Ibovespa interrompe série negativa com alta de 0,45%, aos 132,7 mil pontos

Em dia de agenda de indicadores discreta, o Ibovespa, embora com giro ainda enfraquecido, conseguiu quebrar uma sequência negativa de três sessões que o colocou nesta segunda, 28, no menor nível de fechamento desde 22 de abril. Contudo, a perda de força em parte das blue chips à exceção de Petrobras (ON +1,63%, PN +1,31%) limitou os ganhos do índice em direção ao fechamento.

Nesta terça, 29, o Ibovespa oscilou dos 132.129,79 – na mínima correspondente à abertura – até os 133.345,71, no pico da sessão, após ter testado o nível dos 131 mil pontos no dia anterior. Ao fim, marcava hoje 132.725,68 pontos, em alta de 0,45%, com giro a R$ 16,4 bilhões. Na semana, ainda cede 0,60% e, no mês, recua 4,41% – no ano, sobe 10,34%.

Para Felipe Papini, sócio da One Investimentos, o Ibovespa teve um dia de ajuste técnico após uma sequência perdedora, aproveitando alguma acomodação na curva do DI nesta véspera de deliberação sobre juros, tanto nos Estados Unidos como no Brasil. “Apesar do sinal dado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de que o governo brasileiro permanece disposto a negociar, a volatilidade com relação às tarifas anunciadas no dia 9 pelo governo Trump para o Brasil tende a continuar dando o tom aos negócios nos próximos dias, à medida que se aproxima a data-limite de 1º de agosto”, aponta Papini, referindo-se ao prazo final para que seja efetivada a alíquota de 50% prometida pela Casa Branca para compras do Brasil.

Na ponta ganhadora do Ibovespa neta terça-feira, destaque para um dos papéis mais afetados pelas sobretaxas dos EUA, Embraer, pela exposição da fabricante de aviões ao mercado americano. Hoje, as ações da empresa subiram 3,76%, à frente de Direcional (+3,10%), Brava (+2,74%) e Vivara (+2,72%). Com o petróleo em alta de mais de 3% em Londres e Nova York, Petrobras foi o destaque do dia entre as ações de primeira linha. Vale ON, por outro lado, cedeu 0,62%.

Do lado negativo do índice, Magazine Luiza (-2,79%), Pão de Açúcar (-1,99%), Raízen (-1,39%) e Auren (-1,07%). Entre os maiores bancos, o dia era de recuperação bem distribuída, mas o sinal no fechamento foi misto, com variações entre -0,19% (Bradesco PN) e +0,58% (Itaú PN), o que contribuiu para a perda de ímpeto do Ibovespa no encerramento da sessão.

Em entrevista nesta tarde à Globonews, a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, disse que o pacote de medidas do governo brasileiro para fazer frente à tarifa de 50% sobre as exportações aos EUA representa uma “reação”, e não uma “retaliação”. A Broadcast mostrou ontem que a avaliação interna, no Palácio do Planalto, é de cautela sobre qualquer ação contra a medida dos Estados Unidos e os efeitos econômicos de uma guerra comercial entre os dois países. Sem citar o Brasil, o presidente dos EUA, Donald Trump, disse ontem que as tarifas com a maior parte dos países ficarão no intervalo de 15% a 20%.

Por sua vez, em outra entrevista, à CNN Brasil, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que todo o mundo está “pisando em ovos” para saber o que o governo dos Estados Unidos quer, e que não foi o Brasil que criou um problema com os EUA que tenha levado ao anúncio das tarifas de 50%.

Dólar

Apesar da falta de um acordo comercial entre Estados Unidos e Brasil, o mercado de câmbio passa por um movimento de ajuste nesta terça-feira, 29, com o real tendo a segunda melhor performance entre as principais divisas emergentes e de exportadores de commodities. O fator primordial é o carry trade, com a Selic a 15% ao ano, em comparação aos Fed funds entre 4,25% e 4,5%, ainda atrativo. O avanço do petróleo e do minério de ferro, além de um leilão de linha pelo BC, também ajudam.

Na sessão desta terça-feira, o dólar à vista variou entre R$ 5,6043 e R$ 5,5600, fechando em queda de 0,36%, a R$ 5,5695, contrariando a valorização do índice DXY.

“Somos beneficiados pelo carry trade, carregamento bastante favorável ainda. O Brasil continua tendo a quarta melhor performance de retorno (calculado pelos juros mais a valorização da moeda) nesse sentido, perdendo apenas para Rússia, Turquia e Argentina”, afirma o superintendente da mesa de derivativos do BS2, Ricardo Chiumento. Ele acrescenta que os três países em questão, contudo, não competem de fato com o Brasil na preferência sobre o carry trade, pois o País é considerado mais seguro, em termos regulatórios.

O economista-chefe para Brasil do Barclays, Roberto Secemski, disse que a moeda brasileira é unanimidade entre o investidor estrangeiro e o local por conta do carry trade, por mais que a política tarifária de Trump tenha dado uma “bagunçada” no cenário.

O Broadcast Agro (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) apurou que o governo brasileiro avalia pedir aos Estados Unidos a exclusão de alimentos do tarifaço de 50% sobre produtos importados nacionais. Por ora, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, descartou a possibilidade de o Brasil retaliar os Estados Unidos com tarifas próprias, o que é positivo do ponto de vista econômico.

Isso porque uma eventual retaliação recíproca do governo Lula causaria uma perda de 0,17 ponto porcentual (pp) no Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, calcula o Inter.

O gerente da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, observa que o mercado não está precificando a “catástrofe” de tarifa de 50% dos EUA ao Brasil, que deve ser implementada nesta sexta-feira, 1º de agosto, hoje e prefere focar nas expectativas para a “super quarta” com decisões do Copom e do Fed, que devem manter os juros no mesmo nível.

Juros

A curva a termo teve o melhor comportamento entre os ativos domésticos na segunda etapa do pregão desta terça-feira, 29, com redução generalizada nos vértices. As decisões de política monetária do Comitê de Política Monetária (Copom) e do Federal Reserve (Fed), que devem manter os juros amanhã, ficaram em segundo plano, e mais uma vez o mercado deu maior atenção ao iminente tarifaço.

Além do suporte do exterior dado pela queda nos rendimentos dos Treasuries, no ambiente doméstico, prevaleceu a avaliação de que o governo brasileiro está mais empenhado em negociar com o país, o que ajudou a aliviar as taxas. Faltando apenas três dias para a entrada em vigor da alíquota de 50% a produtos brasileiros, a percepção é que o Executivo pode conseguir postergar este prazo ou isentar alguns segmentos da tarifa, conforme fontes não oficiais têm ventilado.

Encerrados os negócios, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) com vencimento em janeiro de 2026 passou de 14,927% no ajuste de ontem para 14,910%. O DI de janeiro de 2027 cedeu de 14,215% no ajuste da véspera a 14,155%. O DI de janeiro de 2028 marcou 13,470%, vindo de 13,575% no ajuste anterior, e o DI de janeiro de 2029 diminuiu de 13,531% no ajuste a 13,380%.

Na ponta mais longa da curva, o contrato que vence em janeiro de 2031 fechou em mínima intradia de 13,600%, vindo de 13,785% no ajuste de segunda. O DI do primeiro mês de 2033 caiu de 13,902% ontem no ajuste para 13,720%. Por volta das 14h20, a maio parte das taxas chegou a tocar mínimas intradia a partir dos vencimentos intermediários.

Tiago Hansen, diretor de gestão e economista da Alphawave Capital, destaca que, após dias de tensão no mercado de DIs há uma semana – também em razão da ofensiva comercial americana -, a curva passou por ajustes técnicos hoje, o que explica parte do fechamento dos juros. A curva local ainda acompanhou o movimento externo, num dia em que os títulos do Tesouro americano de 2, 10 e 30 anos operaram em firme baixa, acrescenta Hansen, com a expectativa de que os EUA sele um acordo com a China.

Por aqui, diz Hansen, há muito desencontro de informações e pouco posicionamento oficial sobre em que pé estão as tratativas com Washington. “Mas a água está batendo no pescoço, o governo viu que não tem mais para onde correr e está todo mundo tentando fazer algo”, diz. Nesse sentido, aponta o economista, ganham espaço especulações de que o Executivo tenta excluir setores da imposição da tarifa, como o de alimentos e aviação. “O mercado está comprando essa visão, ou de que o governo vai ganhar algum prazo; algo neste sentido”.

Hoje, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Geraldo Alckmin, negou, por meio de sua assessoria de imprensa, que o governo está em conversas com os EUA para tentar retirar setores do tarifaço. Segundo fontes afirmaram ao Broadcast Agro, o Planalto considera pedir à administração Trump que os alimentos não sejam sobretaxados, mas a prioridade por ora é tentar ao máximo negociar o possível adiamento da imposição da alíquota geral, ou a derrubada da taxa.

Nesta tarde, o ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, disse a jornalistas que a Pasta está dialogando com a Embraer para “lidar com a imposição” da tarifa. Costa Filho informou que atualmente há 1.700 aviões da Embraer no mercado americano, e que o porcentual de 50% aumenta em US$ 9 milhões o custo de operação por aeronave.

Já o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, declarou em entrevista à CNN Brasil nesta tarde que todo o mundo está “pisando em ovos” para saber o que o governo Trump quer, mas que há todas as condições para não tornar a próxima sexta, 1º de agosto – quando as tarifas passariam a valer – um “dia fatídico”. “Nós vamos continuar negociando, os canais estão sendo desobstruídos, vagarosamente, mas estão”, comentou.

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