cedeu de 13,289% no ajuste anterior para 13,215%. O DI para janeiro de 2029 diminuiu de 13,268% no ajuste para 13,19%, e o DI para janeiro de 2031 marcou 13,55%, vindo de 13,625% no ajuste antecedente.

O boletim Focus indicou alívio importante nas expectativas de analistas de mercado para o IPCA. O destaque foi mudança na mediana de estimativas para o índice em 2027, que passou de 4,00% para 3,97%, após ficar estagnada por 26 semanas. O incômodo com o nível das projeções de inflação do mercado vem sendo continuamente destacado pelo Banco Central, que pode ter mais conforto para reduzir a Selic se houver melhora consistente nesses números.

Embora em magnitude pequena, de 0,03 ponto porcentual, o declínio na mediana para o IPCA de 2027 representa uma mudança muito positiva, diz Flávio Serrano, economista-chefe do banco BMG. “O ponto de maior atenção do BC é a desancoragem das expectativas. Quanto mais duradoura ela for, mais custoso é para a política monetária combatê-la”. Assim, aponta, se as expectativas continuarem cedendo, podem abrir espaço para o Comitê de Política Monetária (Copom) iniciar o ciclo de cortes da Selic. “O mercado começa a ter a sensação de que a inflação pode surpreender para baixo”.

De acordo com a precificação da curva de juros futuros, as chances de redução na reunião de dezembro deste ano do colegiado permanecem entre 40% e 45%, sem alteração expressiva em relação à última sexta-feira, observa Serrano. A maioria das apostas – quase 90% – se concentra em janeiro.

O diretor de pesquisa econômica do banco Pine, Cristiano Oliveira, destaca que a mediana de previsões para o IPCA de 2025 ano caiu pela 13ª semana consecutiva, de 4,95% a 4,86%, enquanto o consenso de mercado para 2026 passou de 4,40% para 4,33%. A projeção para 2028 ficou estável em 3,8%, e o boletim também mostrou redução nas estimativas para a alta do IGP-M, acrescenta Oliveira – de 1,13% para 1,04% para este ano, e de 4,32% a 4,27% para o próximo. No cenário do Pine, o Copom vai cortar a taxa básica de juros em dezembro. “Mantemos o call inalterado. O BC terá condições técnicas de iniciar o ciclo de corte de juros no fim deste ano”, diz.

Também pela manhã, os DIs tocaram mínimas intradia durante participação do governador de São Paulo Tarcísio de Freitas em evento da Esfera Brasil, no qual o político afirmou que é necessário discutir um projeto de País. Entre os pontos abordados que precisam ser enfrentados, o governador mencionou a questão fiscal, inovação e segurança pública.

Nesta terça, 26, o mercado estará atento à prévia da inflação oficial. A mediana de 28 instituições ouvidas pelo Projeções Broadcast aponta que o IPCA-15 terá deflação de 0,21% este mês, após ter subido 0,33% em julho. Esta deve ser a primeira queda mensal do índice desde julho de 2023, mas a taxa negativa deve ser influenciada por fatores pontuais.

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