O Ibovespa teve mais uma dia negativo – a terceira perda consecutiva, que o levou a ceder 0,58% na semana -, mas conseguiu preservar ganho de 1,45% em maio, estendendo a séria positiva iniciada em março (+6,08%) e mantida já com menor vigor em abril (+3,69%). Hoje, o índice da B3 oscilou dos 136.725,85 aos 138.637,35 pontos, saindo de abertura aos 138.546,16 pontos. Ao fim, mostrava baixa de 1,09%, aos 137.026,62 pontos, com giro reforçado a R$ 31,3 bilhões nesta sexta-feira, mista em Nova York, com variações entre -0,32% (Nasdaq) e +0,13% (Dow Jones). Na B3, a perda na semana sucedeu recuo de 0,98% no intervalo anterior.
Para as blue chips, o sinal negativo prevaleceu no fechamento, à exceção de Bradesco (ON +0,58%, PN +0,75%). A principal ação do Ibovespa, Vale ON, teve peso significativo no ajuste desta sexta-feira, ao fechar em queda de 2,53% em meio à progressão da correção de preços do minério de ferro nos mercados da China, que puxou abaixo outros nomes do setor metálico na sessão, como CSN (ON -3,85%) e Gerdau (PN -3,17%). O dia também foi negativo para Petrobras, que fechou nas respectivas mínimas da sessão na ON (-1,32%) e na PN (-1,09%).
Na ponta vencedora do Ibovespa, Vamos (+4,63%), Azzas (+3,71%) e Yduqs (+3,26%). No lado oposto, Braskem (-5,90%), Metalúrgica Gerdau (-4,35%) e Klabin (-4,29%).
No encerramento de abril, com o dólar à vista em R$ 5,6766 (baixa de 0,50% no mês), o Ibovespa na moeda americana foi a 23.793,63. Agora, no fim de maio, avançou para 23.957,79, com o ganho de 0,76% do dólar frente ao real tendo ficado abaixo da variação positiva do Ibovespa nominal no mês – aproximando-se, dessa forma, um pouco mais do nível em que estava no fim de setembro passado, então a 24.198,04.
Nesta sexta-feira, contudo, o tom da sessão foi o de cautela. “O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, reacendeu o risco de uma guerra comercial ao acusar a China de violar o acordo tarifário firmado recentemente. Isso gerou uma nova onda de aversão a risco, e o mercado reagiu com queda das bolsas e alta do dólar”, diz Christian Iarussi, sócio da The Hill Capital. A moeda americana fechou o dia em alta de 0,93%, a R$ 5,7195.
“Para piorar, houve falas mais duras de Trump com relação à China, o que bateu nas commodities e em moedas de emergentes, como o real. O IOF também incomoda ainda, com esse impasse em torno do que acontecerá, sem que se veja intenção, nesse governo, de fazer a profunda reforma necessária no Orçamento”, diz Matheus Spiess, analista da Empiricus Research. “Há diferentes facetas, internas e globais, que têm pesado na curva de juros”, destaca o analista, com efeito também para ações na B3, como as mais expostas ao ciclo doméstico.
Para Bruna Centeno, economista e advisor na Blue3 Investimentos, também a retomada das tensões entre Estados Unidos e China foi o aspecto definidor da sessão, tanto no Brasil como no exterior. “O mercado começa a jogar no preço uma escalada de tensões comerciais por período prolongado, com efeito no câmbio e busca por proteção no dólar, uma dinâmica com efeito para Brasil e outros emergentes”, acrescenta Bruna, observando que o exterior acabou prevalecendo sobre a leitura positiva do PIB brasileiro no primeiro trimestre – o que também, por outro lado, suscita cautela com relação a como o BC observará tal atividade, avalia a economista.
Nesse contexto, o quadro das expectativas para o comportamento das ações no curtíssimo prazo manteve-se dividido no Termômetro Broadcast Bolsa desta sexta-feira. Entre os participantes, as projeções de alta, estabilidade e queda para o Ibovespa na próxima semana têm fatia de 33% cada, assim como na pesquisa anterior.
Dólar
O dólar apresentou alta firme e voltou a supera a linha de R$ 5,70 na sessão desta sexta-feira, 30, marcada por um movimento de aversão ao risco. Houve aumento dos temores de acirramento da guerra comercial após o presidente Donald Trump acusar a China de violar acordo fechado no último dia 12 para congelamento de tarifas por 90 dias.
Já abalado pela onda global de depreciação de divisas emergentes, o real também teve seu desempenho influenciado por questões técnicas, como a disputa pela formação da última taxa ptax de maio, na primeira etapa de negócios, e a rolagem de posições no segmento futuro.
A preocupação com a questão fiscal, aguçada pelo bombardeio do setor produtivo e de parte da classe política ao aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) decretado pelo governo Lula, segue como ponto de atenção e contribui para reduzir o apetite por ativos locais.
Com máxima a R$ 5,7405, pela manhã, o dólar à vista fechou em alta de 0,93%, a R$ 5,7195 – maior valor de fechamento desde 7 de maio (R$ 5,7635). A moeda termina a semana com ganhos de 1,28% e sobe 0,76% no mês. As perdas acumuladas no ano, que rodaram acima de 8% ao longo de maio, agora são de 7,45%.
Lá fora, o índice DXY – termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes – operou em leve alta e rondava os 99,380 pontos no fim do dia. Entre as principais divisas emergentes e de países exportadores de commodities, as maiores perdas foram do rand sul-africano e do peso chileno, seguidos pelo real.
“Independentemente dos dados nos EUA hoje, que foram muitos, o vetor mais relevante para o câmbio foi sem dúvida a intensificação da guerra comercial, com Trump acusando a China de não cumprir o acordo firmado. Isso foi o ‘driver’ para um movimento mais clássico de aversão ao risco, com fortalecimento do dólar”, afirma a economista-chefe da Buysidebrazil, Andrea Damico. “O real não é a pior moeda, mas é uma das piores. Temos nossas questões, como a repercussão negativa do IOF, que pode ser revogado”.
À tarde, Trump voltou a criticar a China por ter “violado” partes do acordo comercial, mas disse que pretende conversar com o líder chinês, Xi Jinping. “Espero que possamos resolver isso”, afirmou o presidente dos EUA, pontuando que está muito feliz com a decisão judicial que manteve a validade das tarifas comerciais anunciadas pelo seu governo.
O economista-chefe da corretora Monte Bravo, Luciano Costa, destaca que o dólar chegou a trabalhar ao redor de R$ 5,60 em certos momentos do mês e havia expectativa de poderia engatar uma rodada adicional de queda. O otimismo com a moeda brasileira foi contido pela confluência de uma piora do ambiente externo com a volta dos ruídos políticos e fiscais domésticos.
“O real poderia ter até tido uma dinâmica mais favorável quando o exterior estava mais tranquilo, mas veio o pacote fiscal, com as dúvidas sobre o IOF, que piorou a percepção de risco dos investidores”, afirma Costa, ressaltando que a deterioração dos fundamentos das contas externas pode pesar sobre a moeda brasileira ao longo do segundo semestre, quando já não haverá o fluxo de entrada de dólares pela exportação da safra agrícola.
Nos EUA, o índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês), medida de inflação preferida do Federal Reserve, subiu 0,1% em abril, com alta de 2,1% na comparação anual – ligeiramente abaixo da previsão dos analistas (0,2% e 2,2%). Já o núcleo do PCE – que excluí itens mais voláteis – avançou 0,1% no mês e 2,5% na comparação anual, em linha com o esperado.
A safra de indicadores não mexeu com a aposta predominante de que o Federal Reserve promova uma redução de 50 pontos-base da taxa básica neste ano, com um corte inicial em setembro. Por ora, a avaliação é a de que a política monetária está bem posicionada diante das incertezas provocadas pelas políticas da administração Trump.
“A probabilidade maior ainda é de cautela e manutenção dos juros, a despeito do core da inflação do PCE dentro do esperado”, afirma o economista-chefe da Equador Investimentos, Eduardo Velho, ressaltando as incertezas provocadas pela disputa jurídica nos EUA em torno do tarifaço de Trump.
Juros
O mercado de juros esticou a sequência de altas das taxas dos últimos dias. Aos dados fortes do mercado de trabalho na semana, hoje a leitura do PIB do primeiro trimestre reforçou a percepção de desaceleração lenta da atividade, sem alterar a aposta majoritária de manutenção da Selic no Copom de junho, mas endossando a expectativa de juro nos 14,75% por um período prolongado. Ao mesmo tempo, a curva sofreu com a nova depreciação do câmbio e com as incertezas sobre o futuro do decreto do aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) no pano de fundo.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 subiu de 14,742% para 14,805% e a do DI para janeiro de 2027, de 14,00% para 14,15%. O DI para janeiro de 2029 tinha taxa de 13,62%, de 13,48%. No balanço do maio, as taxas avançaram nos vencimentos curtos e nos longos fecharam praticamente nos mesmos níveis do começo do mês.
As atenções seguiram hoje concentradas principalmente no ambiente doméstico. A alta do PIB, de 1,4% no primeiro trimestre, na margem, veio ligeiramente abaixo da mediana das estimativas da pesquisa do Projeções Broadcast, de 1,5%, mas alcançou o maior patamar da série histórica iniciada em 1996. Houve impulso importante do setor agropecuário – que atingiu o recorde da série -, mas também outros componentes “ex-agro” indicam que o crescimento segue disseminado, a despeito do juro elevado, apontam os analistas da Kínitro Capital.
A composição do PIB sugere que a atividade está resiliente e, numa leitura conjunta com os números surpreendentes da Pnad Contínua e do Caged em abril divulgados esta semana, que o arrefecimento daqui em diante pode ser mais lento que o previsto.
André Muller, estrategista-chefe da AZ Quest, diz que os dados indicam que o ciclo de crescimento deve se prolongar por um tempo a mais do que era o esperado. “A abertura da curva reflete um pouco disso, uma visão de que os últimos dados de atividade reduziram o risco de uma desaceleração rápida”, afirma. Com isso, prossegue, houve ajuste nos prêmios para eventuais quedas de juros no fim deste ano e do próximo ano. “A probabilidade de corte é pequena.”
“Projetamos importante desaceleração no segundo semestre, mas as medidas do governo exigem atenção, podendo reduzir esse ritmo. Não acreditamos em uma postura passiva do governo em deixar a atividade desacelerar”, afirmam os profissionais da Kínitro, que trabalha com um cenário de convergência da inflação também mais morosa que a apontada pelo Banco Central.
A perspectiva de que o governo deva reforçar medidas para segurar a economia preocupa num cenário de pressão fiscal. Nos dados do setor público apresentados hoje, o superávit primário de R$ 14,15 bilhões em abril veio abaixo do consenso de R$ 18,75 bilhões, acompanhado por aumento da Dívida Bruta do Governo Geral (DBGG) a 76,2%.
Do mesmo modo, ficam no radar eventuais reações do Planalto à nova pesquisa apontando queda na popularidade do presidente Lula. Segundo levantamento da Atlas Intel, o índice de desaprovação chegou a 53,7%, maior marca da série histórica.
Além dos dados, a curva captou a pressão do câmbio, que voltou a superar R$ 5,70 em meio à disputa da Ptax de fim de mês e temor de acirramento da guerra comercial após o presidente dos EUA, Donald Trump, afirmar que a China violou “totalmente” o acordo sobre tarifas com os americanos.