Um dos maiores gramáticos e especialistas da Língua Portuguesa no Brasil, Evanildo Bechara morreu ontem, aos 97 anos. Ele estava internado em um hospital de Botafogo, no Rio, e teve falência múltipla de órgãos. No ano passado, Bechara fraturou o fêmur e desde então lutava contra as sequelas.
O acadêmico ocupava a Cadeira n.º 33 da Academia Brasileira de Letras (ABL), eleito em 11 de dezembro de 2000, na sucessão de Afrânio Coutinho. A morte foi no mesmo dia em que o crítico literário e professor Paulo Henriques Britto foi eleito para ocupar a cadeira que ficou vaga após a morte da escritora Heloisa Teixeira.
Dentre as obras mais celebradas do escritor destacam-se Moderna Gramática, Bechara Para Concursos e Gramática Fácil, livros fundamentais para de estudo, oferecendo uma abordagem profunda e acessível sobre gramática e norma culta. Foi ainda um dos principais responsáveis pela revisão e atualização do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP), obra da ABL, que se tornou referência ao incorporar as mudanças do Acordo Ortográfico de 1990.
BIOGRAFIA
Evanildo Cavalcante Bechara nasceu no Recife (PE), em 26 de fevereiro de 1928. Na adolescência, órfão de pai, transferiu-se para o Rio, a fim de completar a educação na casa de um tio-avô. Aos 15 anos conheceu o professor Manuel Said Ali, um dos mais importantes estudiosos da língua. Essa experiência permitiu a Evanildo trilhar caminhos no campo linguístico.
Aos 17 anos, escreveu seu primeiro ensaio, intitulado Fenômenos de Intonação. Ao longo da carreira, tornou-se membro correspondente da Academia das Ciências de Lisboa e da Academia Galega, e doutor honoris causa pela Universidade de Coimbra.
Foi convidado por acadêmicos amigos para candidatar-se à ABL, justamente na vaga do grande Afrânio Coutinho, sob a alegação de que a instituição precisava de um filólogo para prosseguir seus deveres estatutários no âmbito da Língua Portuguesa. Foi Diretor Tesoureiro da Instituição (2002-2003) e secretário-geral (2004-2005). Defendia que “língua é uso, pois se concretiza no falar das pessoas”. Por isso, também sofria críticas, como quando defendeu a incorporação de “dorama” (as séries asiáticas) ao dicionário da língua.
REAÇÃO
“Bechara era o maior especialista em língua portuguesa, com fama que ultrapassa nossas fronteiras”, disse Merval Pereira, presidente da ABL, ao jornal O Globo. “Foi o representante brasileiro na reforma ortográfica feita com Portugal. Além de tudo, era um professor generoso e uma pessoa íntegra e cordial.”