O Ibovespa operou bem perto da estabilidade ao longo da maior parte da sessão, e conseguiu sustentar leve ganho no fechamento, chegando ao pico na reta final, após mergulho de 1,69% ontem, no que foi sua maior perda desde 18 de dezembro. Hoje, subiu 0,38%, aos 124.850,18 pontos, praticamente na máxima no fechamento, entre mínima de 123.777,69 e os 124.852,88 pontos no melhor momento da sessão, em que saiu de abertura a 124.372,20. Após ter sido reforçado ontem pelo vencimento de opções sobre o Ibovespa, o giro ficou hoje em R$ 17,8 bilhões. Na semana, o índice da B3 avança 0,19% e, no mês, acumula perda de 1,02%. No ano, sobe 3,80%.
O dia foi de variações contidas para as ações de maior peso no índice – destaque para a recuperação de Bradesco, com a ON em alta de 1,79% e a PN, de 1,37%, no fechamento. Vale ON encerrou perto da estabilidade (+0,13%). Petrobras também subiu levemente, com a ON em alta de 0,28% e a PN, de 0,11%.
Os contratos futuros do petróleo fecharam em queda nesta quinta-feira, ainda pressionados pela possível paz entre a Rússia e Ucrânia, e pelo anúncio de tarifas recíprocas pelo presidente dos EUA, Donald Trump. Porém, o recuo foi limitado pelas incertezas sobre a permanência do acordo de cessar-fogo na Faixa de Gaza, bem como a elevação nas projeções de aumento da demanda em 2025 pela Agência Internacional de Energia (AIE).
Na ponta ganhadora do Ibovespa, Braskem (+5,38%), Usiminas (+3,35%) e CSN Mineração (+3,19%). No lado oposto, BRF (-3,76%), Automob (-3,70%) e Marfrig (-3,21%).
Após a leitura de ontem do índice de preços ao consumidor (CPI) nos Estados Unidos, a atenção global esteve voltada pela manhã para a inflação no atacado, referente ao índice de preços ao produtor (PPI) – que surpreendeu, em alta de 0,4% em janeiro, acima da projeção de 0,3%, aponta Ian Toro, especialista de renda variável da Melver. “Esse aumento nos custos de produção levanta preocupações sobre a persistência da inflação, o que reforça o discurso recente de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, de que não tem pressa em reduzir os juros.”
Também mais uma vez em destaque nesta quinta-feira, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse que “para fins de justiça” decidiu que o país cobrará “tarifa recíproca”, em declaração no Salão Oval durante a assinatura da proclamação. “É justo para todos. Nenhum outro país pode reclamar.”
O governo Trump insiste que as novas tarifas nivelariam o campo de jogo entre os fabricantes americanos e os concorrentes estrangeiros, embora esses novos impostos provavelmente venham a ser repassados aos consumidores e empresas americanas na forma de preços mais altos. A política de tarifas pode facilmente sair pela culatra para Trump, se a agenda de comércio exterior elevar a inflação e reduzir o crescimento do país – o que ele nega que venha a acontecer.
“O que vai subir é o emprego”, disse Trump, na coletiva na Casa Branca após assinar memorando orientando os secretários a detalhar propostas tarifárias para cada um dos países que cobram tarifas “injustamente” dos Estados Unidos.
“A questão das tarifas americanas voltou a ganhar força no dia de hoje, com a opção por tarifas recíprocas, de forma a atingir os países que taxam em proporção maior que a dos Estados Unidos. E também aparece no radar o Brasil: em alguns produtos, o País impõe tarifas maiores do que as americanas. Brasil tem tarifa bastante elevada para itens como minério de ferro, aço, carnes, etanol e café, de maneira que deve haver algumas imposições com relação a isso”, diz Pedro Moreira, sócio da One Investimentos, destacando em especial o desempenho de ações do setor de frigoríficos na sessão, negativo.
No fim da tarde, a Casa Branca mencionou que a tarifa dos Estados Unidos é de 2,5% para o etanol, enquanto a do Brasil para o produto é de 18%. Também nesta quinta-feira, Trump disse que não espera que os países potencialmente afetados pelas tarifas recíprocas farão concessões. “Se mantiverem o que fazem, faremos o mesmo”, acrescentou na coletiva. Ele reiterou que, nas medidas, será considerado o imposto sobre valor agregado. E citou a União Europeia, que cobra imposto sobre valor agregado de 20%.
Dólar
O dólar encerrou a sessão desta quinta-feira, 13, em leve alta no mercado local, na contramão da onda de enfraquecimento da moeda americana no exterior, com perdas firmes na comparação com pares latino-americanos do real, como os pesos mexicano e chileno.
O tropeço do real foi atribuído em grande parte à menção do etanol brasileiro no memorando do presidente dos EUA, Donald Trump, sobre tarifas recíprocas para parceiros comerciais. No documento, os EUA assinalam a aplicação pelo Brasil de imposto de importação de 18% sobre o etanol americano, ao passo que o produto brasileiro é tarifado em 2,5%. As exportações de etanol do Brasil aos EUA são de pouco mais de US$ 200 milhões.
O economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, observa que o Brasil tem tarifas de importação muito desproporcionais em relação às americanas, o que provoca uma grande assimetria. “Embora o etanol não seja algo muito expressivo, o fato de Trump estar de olho no Brasil já deixa o mercado na defensiva”, afirma Borsoi.
No momento de maior estresse, quando circulou a notícia da Fox News sobre a menção ao etanol brasileiro, depois confirmada no memorando de Trump, o dólar chegou a se aproximar do nível técnico de R$ 5,80, com máxima a R$ 5,7994.
Após o anúncio de Trump, com o aprofundamento do recuo dos Treasuries e da moeda americana no exterior, o dólar desacelerou bastante o ritmo de alta por aqui. No fim da sessão, era negociado a R$ 5,7689, em alta de 0,10%. Na semana, a divisa ainda recua 0,43%, com desvalorização de 1,16% em fevereiro. No ano, o dólar caia 6,66% em relação à moeda brasileira, que apresenta ganhos inferiores no período apenas aos do rublo russo.
Analistas ponderavam nas últimas semanas que parte do desempenho do real em 2025 estava relacionado ao fato de, em tese, o Brasil não ser muito atingido pelo advento da guerra comercial, uma vez que os alvos prioritários de Trump seriam Canadá, México e China.
Apesar do desconforto local com a menção ao etanol, o memorando de Trump foi considerado menos agressivo do que o esperado, com direcionamento a produtos específicos e sem aplicação mediata. A Casa Branca informou que as tarifas devem passar a valer a partir de 1º de abril, se essa for a decisão do presidente dos EUA.
A interpretação mais corrente entre analistas é a de que Trump vai utilizar a ameaça das tarifas recíprocas como arma de negociação. Um bom exemplo seria o caso da suspensão temporária de tarifas adicionais ao México e Canadá depois que ambos se comprometeram com controle mais rígido das fronteiras, para evitar imigração ilegal e combate ao tráfico do opióide fentanil.
Lá fora, o índice DXY – termômetro do comportamento da moeda americana em relação a uma cesta de seis divisas fortes – apresentou queda firme e rodava pouco abaixo dos 107,300 pontos no fim da tarde, passando a acumular baixa de mais de 0,70% na semana.
O dólar se enfraqueceu no exterior mesmo após dados sugerirem menor espaço para corte de juros pelo Federal Reserve neste ano. Após a leitura mais forte da inflação ao consumidor ontem, os números de inflação ao produtor divulgados pela manhã também surpreenderam para cima. Além disso, houve queda do número semanal de pedidos de auxílio-desemprego, que ficaram aquém das expectativas.
O gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, afirma que, apesar do tropeço hoje, o real segue amparado pela taxa de juros local elevada – e em ascensão – que atrai capital de curto prazo e torna o carregamento de posições compradas em dólar muito custoso.
“Com juro alto e a bolsa brasileira barata, devemos continuar a atrair capital de curto prazo. O dólar deve se manter rondando os R$ 5,80, com uma banda que vai de R$ 5,70 e R$ 5,90”, afirma Galhardo, ressaltando que pode haver estresse pontual caso haja desconforto com medidas do governo que ameaçam o cumprimento das metas fiscais.
Em apresentação do documento “2024 em retrospectiva e o que esperar de 2025”, o secretário de Política Econômica do ministério da Fazenda, Guilherme Mello, afirmou hoje que a depreciação do real em 2024 não condiz com os fundamentos da economia brasileira. Mello pontuou que a safra elevada deste ano e a maior produção de petróleo são motivos para acreditar em apreciação do real neste ano.
Juros
Os juros futuros de longo prazo engataram recuo consistente a partir do meio da tarde, após passarem a sessão oscilando entre viés de baixa e estabilidade. As taxas longas firmaram sinal de queda acompanhando o recuo maior das taxas dos Treasuries, movimento relacionado, por sua vez, ao anúncio da reciprocidade na aplicação de tarifas pelo presidente dos EUA, Donald Trump, que se mostrou menos danoso do que o esperado. Já nos prazos curtos e intermediários, a percepção de enfraquecimento da economia via retração das vendas no varejo manteve as taxas em baixa desde a abertura.
Com a nova onda de alívio nesta sessão, a curva toda fechou abaixo da marca de 15%. A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 encerrou em 14,82%, de 14,89% ontem no ajuste, e o DI para janeiro de 2027 passou de 15,05% para 14,93%. A taxa do DI para janeiro de 2029 terminou a 14,78%, de 14,91%.
A expectativa de Trump de anunciar a reciprocidade das tarifas ainda hoje manteve o mercado em suspense durante o dia. A pressão de alta vista no dólar era abafada no DI pelo alívio dos yields dos títulos do Tesouro dos EUA, segurando as taxas longas perto dos ajustes.
No fim da tarde, Trump assinou o memorando com as medidas. Houve alívio com o fato de que a reciprocidade não será aplicada de forma linear, mas segmentada por produto, incluindo veículos, chips e produtos farmacêuticos, o que reduz o eventual impacto sobre a balança comercial brasileira, ainda que Trump tenha citado o etanol brasileiro como exemplo de falta de tratamento recíproco aos EUA. Outra boa notícia é de que vão vigorar a partir de 1º de abril, dando tempo para que os países definam suas estratégias de negociação.
Os retornos dos Treasuries ampliaram então a queda. No fim da tarde, a T-Note, que ontem rompeu 4,60%, estava em 4,52%. O dólar desacelerou a alta ante o real e fechou nos R$ 5,7689 no segmento à vista.
O fator interno teve papel importante para a dinâmica das taxas curtas, segundo profissionais da renda fixa. A Pesquisa Mensal de Comércio (PMC) de dezembro mostrou retração de 0,1% das vendas na margem no conceito restrito, em linha com a mediana estimada. Já a queda de 1,1% das vendas no conceito ampliado contrariou em larga escala o consenso dos analistas de aumento de 0,1%, tendo chamado a atenção o desempenho ruim de setores ligados ao crédito, como veículos (-0,8%), afetados pelos juro elevados. Em 2024, as vendas tiveram altas de 4,7% (restrito) e 4,1% (ampliado), respectivamente.
O resultado do varejo em dezembro, somado ao recuo dos serviços e da indústria, corrobora a percepção de desaceleração econômica desde o fim do ano passado, o que pode enxugar o orçamento total de altas da Selic. Por isso, a precificação de Selic terminal vem caindo nos últimos dias. Depois de começar a semana pouco acima de 15,75%, nesta tarde estava em 15,50%, segundo o economista-chefe do Bmg, Flávio Serrano.