Ibovespa emenda segunda alta seguida e retoma nível dos 137 mil pontos

O Ibovespa firmou alta na etapa vespertina e retomou em fechamento o nível de 137 mil pontos, amparado no período da tarde pelo bom desempenho das ações de bancos – como Santander (+4,65%), Bradesco (ON +2,70%, PN +3,10%) e Itaú (+0,92%), exceção para Banco do Brasil (ON -0,65%, mínima do dia no fechamento) – e também de Petrobras (ON +2,93%, PN +3,33%), em dia de forte avanço para os preços do petróleo em Londres e Nova York, com alta superior a 4% em ambos encerramentos.

No fechamento, em segundo dia de recuperação, o índice da B3 mostrava ganho de 0,51%, aos 137.128,04 pontos, entre mínima de 135.627,75 e máxima de 137.530,69 pontos, saindo de abertura aos 136.443,36 pontos. O giro financeiro ficou em R$ 21,6 bilhões na B3. Na semana, o Ibovespa avançou 0,75% e, no mês, oscila levemente ao positivo (+0,07%). No ano, o índice acumula ganho de 14,00%.

Melhor desempenho entre os componentes do Ibovespa na sessão, o ganho visto em Santander nesta quarta-feira refletiu a elevação, pelo UBS BB, da recomendação das ações do banco para compra, assim como do preço-alvo, de R$ 30 para R$ 38, aponta Alison Correia, analista e cofundador da Dom Investimentos.

Por outro lado, o setor metálico foi mal na sessão, com Vale em queda de 0,88%, e destaque negativo para Gerdau (-3,68%) e Metalúrgica Gerdau (-3,92%) com a reversão do ‘trade’ relacionado a tarifas, após sinais iniciais de progresso nas negociações entre Estados Unidos e China, na segunda e terça-feira, em Londres – até a terça, as ações do grupo eram favorecidas pela produção local da companhia nos Estados Unidos, o que lhe asseguraria vantagem no contexto da guerra tarifária.

“Dia mais morno para o Ibovespa, entre leves perdas e ganhos, mas o CPI, a inflação ao consumidor nos Estados Unidos, com desaceleração em maio, deu algum apoio ao apetite por risco desde a manhã. Inflação mais fraca nos Estados Unidos traz um otimismo maior para a busca por remuneração melhor, nos ativos de risco, com expectativa de que venha a se iniciar, em algum momento, um ciclo global de redução de juros”, diz Rubens Cittadin, operador de renda variável da Manchester Investimentos. Ele observa que tal tese dá suporte à percepção de manutenção de fluxo para países com juros ainda bem competitivos, favoráveis ao carry trade, como é o caso do Brasil.

“Ainda que se esteja falando de trocar seis por meia dúzia, as negociações, ainda em andamento, sobre aumento do IOF trazem alguma tranquilidade. Dia trouxe também um noticiário mais positivo sobre avanços nas negociações entre representantes comerciais de Estados Unidos e China, o que contribui para uma acalmada no mercado e, em especial, para uma boa recuperação dos preços do petróleo na sessão, ajudando o setor na B3, com Petrobras à frente”, diz Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos.

Na ponta ganhadora do Ibovespa, além de ações de empresas do segmento, como a própria Petrobras, Brava (+3,03%) e PetroReconcavo (+2,70%), destaque também nesta quarta-feira para Santander, TIM (+3,51%) e Bradesco. No lado oposto, logo depois dos papéis de Gerdau, vieram IRB (-3,34%), Braskem (-3,07%) e CVC (também -3,07%).

“Está claro que a China, naturalmente, quer voltar a aumentar a exportação para os Estados Unidos porque, apenas em maio, teve queda de 34% nas vendas para o país”, diz Correia, da Dom Investimentos, acrescentando que a leitura abaixo do esperado para o índice de preços ao consumidor nos EUA (CPI, na sigla em inglês) em maio chega em momento importante, às vésperas da próxima reunião do Federal Reserve, na semana que vem, quando o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central também volta a deliberar sobre a Selic, no Brasil.

Dólar

O dólar apresentou queda firme no mercado local nesta quarta-feira, 11, acompanhando a onda de desvalorização da moeda norte-americana no exterior, após leitura benigna de inflação ao consumidor nos EUA reforçar apostas em cortes de juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) ainda neste ano. Houve também melhora pontual do apetite ao risco na esteira de anúncio de acordo comercial preliminar entre americanos e chineses, com a prorrogação do congelamento das chamadas tarifas recíprocas.

Com mínima a R$ 5,5222 no início da tarde, o dólar à vista encerrou a sessão em baixa de 0,59%, a R$ 5,5376, no menor nível de fechamento desde oito de outubro (R$ 5,5328). A divisa já apresenta desvalorização de 3,18% nos oito primeiros pregões em junho. No ano, o dólar acumula perdas de 10,40% em relação ao real, que tem o melhor desempenho entre as divisas latino-americanas.

O índice DXY – termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes – caía cerca de 0,40% no fim da tarde, ao redor dos 98,600 pontos, após mínima aos 98,525 pontos. O Dollar Index recua 0,79% no mês e 9,05% no ano. A moeda americana recuou ao menor nível desde agosto de 2024 em relação ao peso mexicano, o principal par do real.

O índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) subiu 0,1% em maio em relação a abril e 2,4% na comparação anual. Ambas as medidas ficaram abaixo da mediana dos analistas consultados pelo Projeções Broadcast (0,2% e 2,5%, respectivamente). O núcleo do CPI – que exclui itens voláteis como alimentos e energia – também veio aquém das expectativas.

“O CPI veio muito bom. A expectativa é de o aperto monetário nos EUA diminuir ao longo do ano, o que enfraquece o dólar”, afirma o gestor de portfólio da Azimut Brasil Wealth Management, Marcelo Bacelar, acrescentando que a probabilidade maior é de corte acumulado de 50 pontos-base na taxa básica de juros americana até o fim do ano.

Bacelar ressalta que, além da maré externa favorável nos últimos meses, o real se beneficia da saída de cena do chamado “risco monetário” doméstico, ou seja, da possibilidade de que o Banco Central sob comando de Gabriel Galípolo adotasse uma postura mais frouxa em relação à busca da meta de inflação.

Seja qual for a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) na semana que vem – de manutenção da Selic em 14,75% ao ano ou de alta final de 0,25 ponto porcentual -, a taxa real de juros permanecerá ao redor de 10%, o que estimula operações de carry trade e desencoraja a manutenção de posições compradas na moeda americana.

“O real descolou dos pares no fim do ano passado muito por conta do risco monetário, além da desancoragem fiscal, que já era grave. O mercado tinha dúvidas se Galípolo ia fazer o necessário para a inflação voltar à meta. O risco monetário acabou”, afirma Bacelar. “Além do carrego muito alto, o real se beneficiou da mudança de portfólio internacional, com migração de recursos dos Estados Unidos para outras geografias”.

No campo fiscal, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), disse nesta quarta que comunicou à equipe econômica que setores do Congresso tiveram uma “reação ruim” ao pacote de medidas alternativas ao IOF. A taxação de letras financeiras do agronegócio e do setor imobiliário é o ponto que enfrentaria maior resistência entre parlamentares, segundo fontes ouvidas pela Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado.

Partidos com assentos na Esplanada dos Ministérios, PP e União Brasil devem se posicionar contra a Medida Provisória que será editada pelo governo Lula. Após saída de audiência tumultuada na Câmara, em que trocou farpas com parlamentares da posição, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que a MP já está no Planalto e pode sair ainda na quarta.

Para Bacelar, da Azimut, apesar das discussões em torno das medidas propostas pela Fazenda, o fato de o governo não ter alterado a meta fiscal de 2026 em razão de “eventual frustração de receita” é um ponto positivo para o real. “O governo não dá sinalização publicamente de ajuste do lado da despesa, mas fez contingenciamento e congelamento bem acima do que o mercado esperava. Havia grande temor de que houvesse mudança da meta fiscal”, afirma.

Juros

As incertezas sobre os impactos do confuso cenário fiscal brasileiro sobre a política monetária de curto prazo pesaram sobre o mercado de juros nesta quarta-feira. A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 fechou em 14,890%, de 14,841% ontem no ajuste. O DI para janeiro de 2027 terminou com taxa de 14,23%, de 14,14% no ajuste de ontem, e a do DI para janeiro de 2028 subiu de 13,57% para 13,66%. A do DI para janeiro de 2029 terminou a 13,57% (de 13,53%).

Num dia de agenda local esvaziada, o mercado seguiu ajustando posições em meio à expectativa pelo Comitê de Política Monetária (Copom) de junho, não somente para decisão sobre a Selic em si, mas também sobre a perspectiva para o futuro da taxa. A aposta de manutenção no nível de 14,75% na próxima semana, que ontem cresceu com a leitura do IPCA de maio, hoje voltou a perder força.

Segundo players nas mesas de renda fixa, esse movimento respondeu às dificuldades que o governo está enfrentando para emplacar o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Ainda que a tendência seja de que a elevação do IOF, se efetivada, atue apenas na desaceleração via canal do crédito, ou seja um escopo bem menor do que os canais de transmissão da Selic, parte do mercado vê a medida como contracionista.

Na precificação dos DIs, a probabilidade de Selic estável caiu de 44% ontem para 32% nesta tarde, com a de alta de 25 pontos-base subindo de 56% para 68%. A projeção é de Selic terminal em 15,00% até setembro, com taxa 14,95% no fim do ano. Há aposta residual de corte de 5 pontos-base em dezembro.

O governo tem enfrentado resistência de parlamentares com relação ao IOF, que defendem uma saída para o cumprimento das metas do arcabouço fiscal via corte de gastos. “Eu já comuniquei à equipe econômica que as medidas que estão pré-anunciadas deverão ter uma reação muito ruim, não só dentro do Congresso, como também do empresariado”, disse hoje o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), que falou em “ingovernabilidade completa para quem quer que venha a ser presidente” caso não se discutam as despesas obrigatórias.

As discussões sobre o IOF acirraram os ânimos dos participantes da audiência pública conjunta das comissões de Finanças e Tributação e de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara, que ouviu o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Houve bate-boca entre o ministro e deputados da oposição, o que levou ao encerramento precoce da sessão. No Senado, a oposição divulgou nota criticando as medidas e sugerindo “medidas estruturais”.

A Medida Provisória (MP) com as propostas deve ser encaminhada ainda hoje ao Congresso. O economista-chefe da AZ Quest, André Muller, diz que o mercado está em compasso de espera para ver como será a negociação, sob o risco de não ver as receitas previstas realizadas e com dificuldades em avançar pelo lado da despesa. “O que poderia ser muito negativo para compensar a frustração com as receitas seria uma alteração da meta fiscal, mas esse ainda é um risco distante. Há espaço para negociação antes disso”, prevê.

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