Estudo analisa relação dos paulistanos com o tempo gasto nos deslocamentos pela cidade

Para 78% da população paulistana, os deslocamentos pela cidade são os fatores que mais contribuem para a falta de tempo no cotidiano. O índice supera – de longe – a demora no transporte público (49%), filas em serviços (44%) e cuidados domésticos (31%) como outras razões para a sensação de falta de tempo.

Os dados fazem parte de um levantamento exclusivo feito pelo Instituto Locomotiva, com apoio da Uber, na cidade de São Paulo. A pesquisa ouviu 1,5 mil pessoas, entre elas, 400 moradores de favelas, entre maio e junho. A margem de erro para a amostra da população geral é de 3 pontos porcentuais.

A pesquisa, intitulada “Valorização do tempo em São Paulo: angústias e demandas da população”, mostra que o tempo livre é tão relevante quanto a renda mensal: 60% dos entrevistados concordam com a frase “Eu preferiria ter uma hora livre a mais por dia a uma renda 10% maior”.

Entre as pessoas de 30 a 49 anos, o porcentual de concordância com a afirmação chega a 65%.

As dificuldades com o transporte têm um impacto significativo na gestão de tempo. Sete em cada dez paulistanos sentem que o tempo gasto no trânsito atrapalha outras atividades importantes.

Embora seja uma realidade para a grande maioria dos paulistanos, a falta de tempo afeta com mais intensidade mulheres, negros e pobres.

Veja outros resultados da pesquisa:

– 76% dos entrevistados concordam com a frase “falta tempo no meu dia a dia” (isso equivale a 7,6 milhões de paulistanos);

– 85% já chegaram atrasados ou perderam compromissos por conta de problemas de deslocamento.

Falta de tempo impacta mais os vulneráveis

Para os moradores de favelas, os desafios com a mobilidade parecem ser ainda mais intensos:

– 90% deles consideram o tempo de espera nos pontos de ônibus muito longo, contra 85% da população em geral;

– as linhas de metrô e trem não têm o trajeto ideal para 68% dos que residem em favela ante 58% da população geral.

“O que o estudo nos mostra é que os desafios de mobilidade enfrentados pelos moradores de favelas vão muito além das dificuldades com o transporte público. Eles se deparam com a infraestrutura local, falta de acesso às grandes redes de transporte e continua em trajetos que muitas vezes não funcionam para eles”, analisa Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva.

Polêmica sobre transporte por motos

As limitações na oferta do transporte público impactam os deslocamentos dos paulistanos. E os desafios aumentam nas periferias. Neste contexto, a pesquisa também questionou os entrevistados sobre o transporte remunerado por motos. Nove em cada dez entrevistados consideram o modal importante em áreas com pouca oferta de transporte público.

A enquete foi feita antes de o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) ter declarado inconstitucional o decreto que proíbe o transporte de passageiros por moto em São Paulo. O Órgão Especial da corte entendeu que não cabe ao município proibir o modal. Isso só poderia ser feito por lei federal.

A decisão, porém, só surtirá efeitos 90 dias após a publicação do acórdão, período no qual a prefeitura deve regulamentar o serviço.

O prefeito Ricardo Nunes (MDB) afirmou que vai recorrer da decisão e que a cidade de São Paulo possui competência legal para determinar a não autorização do modal.

A Prefeitura veta a atividade sob o argumento de que o modal pode aumentar o número de acidentes e de vítimas em um trânsito já sobrecarregado.

Há mais de dois anos, o Poder Municipal trava uma disputa contra o avanço de aplicativos como Uber e 99, que tentam oferecer o serviço de transporte de passageiros por motocicleta na cidade. Nesse período, a Justiça já autorizou e proibiu a modalidade em diferentes decisões.

A Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia (Amobitec), que representa o setor, comemorou a decisão do TJ-SP e tratou o acórdão como “um avanço para garantir os direitos da população da cidade e das empresas do setor”.

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