Haddad diz que ainda esta semana conversará com secretário do Tesouro dos EUA

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta segunda-feira, 4, que ainda nesta semana deverá conversar com o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent. Haddad fez a afirmação durante entrevista à Band News.

De acordo com o ministro, a agenda do norte-americano é cheia e tem dezenas de países que estão sob sua responsabilidade. E até semana passada, estava na Europa, firmando acordos com a União Europeia, inclusive.

“E ele disse que antes de voltar para os Estados Unidos teria muita dificuldade de ter a janela necessária para uma reunião, ainda que virtual, comigo. Desde a semana passada, a sexta-feira, eles manifestaram o interesse de talvez nessa semana para marcar a reunião, essa primeira reunião, que na verdade não é a primeira, porque nós tivemos, por ocasião da tarifa de 10%, uma reunião na Califórnia, em maio ainda, antes do anúncio”, afirmou Haddad.

E acrescentou: “Eu creio que essa semana nós vamos poder conversar, a Fazenda anseia por esse encontro já há algumas semanas. O anúncio da semana passada trouxe tranquilidade para uma série de setores, mas há outros setores que estão aflitos com a manutenção de uma tarifa exorbitante de 50%.”

Questão politizada pela oposição como em nenhum outro país

O ministro da Fazenda disse também que, de maio para julho, a questão das tarifas foi politizada pela oposição no sentido de misturar a questão comercial com política. “E os Estados Unidos têm o direito, um governo democrático, tem o direito de buscar a solução para sua economia mesmo que não atenda o mundo, mesmo que tenha causado uma certa perplexidade por ser uma solução inusitada e que podia ser evitada em relação ao país, que se dizia liberal até outro dia”, comentou.

Assim mesmo, segundo ele, há que se considerar esse fato: “Foi politizada de uma forma que nenhum outro país viveu”, ressaltou. “E nós estamos falando de países que não são democráticos, de países que têm governos autoritários, países que têm governos despóticos. E, nem por isso, as tarifas foram usadas com finalidade política. Aqui, em virtude da oposição ter se mobilizado contra os interesses nacionais, mudou de maio para julho a posição dos Estados Unidos da América”, disse.

Para ele, o governo tem que procurar despolitizar o debate comercial. De acordo com Haddad, o comércio internacional não pode ser utilizado para interesses eleitorais de um país que quer ver o Brasil governado por forças que querem entregar as riquezas nacionais, incluindo terras raras, os minerais críticos. “O Pix, por exemplo, que nós entendemos que tem que ser mantido sob a responsabilidade do nosso Banco Central, tudo isso são questões de soberania nacional que nada têm a ver com o debate comercial. Nós precisamos compreender que, primeiro, nós somos um país soberano e democrático.”

Ainda, disse Haddad, “nós temos poderes independentes uns dos outros”. “O presidente Lula não pode se imiscuir num assunto que diz respeito a outro poder, então nós temos regras constitucionais, desde 1988, que estão estabelecidas; então há uma série de questões que precisam ser levadas à consideração de um país, que até outro dia era nosso parceiro, para que compreenda o funcionamento da nossa democracia, que é diferente da de lá.”

Democracia brasileira foi além

O ministro da Fazenda afirmou ainda que foram os Estados Unidos que puxaram o fio da democratização do continente, com a descolonização e o aperfeiçoamento da democracia. Mas, segundo ele, o Brasil foi além da democracia norte-americana em vários quesitos, em vários tópicos e a democracia do País é inspirada na dos EUA.

“Nós estamos até um pouco à frente. Isso não sou eu que estou dizendo. São cientistas políticos dos Estados Unidos da América que hoje dizem que o Brasil é mais exemplo de democracia do que muitos países pioneiros da instituição da democracia no mundo”, disse Haddad.

De acordo com ele, o governo está aberto a discutir comércio e política externa. “Quer discutir comércio? Nós vamos discutir comércio. Quer discutir política? Política externa? Nós podemos discutir política externa”, afirmou. O ministro contou que nos dois últimos anos da administração de Joe Biden ele foi encarregado de buscar uma aproximação econômica com Janet Yellen, que ocupava a secretaria do Tesouro norte-americano. “E estamos justamente discutindo parcerias com os Estados Unidos da América, sobretudo na questão da transição energética, que nós temos várias coisas comuns, interesse em solar, em eólica e biocombustíveis.”

Haddad afirmou que a soberania do Brasil não está em discussão. “O nosso comando, as nossas relações bilaterais estão em discussão. Por isso é saudável que os Estados Unidos se interessem mais pelo Brasil e vice-versa. É um parceiro muito tradicional nosso”, disse.

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