A Prefeitura de São Paulo afirmou nesta terça-feira, 16, que a concessionária de energia Enel só cumpriu 11% do plano anual de poda de árvores da capital.
A empresa e a gestão municipal têm um convênio para que a empresa realize a poda preventiva de galhos em contato com a fiação elétrica. O objetivo é evitar rompimento de fios durante eventos climáticos extremos.
Segundo a Prefeitura, a Enel se comprometeu a executar 282.271 podas de árvores em 2025. Mas o Município afirma que só 31.945 (11%) foram realizadas até esta segunda-feira, 15.
“O resultado é pífio e comprova a falta de compromisso da concessionária e o péssimo serviço prestado à população de São Paulo”, afirmou a gestão Ricardo Nunes (MDB) em nota divulgada na tarde desta terça. A reportagem questionou a Enel sobre os dados e a declaração, mas ainda não obteve retorno.
Em comunicados enviados nos últimos dias, a empresa destacou ter duplicado o número de podas de árvores em contato com a rede desde que assumiu a concessão da distribuição de energia na Grande São Paulo, em 2018. A companhia ainda afirma realizar anualmente mais de 600 mil por ano desde 2024.
A Prefeitura, por sua vez, diz ter realizado 162 mil podas e 13 mil remoções de árvores em 2025. A divulgação dos dados pela gestão ocorre após um apagão ter deixado 2,2 milhões de imóveis na região metropolitana no escuro em decorrência de vento recorde na quarta-feira, 10.
Nesta terça, seis dias após o evento climático, paulistas ainda reclamam de falta de eletricidade. A Enel, porém, diz que todos os casos motivados pela ventania da semana passada já foram resolvidos.
A nova crise de energia – após episódios semelhantes em 2023 e 2024 – fez a Enel voltar aos holofotes, com pedidos de intervenção federal pelas autoridades de São Paulo, como Nunes. O governador Tarcísio de Freitas também pediu medida semelhante e disse que os paulistas não podem “ficar reféns” da Enel.
Uma das preocupações é sobre a possibilidade de renovação antecipada da concessão com a empresa italiana, cujo contrato é válido até 2028.
A concessionária também aponta investimento recorde para modernização da rede elétrica desde que assumiu a concessão, em 2018. Entre este ano e 2027, a previsão foi de R$ 10,4 bilhões. A empresa também disse ter intensificado manutenções preventivas.
A Enel tem destacado que os ventos na semana passada atingiram quase 100 km/h, o que resultou em centenas de árvores caídas. A empresa diz ainda ter mobilizado até 1,8 mil equipes para os reparos.
Esse número é contestado por Nunes (MDB), que diz ter identificado uma quantidade bem menor de veículos da empresa nas ruas por meio do sistema municipal de câmeras.
‘Estamos desesperados’, diz dono de restaurante em Pinheiros que está sem luz há dias
Proprietário de um restaurante em um sobrado na Rua Francisco Leitão, em Pinheiros, na zona oeste, Hugo Delgado relata ainda estar sem energia nesta terça. Segundo ele, o estabelecimento já soma R$ 40 mil de prejuízo com as perdas do apagão, e a Enel ainda não informa um prazo para restabelecer o serviço. “Estamos desesperados.”
A luz no local acabou às 14h de quarta, assim como no resto do bairro, e chegou a voltar às 11h30 de quinta, 11. Mas a felicidade durou pouco: meia hora depois, uma árvore em frente ao restaurante caiu, derrubando a fiação elétrica. “O resto da rua está com energia. Só a gente e o sobrado vizinho, com duas casas geminadas, seguimos no escuro”, afirma Delgado.
O proprietário do restaurante em Pinheiros calcula ao menos R$ 30 mil de prejuízo com vendas perdidas nos dias fechados e R$ 3 mil com perda de produtos em geladeiras, além de gastos extras de R$ 7 mil com a contratação de um gerador, que usou no sábado, 13. “Somos um restaurante pequeno e esses números são grandes para a gente”, enfatiza. “É muito assustador, isso quebrou completamente as nossas pernas.”
Além do gerador alugado no sábado, dia de maior movimento, Delgado tem tentado manter o restaurante aberto na hora do almoço com o uso de luz natural. Ele conta com a ajuda de vizinhos com energia, que ofereceram suas geladeiras para que ele pudesse guardar produtos. O empresário também precisou recorrer aos vizinhos para carregar o celular e as maquininhas de cartão de crédito.
“A situação está muito complicada e não sabemos quando vai normalizar”, desabafa, suspirando. “É urgente. Já são seis dias. Tentamos contato com a Enel por todos os canais, pelo aplicativo, atendimento telefônico, telefone e até direct do Instagram. E nada.”
Após a reportagem questionar a concessionária, a empresa enviou equipes ao endereço.


