Em abril, Ibovespa avança 3,69%, perto da máxima histórica, e dólar cai 0,50%

Na última sessão de abril – mês em que avançou 3,69%, em sucessão à alta de 6,08% em março -, o Ibovespa fez uma pausa após sequência de sete ganhos diários que o alçou dos 128,3 mil pontos, no fechamento de 16 de abril, para perto dos 136,2 mil no melhor momento do intervalo, durante a sessão da terça-feira. Nesta quarta-feira, 30, oscilou dos 133.955,00 aos 135.171,39, saindo de abertura aos 135.094,43. Ao fim, o índice mostrava leve perda de 0,02%, aos 135.066,97 pontos, com giro reforçado a R$ 28,8 bilhões no fechamento do mês. Na semana, tem leve alta (+0,24%), com ganho no ano a 12,29%.

A sessão final do mês espelhou, de certa forma, o que se viu especialmente na segunda quinzena de abril, período em que a saída de recursos dos mercados dos Estados Unidos em direção a alternativas – não só na Europa e em parte da Ásia, como o Japão, mas também a emergentes como México e Brasil – favoreceu a recuperação do Ibovespa, em movimento que o reaproxima da máxima histórica de 137 mil pontos do fim de agosto passado.

“Dia sem novidades impactantes para o mercado interno, o que favoreceu um leve ajuste após as altas recentes, com os investidores tendendo, hoje, a uma realização de lucros em um abril positivo para o Ibovespa”, resume Ian Lopes, economista da Valor Investimentos.

Como prevaleceu no mês – em que a atenção esteve concentrada nas idas e vindas do governo Trump sobre tarifas comerciais, com efeito para o PIB global -, o dia foi negativo para as grandes ações de commodities, Vale (ON -1,82%) e Petrobras (ON -1,54%, PN -1,87%). No mês, o papel da mineradora cedeu 6,77% e os da petroleira recuaram, respectivamente, 19,71% e 17,34%. Em abril, tanto o barril do WTI, referência dos EUA, como o Brent, benchmark global, acumularam perdas superiores a 15%. Por sua vez, o minério de ferro recuou 9,5% em Dalian (China), no mês, cotado abaixo de US$ 100 por tonelada – a US$ 96,77 para setembro, nesta quarta-feira.

Por outro lado, observa Naio Ino, gestor de renda variável na Western Asset, o índice de small caps – que reúne papéis com menor capitalização de mercado, integrado em especial por ações mais sensíveis a juros e à economia doméstica, como as de consumo – teve avanço em torno de 8% no mês. “Houve uma longa sequência de ingresso líquido de recursos estrangeiros na B3 a partir do dia 16, o que sustentou essa recuperação do Ibovespa na segunda quinzena de abril”, destaca o gestor, chamando atenção para a rotação de ativos a partir dos mercados americanos, ante a cautela suscitada pelos ruídos em torno da política tarifária dos EUA, que recoloca no radar a possibilidade de uma recessão global.

No quadro doméstico – que permaneceu como pano de fundo ao longo do mês, em que os gatilhos estiveram associados ao noticiário e a movimentos deflagrados do exterior -, as preocupações fiscais foram dando espaço à expectativa em torno do momento em que o ciclo de alta da Selic será interrompido, com efeito também para a curva do DI e a demanda por ações associadas à economia interna, aponta Ino.

“Estamos perto do recorde histórico do Ibovespa, mas dá para ficar otimista? Há muitas variáveis a considerar, e o grau de incerteza segue muito elevado, com bastante ruído lá fora. Toda a discussão sobre tarifas foi muito errática ao longo de abril. Difícil colocar, com convicção, o pé no acelerador”, acrescenta.

À frente, diz o gestor, um gatilho importante para a sustentação do apetite por risco seria uma distensão entre Estados Unidos e China na guerra comercial – algo imprevisível no momento, quando se considera a inclinação de Trump por afirmações impulsivas, em constante revisão, e a atitude firme adotada pela China com relação à possibilidade de negociar, após a ofensiva comercial da Casa Branca.

Com o dólar à vista a R$ 5,7053 no fechamento de março, em retração de 3,57% no mês passado, o índice da B3 se recuperou então a 22.831,32, superando o nível do fim de janeiro (21.611,03) e chegando, naquela altura, ao maior nível desde o fechamento de setembro a 24.198,04. Agora, no encerramento de abril, com o dólar à vista em R$ 5,6766 (baixa de 0,50% no mês e alta de 0,82% na sessão), o Ibovespa na moeda americana vai a 23.793,63.

Na ponta do Ibovespa nesta quarta-feira, destaque para IRB (+5,31%), CPFL (+5,22%) e Santander Brasil (+3,94%) após balanço trimestral, que favoreceu o setor de bancos como um todo nesta quarta-feira: BB ON +1,51%, Itaú PN +0,88%, Bradesco ON +1,07% e PN +1,70%.

No mês, os ganhos das maiores instituições financeiras ficaram entre 2,63% (BB ON) e 13,35% (Itaú PN). No lado perdedor do Ibovespa na sessão, destaque nesta quarta para Azul (-15,52%), Weg (-11,55%) e Pão de Açúcar (-7,84%).

Dólar

Após oito pregões seguidos de queda, em que acumulou desvalorização de 4,40%, o dólar subiu na sessão desta quarta-feira, 30, mas manteve-se abaixo da linha de R$ 5,70. Dados mais fracos de atividade na China e nos EUA derrubaram preços de commodities, abalando divisas emergentes, em especial as latino-americanas.

Operadores afirmam que havia espaço para um movimento de ajuste e realização de lucros no mercado doméstico após o rali recente do real. Fatores técnicos típicos de fim de mês, como a disputa pela formação da última taxa ptax de abril e a rolagem de contratos futuros, podem ter pesado contra o real.

Com máxima a R$ 5,6875, no início da tarde, o dólar à vista fechou em alta de 0,82%, a R$ 5,6766.

Apesar do repique nesta quarta, a divisa ainda recua 0,20% na semana e perde 0,50% em abril. No ano, a moeda americana acumula desvalorização de 8,15%.

O economista-chefe da corretora Monte Bravo, Luciano Costa, observa que a apreciação do real nos últimos dias esteve ligada à rotação global de fluxo de capitais, com migração de parte dos recursos alocados por investidores nos EUA para outros países.

Já a alta do dólar nesta quarta é fruto de um movimento de depreciação dos preços das commodities, após leitura aquém das expectativas de índice de gerente de compras (PMI, na sigla em inglês) industrial da China em abril, observa o economista.

“Vimos uma realização no mercado de commodities que tirou força do real. Além disso, dados fracos da economia americana provocaram aversão ao risco, fortalecendo o dólar”, afirma Costa, ressaltando que, apesar da divulgação de indicadores do mercado de trabalho local (Pnad contínua e Caged), o movimento do câmbio respondeu nesta quarta basicamente a fatores globais.

Termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes, o índice DXY apresentou alta moderada e subia cerca de 0,30% no fim da tarde, ao redor dos 99,600 pontos, após máxima aos 99,648 pontos. Entre as moedas latino-americanas, quem mais perdeu foi o peso colombiano, seguido pelo real.

A primeira leitura do PIB americano no primeiro trimestre mostrou retração de 0,3%, enquanto a mediana de Projeções Broadcast era de avanço de 0,1%. Já os números do relatório ADP revelaram criação de 62 mil empregos no setor privado dos EUA em abril, bem abaixo das estimativas (134 mil). Na sexta-feira, 2, sai o relatório oficial de emprego (payroll) de março.

Analistas ponderaram que a contração do PIB dos EUA foi provocada em grande medida pelo aumento de importações, com antecipação de compras antes do anúncio das tarifas recíprocas por Donald Trump, e cortes de gastos do governo.

Embora a demanda doméstica continue a mostrar sinais de solidez, há temores crescentes de que a política comercial de Trump provoque uma recessão combinada com uma alta transitória da inflação. Monitoramento do CME Group mostra que ganharam força as apostas em corte acumulado de 1 ponto porcentual na taxa básica americana pelo Federal Reserve.

Trump disse nesta quarta à tarde que a “China está tendo uma tremenda dificuldade econômica” e reforçou a necessidade de um acordo justo com os chineses. Ao ser questionado se vai falar com o líder chinês, XI Jinping, respondeu que “vai acontecer”.

Costa, da Monte Bravo, traça um cenário em que as tarifas dos EUA para a China recuem dos 145% atuais para algo entre 50% e 60%, ainda assim um nível elevado. Com as negociações entre EUA e outros países, a tarifa americana de importação efetiva, que saltou de 2,4% para 22,4% com o tarifaço, deve se situar em torno de 10% a 15%.

“Teoricamente, isso ainda vai trazer efeitos secundários relevantes para a economia, que está desacelerando. Essa dinâmica deve abrir espaço para o Fed cortar os juros no segundo semestre”, afirma Costa, para quem uma nova rodada de apreciação do real estaria ligada a um enfraquecimento maior do índice DXY.

Ele observa que do ponto de vista dos fundamentos, com piora do déficit em transações correntes e superávit comercial perdendo tração, não há razão para imaginar um dólar abaixo dos níveis atuais. “E no segundo semestre a pauta doméstica vai começar a ganhar peso, com a discussão da isenção do IR e do orçamento de 2026”, afirma.

Juros

Os juros futuros recuaram nesta quarta-feira, 30, pré-feriado, conduzidos pelo aumento dos temores sobre recessão nos EUA após dados fracos da economia e pelo resultado do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) pior do que o esperado.

No fechamento, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 caía de 14,697% para 14,675%, e a do DI para janeiro de 2027, de 13,96% para 13,91%. O DI para janeiro de 2029 terminou o dia com taxa de 13,53%, de 13,65% ontem no ajuste.

As taxas encerraram abril em níveis bem mais baixos do que haviam terminado março, e com perda relevante nos níveis de inclinação da curva. Enquanto as curtas cederam em torno de 35 pontos-base, as longas caíram mais de 100. “O ineditismo do cenário global tem se mostrado, até o momento, relativamente benigno para o Brasil”, afirmam os economistas da Terra Investimentos, em relatório. “O mercado local tem se beneficiado da fuga dos ativos em dólar, levando à redução das taxas de juros longas locais, à apreciação do real e à valorização dos ativos locais”, complementam.

Nesta quarta-feira, pela manhã, o cenário externo foi preponderante para a queda das taxas, uma vez que a Pnad Contínua no trimestre até março mostrou condições ainda apertadas para o mercado de trabalho, ainda que a taxa de desemprego tenha acelerado na margem, a 7,0%, alinhada à mediana das estimativas.

Os dados de atividade dos EUA decepcionaram, com destaque para o PIB do primeiro trimestre, com retração de 0,3% (primeira estimativa), contrariando o consenso de crescimento de 0,1%. Foi a primeira queda em três anos e preocupa por tratar-se de um período em que ainda não haviam sido anunciadas as tarifas de importação do governo Trump, o que ocorreu em 2 de abril. Houve reforço nas apostas de corte total de 100 pontos nos juros pelo Federal Reserve em 2025.

À tarde, o fôlego de queda foi renovado pelos dados do Caged no trimestre até março. A geração de 71.576 vagas veio abaixo do piso das estimativas, de 97.000, coletadas pelo Projeções Broadcast. Foi o segundo pior para o mês desde o início da série histórica, em 2020. O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, argumentou que o número excepcional de vagas criadas em fevereiro, 437.111, já havia antecipado uma geração de postos que em outros anos ocorreu em março. De todo modo, disse “estar na hora de o Banco Central parar de falar em aumento da taxa Selic e começar a tratar de uma redução dos juros”.

Para Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike, o dado do Caged mostra que o mercado formal já começa a sentir os efeitos do aperto monetário. “Esse número mais frio contrasta com o da Pnad, que ainda mostra um desemprego historicamente baixo, mas é importante lembrar que a Pnad é trimestral e capta movimentos mais lentos. O Caged, por outro lado, sinaliza que o ritmo da economia está mudando. Essa freada no emprego formal deve aparecer nos próximos trimestres do PIB”, afirma.

O contexto internacional permeado pelos receios sobre o impacto do tarifaço na economia global, somado à percepção de que a economia brasileira tende a sentir mais os efeitos do aperto da Selic a partir do segundo trimestre, mantém o mercado em dúvida sobre em qual medida o Copom vai reduzir o ritmo de alta do juro em maio.

“O mercado está entre 50 e 25 pontos, com esta última opção ganhando probabilidade diante da incerteza externa, e dados como o Caged de hoje sugerem desaceleração da atividade à frente”, afirma a economista-chefe da Mirae Asset, Marianna Costa. Por outro lado, pondera que a dinâmica da inflação corrente, embora não tenha piorado, não é benigna, e roda acima da meta de 3%. “Como o cenário externo traz uma incerteza muito grande, é possível que o BC deixe a Selic parada por muito tempo antes de começar a cortar. O comunicado deve trazer um discurso duro, mas deixará a porta aberta para as próximas decisões.”

Em operação antecipada nesta semana em razão do feriado do Dia do Trabalhador amanhã, o Tesouro trouxe um leilão grande de prefixados. Vendeu 17,8 milhões das 18 milhões de Letras do Tesouro Nacional (LTN) ofertadas e integralmente o lote de 4 milhões de Notas do Tesouro Nacional – Série F (NTN-F), sem impactos relevantes para a curva do DI.

Deixe um comentário