Após ter renovado máxima histórica na sexta-feira anterior, 4, então na casa de 141 mil pontos, o Ibovespa operou em baixa ao longo das cinco sessões desta semana, acumulando no intervalo perda de 3,59%, a maior desde o período entre 12 e 16 de dezembro de 2022. Assim, mais do que reverteu o avanço de 3,21% registrado na semana anterior.
Nesta sexta, 11, oscilou entre 135.528,07 e 136.741,87 pontos, máxima quase correspondente ao nível de abertura (136.741,68). E ao fim mostrava baixa de 0,41%, aos 136.187,31 pontos, no menor nível desde 25 de junho. Após o reforço visto ontem, o giro financeiro ficou em R$ 19,4 bilhões nesta sexta-feira.
O petróleo subiu quase 3%, o que deu suporte às ações de Petrobras (ON +0,40%, PN +1,21%), contribuindo para mitigar as perdas do Ibovespa na sessão, assim como o avanço do principal papel da carteira, Vale ON (+1,30%), que acompanhou a alta do minério de ferro na China, nesta sexta-feira. Entre os grandes bancos, o dia foi negativo, com destaque para Itaú PN (-0,82%), a principal ação do segmento – mas as componentes do setor conseguiram conter o ajuste em direção ao fechamento.
Na ponta ganhadora do Ibovespa, PetroReconcavo (+3,51%), MRV (+3,05%) e Prio (+2,20%). No lado oposto, Yduqs (-7,40%), BRF (-4,35%) e Marfrig (-4,17%). No mês, o Ibovespa cede 1,92%, mas ainda avança 13,22% no ano.
“Hoje veio nova surpresa, com a taxação pelo Trump de produtos do Canadá, o que contribuiu para a quinta queda consecutiva do Ibovespa e avanço, na semana, dos vértices mais longos da curva de juros. Momento ainda é de grande volatilidade, com a retomada dos temores globais em torno do tarifaço comunicado por cartas”, diz Guilherme Petris, operador de renda variável da Manchester Investimentos, destacando, na sessão, o ajuste negativo um pouco mais acentuado nas ações de empresas e setores mais expostos a juros.
As novas tarifas anunciadas nesta semana pelo presidente dos EUA, Donald Trump, complicaram ainda mais o cenário para a inflação, disse nesta sexta-feira o presidente do Federal Reserve (Fed) de Chicago, Austan Goolsbee. O quadro dificulta que Goolsbee apoie os cortes de juros pelos quais Trump tem pressionado.
Nesse ambiente de maior incerteza, o mercado está mais cético quanto ao desempenho das ações na próxima semana, mostra o Termômetro Broadcast Bolsa desta sexta-feira. As expectativas para o comportamento do Ibovespa se dividem entre estabilidade (80,00%) e queda (20,00%), sem nenhuma resposta indicando alta. Na pesquisa anterior, 50,00% esperavam ganhos para o índice nesta semana; 25,00%, variação neutra; e 25,00%, baixa.
“O Brasil virou, no momento, o país mais tarifado pelos Estados Unidos, o que assusta investidores e ajuda a explicar a desvalorização recente do real. O problema não é só comercial, mas também de percepção. O país ficou isolado em um movimento que não atinge outros parceiros”, observa Leonardo Neves, analista da Constância Investimentos, destacando em especial o efeito sobre empresas como Embraer, Tupy e WEG, com exposição a vendas para o mercado americano. “Se essas tarifas de 50% realmente forem mantidas, muda bastante o cenário para quem tem forte presença nos Estados Unidos”, acrescenta o analista.
Para Bruna Centeno, economista, sócia e advisor na Blue3 Investimentos, a atenção permanece voltada à abertura de negociações bilaterais para que se tenha uma indicação mais clara sobre o que ocorrerá em 1º de agosto com relação ao segundo parceiro comercial do Brasil, os EUA. “De ontem para hoje, o presidente Lula, ainda que tenha mantido a defesa da soberania como prerrogativa, pareceu optar por um tom mais moderado. E Trump indicou também que deve conversar com o presidente Lula em algum momento. Mas o cenário de fundo ainda é de grande incerteza.”
Para baixar a fervura do momento, o governo brasileiro descarta, ao menos nos próximos dias, o uso da cadeia nacional de rádio e televisão para se posicionar contra o “tarifaço” imposto por Trump. Segundo fontes ouvidas pelo Broadcast Político, nos bastidores do governo Lula, ainda há discussão se um pronunciamento público do presidente pode vir a ser realizado no futuro.
“Apesar de o dólar estar subindo de forma generalizada no nível global, fica claro que o impacto tem sido maior no Brasil, dado as incertezas nas negociações tarifárias e a posição a ser adotada pelo governo brasileiro junto ao governo americano”, diz Karine Damiati, sócia da AVG Capital. Embora praticamente estável no fechamento da sessão desta sexta-feira, o dólar à vista acumulou, na semana, ganho de 2,26% frente ao real, na casa de R$ 5,54.
Dólar
Após se aproximar de R$ 5,60 pela manhã, o dólar à vista perdeu força ao longo da tarde e encerrou a sessão desta sexta-feira, 11, cotado a R$ 5,5475 (+0,04%). Na semana, a moeda americana acumulou ganhos de 2,26% em relação ao real.
Operadores não notaram um gatilho específico para a recuperação da divisa brasileira, mas ressaltam que sinais de que a implementação de tarifas de 50% pelos Estados Unidos ao Brasil a partir de 1.º de agosto pode não se concretizar abriram espaço para ajustes e realização de lucros.
Um primeiro sinal de alívio veio no fim da manhã, quando o presidente americano, Donald Trump, afirmou a repórteres em frente à Casa Branca que “em algum momento” pode falar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, embora tenha ressaltado que “não agora”. Trump voltou a defender Jair Bolsonaro, ao afirmar que é “muito injusta” a maneira como o ex-presidente é tratado.
Embora Lula tenha reiterado hoje que haverá retaliação caso as tarifas de 50% sejam realmente impostas, a leitura é a de que a estratégia do governo é abrir canais de diálogo e buscar um entendimento. Fontes ouvidas pelo Broadcast Político informaram que o presidente descartou a possibilidade, ao menos nos próximos dias, de fazer uso de cadeia nacional de rádio e televisão para tratar do tarifaço.
O chefe da mesa de câmbio da EQI Investimentos, Alexandre Viotto, ressalta que é difícil saber quais serão os pontos de negociação entre Brasil e EUA, dado que Trump justificou as tarifas por questões políticas, mas lembra que o presidente americano tem histórico de adotar postura mais dura em um primeiro momento para abrir negociações numa posição mais favorável.
“Ninguém sabe se as medidas vão se concretizar. As ameaças de Trump perderam muita credibilidade porque ele dá um prazo para negociar e costuma recuar da ameaça inicial”, afirma Viotto, que vê possibilidade de o real voltar a se apreciar caso o nível final das tarifas fique bem abaixo de 50%. “Podemos ver um dólar descer até R$ 5,30 se as negociações forem boas. Mas se a tarifa de 50% for realmente adotada, a tendência é a taxa de câmbio voltar a se aproximar de R$ 6,00”.
No exterior, o Dollar Index (DXY) – termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes – operou em alta ao longo do dia e subia cerca de 0,20% no fim da tarde, na casa dos 97,800 pontos, após máxima aos 97,964 pontos. A moeda também subiu em relação aos principais pares emergentes do real, com ganhos de mais de 1% frente ao rand sul-africano. Na semana, o DXY avança quase 1%.
A recuperação global do dólar é atrelada à maior aversão ao risco provocada pelo envio de cartas de Trump a mais de 20 parceiros comerciais ao longo da semana, com destaque para Japão e Coreia do Sul, com promessas de tarifas de importação pesadas a partir de 1.º de agosto.
Ontem à noite, Trump anunciou tarifas de 35% para o Canadá e sinalizou que enviaria até esta sexta-feira uma carta à União Europeia (UE), o que causou apreensão nos mercados, em especial pela manhã. Há receio de que o governo americano imponha tarifa muito acima do piso de 10% ao bloco europeu.
À tarde, a Comissão Europeia, braço executivo da UE, afirmou que está pronta para fechar um acordo com os EUA sobre tarifas, mas que não há reuniões adicionais previstas entre as duas partes durante o fim de semana.
“Durante a semana, o governo americano adotou um tom mais duro em relação às tarifas, o que aumentou a volatilidade nos mercados globais. Países asiáticos como Japão, Coreia do Sul, Tailândia e Indonésia tiveram alíquotas entre 25% e 40%. Além disso, o Canadá voltou ao radar das medidas protecionistas. Nesse ambiente incerto, o dólar se fortaleceu globalmente”, afirma, em relatório, a Armor Capital, ressaltando que o real teve um desempenho na semana inferior ao de seus pares.
Juros
Os juros futuros inverteram a tendência de alta observada no início do dia e percorreram a segunda etapa do pregão desta sexta-feira, 11, rondando a estabilidade – comportamento contrário ao do exterior, onde os rendimentos dos Treasuries subiram.
Tanto no mercado externo quanto no local, os investidores seguiram atentos aos desdobramentos da nova rodada de ofensiva comercial dos EUA, que atingiu 23 países nesta semana, com destaque para o Brasil. Por aqui, no entanto, a percepção de que pode haver uma solução menos drástica do que a tarifa de 50% anunciada para produtos brasileiros pode ter dado alívio à curva a termo no fim da sessão.
Encerrados os negócios, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) com vencimento em janeiro de 2026 oscilou de 14,936% no ajuste de ontem para 14,940%. O DI de janeiro de 2027 passou de 14,300% no ajuste da véspera para 14,330%. O DI de janeiro de 2028 marcou 13,615%, de 13,579% no ajuste anterior, e o DI do primeiro mês de 2029 ficou em 13,480%, vindo de 13,462% no ajuste antecedente.
Para Felipe Sichel, economista-chefe da Porto Asset, chama atenção que, apesar da pressão do lado externo, as taxas longas locais cederam. Sichel destaca que o juro do T-Bond de 30 anos aumentava mais de 9 pontos-base hoje, para 4,961%. “As indicações de que a retórica do governo brasileiro seria uma, mas a prática seria outra, podem ter se refletido sobre os preços”, disse.
Durante cerimônia no Espírito Santo para anunciar o início dos pagamentos de programas de transferência de renda para agricultores e pescadores, o presidente Lula afirmou hoje “vai brigar em todas as esferas” para que a taxação dos EUA não se concretize. Segundo fontes ouvidas pelo Broadcast Político, nos bastidores, porém, o governo descarta, ao menos nos próximos dias, o uso de cadeia nacional de rádio e TV para se posicionar sobre o tarifaço. “Estamos em um momento de incerteza elevada e fluxo de notícias relevante. Parte do desafio é dissociar a reação política da diplomática e avaliar como as coisas vão se equilibrar”, diz Sichel.
No saldo semanal, aponta a equipe econômica do Santander, a curva de juros local teve ascensão espalhada por todos os vértices, com ganhos de inclinação. Para o banco, o movimento teve como influências a escalada da tensão comercial e a ata da última reunião de política monetária do Federal Reserve (Fed). “O documento reforçou uma postura ainda cautelosa do Fed, exigindo mais evidências de convergência sustentada da inflação à meta antes de iniciar cortes”, afirma o banco. O início do ciclo de flexibilização monetária nos EUA é um dos fatores decisivos para que o BC brasileiro possa fazer o mesmo por aqui.
Considerando o mercado de opções digitais de Copom negociadas na B3, a precificação da trajetória da política monetária teve leve mudança na semana, de acordo com o Santander: para a próxima reunião do colegiado, no fim de julho, a probabilidade de manutenção da Selic está em 85%, enquanto a chance de nova elevação de 0,25 ponto porcentual é de 10%.