Uma nova espécie de morcego foi descoberta no Brasil e em vizinhos latino-americanos. Batizado como Myotis guarani, em homenagem à etnia indígena que ocupava as áreas de distribuição da nova espécie – Pantanal, Chaco e parte do Cerrado e da Mata Atlântica no Brasil, na Bolívia, no Paraguai e na Argentina -, o animal é insetívoro (se alimenta de insetos) e pesa cerca de 6 gramas.
A descoberta foi feita por um grupo de pesquisadores do Programa de Desenvolvimento do Câmpus Fiocruz Mata Atlântica, que funciona em parceria com cientistas da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), da Universidade do Porto, de Portugal, e do Smithsonian Institution, dos EUA. O estudo foi publicado no Journal of Mammalogy, periódico internacional de biologia e taxonomia de mamíferos.
“A descoberta teve início em análises genéticas. Fomos percebendo que as sequências de DNA já apontavam para uma nova espécie do gênero Myotis. A partir daí, começamos a investigar a morfologia de morcegos disponíveis em coleções biológicas centenárias e confirmamos se tratar de uma nova espécie”, diz o pesquisador da Fiocruz Mata Atlântica Roberto Novaes, primeiro autor e correspondente do artigo, em uma publicação da agência de notícias Fiocruz.
“Levamos esse pressuposto para investigar mais sobre a ocorrência e a história natural dessa nova espécie nas expedições que a Fiocruz Mata Atlântica realiza em diversos biomas do País. Especificamente na recente expedição ao Pantanal, que aconteceu em março de 2025, conseguimos obter muitos dados e amostras de Myotis guarani, o que vai permitir diversas pesquisas no futuro”, diz Novaes.
Espécies parecidas
Segundo o pesquisador, morcegos Myotis guarani já foram vistos e fazem parte de coleções e museus pelo mundo há mais de 120 anos. Isso porque eram confundidos com outras espécies do gênero Myotis. Há mais de 35 espécies neotropicais muito parecidas entre si – a diferenciação, geralmente, é feita por teste genético.
A descoberta da nova espécie é importante para o controle e o monitoramento de zoonoses de origem silvestre, que podem afetar tanto a saúde pública quanto a economia. Isso porque os morcegos, únicos mamíferos que voam, funcionam como reservatórios de diversos microrganismos.
O que não significa que são “vilões”. Segundo a Fiocruz, os morcegos têm papel fundamental na manutenção e no equilíbrio de ecossistemas, realizando serviços ecológicos de polinização, dispersão de sementes nativas e controle de populações de insetos considerados pragas agrícolas e vetores de doenças. “Esse morcego (Myotis guarani) pode comer mais de 200 insetos (mariposas, mosquitos e besouros) por noite”, diz Novaes.