Em sessão marcada por instabilidade e trocas de sinal, o dólar se firmou em baixa nas últimas horas de negócios e encerrou esta segunda-feira, 8, em queda de 0,20%, a R$ 5,4209. Segundo operadores, o vaivém da taxa de câmbio ao longo do pregão reflete as incertezas provocadas pelo redesenho da corrida presidencial com o anúncio no fim da semana passada da pré-candidatura do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) à presidência da República.
Pela manhã, a divisa até ensaiou uma baixa mais forte e rompeu o piso de R$ 5,40, com mínima a R$ 5,3870, em aparente movimento de realização de lucros e correção de excessos após o avanço de 2,29% da moeda americana na sexta-feira, 5. A recuperação do real era amparada por falas do próprio Flávio, no domingo, sobre eventual retirada de seu nome do pleito, caso seja aprovada a anistia aos condenados por tentativa de golpe de estado, algo que livraria o ex-presidente Jair Bolsonaro da prisão.
A saída de Flávio fortaleceria a candidatura do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, visto por ala relevante do mercado como fiador de um ajuste fiscal estrutural a partir de 2027 e com mais condições políticas no campo da direita para evitar a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
No início da tarde, o dólar virou para o campo positivo e correu e tocou máxima a R$ 5,4677. A valorização da moeda americana lá fora e o tombo do petróleo jogavam contra o real. A desaceleração das taxas dos Treasuries e a apreciação de divisas emergentes latino-americanas no restante do pregão teriam aberto espaço para que o dólar voltasse a recuar o mercado doméstico, a despeito das incertezas no campo político.
O economista-chefe da corretora Monte Bravo, Luciano Costa, observa que houve um movimento recente de abertura das taxas dos Treasuries e valorização do dólar, na esteira das discussões sobre o grau de afrouxamento monetário nos EUA ao longo de 2026, dado que um corte de 25 pontos-base na taxa básica pelo Federal Reserve nesta quarta-feira, 10, já é dado como certo.
“Apesar do movimento externo e da sazonalidade ruim com as remessas de fim de ano, a questão política tem um impacto muito maior neste momento. O mercado ainda está tentando entender os desdobramentos da pré-candidatura de Flávio Bolsonaro”, afirma Costa, para quem a exigência feita pelo filho do ex-presidente para sair da disputa é inviável.
Pela manhã, em post no X, Flávio afirmou que “além da anistia”, é preciso que o nome de Jair Bolsonaro esteja nas urnas. O senador vai se reunir nesta noite com os presidentes do PL, do PP e do União Brasil. O presidente do Republicanos, partido do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, declinou o convite.
Presidente do PL, Ciro Nogueira disse ser amigo do senador, mas ponderou que “política não se faz só com amizades”. A escolha da chapa presidencial depende de uma costura entre partidos de centro e direita, alertou. Lideranças ouvidas pelo Broadcast Político afirmam que alguns partidos de centro-direita evitam embarcar de ‘bate-pronto’ na candidatura de Flávio, vista como uma estratégia para manter o nome Bolsonaro como líder da oposição.
“Há muitos rumores e o mercado tende a ficar em grande parte à mercê do quadro político, o que provoca maior instabilidade. O dólar mudou de patamar com a alta mais forte na sexta-feira e é preciso ver agora em que nível vai se acomodar”, afirma Costa, da Monte Bravo.
Em relatório, o UBS Wealth Management destaca que o real segue como a moeda mais atraente para operações de carry trade entre divisas emergentes pares, mas que a possibilidade de aumento dos riscos fiscais nos próximos 12 meses e a perspectiva de um ciclo de redução da taxa de câmbio podem “atuar como fator de pressão”.
O UBS WM afirma que a postura do candidato à frente nas pesquisas de intenção de voto na corrida presidencial em relação à responsabilidade fiscal será “fundamental” para o comportamento do real ao longo de 2026.
Para o UBS WM, o comportamento favorável da inflação no curto prazo e o recuo das expectativas inflacionárias “devem dar confiança suficiente” para o Copom iniciar um ciclo de cortes dos juros no fim do primeiro trimestre ou no início do segundo, levando a taxa Selic para perto de 12%.
Bolsa
O rápido recuo sinalizado pelo senador Flávio Bolsonaro em relação à candidatura presidencial em 2026 deu fôlego à abertura de semana do Ibovespa. Porém, não o suficiente para reaproximar o índice do recorde intradia de 165 mil pontos, visto na última sexta-feira pouco antes do anúncio da candidatura de Flávio, com o apoio do pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro, que cumpre pena em Brasília. A volatilidade nos sinais da família Bolsonaro quase replica a do mercado no fechamento da semana passada, quando o Ibovespa oscilou 8 mil pontos entre a mínima do dia e a máxima histórica renovada na mesma sessão, e colheu sua maior perda em quase 5 anos, de 4,31% – pior desempenho diário desde fevereiro de 2021.
O índice da B3 oscilou em faixa bem mais estreita, dos 157.369,36 – mínima correspondente ao nível de abertura – até os 159.235,36 pontos, no melhor momento da sessão. E fechou em alta moderada a 0,52%, aos 158.187,43 pontos, com giro ainda reforçado, a R$ 27,2 bilhões – embora muito distante dos R$ 44,3 bilhões da última sexta-feira, em nível pouco visto fora dos dias de vencimento de opções sobre o Ibovespa. Em dezembro, o índice da B3 ainda recua 0,56%, com ganho no ano a 31,51%, por enquanto lutando pelo melhor desempenho desde 2016, quando avançou quase 39% – e volta a emparelhar com o de 2019, quando a alta foi de 31,58%.
Perto do fechamento, veio uma nova reviravolta política pela boca do senador, conforme publicado pela “Folha de S. Paulo“: sua candidatura seria para valer e irreversível, e que o sobrenome Bolsonaro seria uma vantagem sobre a alternativa Tarcísio de Freitas, não um ônus, na avaliação do parlamentar. As novas declarações contribuíram para o Ibovespa, marginal e pontualmente, chegar a perder um pouco de ímpeto em direção ao ajuste final desta segunda-feira, 08.
Entre idas e vindas, após o próprio senador Flávio Bolsonaro ter colocado, no fim de semana, um “preço” para retirar sua candidatura à Presidência em 2026, o que analistas políticos já especulavam na sexta-feira parece ganhar os contornos, mesmo, de um “balão de ensaio”. E não para verificar a viabilidade da candidatura – em que pouco se acredita -, mas sim para manter a relevância do ex-presidente como fiador político, e condicionar o apoio, de quem vier a ser abraçado, a pautas importantes para a família Bolsonaro.
Tal recuo político trouxe um certo ânimo ao mercado neste início de semana, mas a falta de fôlego da recuperação decorre, também, da cautela que costuma prevalecer antes das decisões de política monetária, nos EUA e no Brasil, que voltam a ocorrer junto em dezembro, nesta mesma quarta-feira. Em Nova York nesta segunda, Dow Jones -0,45%, S&P 500 -0,35% e Nasdaq -0,14%. “Minha expectativa é de que o Copom reforce a necessidade de estabilidade e previsibilidade, evitando alimentar volatilidade num momento em que o investidor está sensível a riscos fiscais e políticos”, observa Bruno Corano, CEO da Corano Capital.
Alguns partidos de centro-direita evitam embarcar de ‘bate-pronto’ em uma nova candidatura da família Bolsonaro à Presidência da República e veem espaço para a construção de um nome alternativo para 2026. De acordo com lideranças ouvidas pelo Broadcast Político, ainda há desconfiança de que a pré-candidatura de Flávio não vai se sustentar até o fim, e que se trata de uma estratégia momentânea de comunicação para manter o nome Bolsonaro na liderança da oposição.
Para Felipe Sant’Anna, especialista em ações da Axia Investing, os sinais contraditórios emitidos pela família Bolsonaro com poucos dias de diferença, entre ir ou não para a disputa presidencial direta, dá a entender que pode haver desistência. E mantém, potencialmente, sobre a mesa a eventual candidatura do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas: o preferido do mercado na medida em que se identifica o seu nome a aguardado ajuste fiscal a partir de 2027, que estabilize a trajetória da relação dívida/PIB – algo visto como essencial.
Na B3, à exceção de Vale (ON -0,68%), a recuperação desta segunda-feira foi liderada por carros-chefes como Petrobras (ON +1,34%, PN +0,92%) e pelas ações de bancos, como Itaú (PN +0,48%) e BB (ON +2,08%), assim como Bradesco (ON +0,51%, PN +0,72%). Na ponta ganhadora, IRB (+10,20%), Raízen (+4,82%) e Cyrela (+4,17%). No lado oposto, Hapvida (-6,01%), Assaí (-4,43%) e Natura (-2,85%).
“Tivemos uma alta apenas moderada após a forte ressaca da sexta-feira”, resume Nicolas Merola, analista da EQI Research, mencionando não apenas a queda acentuada do Ibovespa no fechamento da semana passada, como a “disparada” do dólar frente ao real e também dos juros futuros domésticos, refletindo a escalada da percepção de risco político.
“Quadro na sexta-feira era de esquerda unificada em torno do presidente Lula e de direita fragmentada com a candidatura Flávio Bolsonaro. A eleição ainda está distante, tem muita coisa para acontecer ainda, mas o processo político-eleitoral vai ser acompanhado com lupa, cada vez mais, trazendo volatilidade”, diz Merola.
“O mercado sentiu, e sentiu muito a candidatura Flávio Bolsonaro, não porque esse movimento muda fundamentos econômicos, mas porque foi o pretexto perfeito para uma correção que já era esperada, depois da sequência intensa de queda do dólar e alta da Bolsa. Quando Flávio dá sinais de que pode desistir, o humor melhora”, diz Alison Correia, analista e cofundador da Dom Investimentos.
Juros
Em queda tímida até o início da tarde, os juros futuros negociados na B3 encontraram espaço para ceder um pouco mais após o dólar ter se firmado em leve baixa na segunda etapa do pregão desta segunda-feira, 08. O alívio, que chegou a cerca de 10 pontos-base nos vértices a partir de 2028, também acompanhou o arrefecimento da curva dos Treasuries, que perdeu ímpeto após um leilão de títulos de 3 anos com demanda expressiva.
Segundo agentes, o principal condutor dos negócios na sessão foi a correção da forte alta de sexta-feira, que está longe de ser totalmente devolvida – dia em que a oficialização da pré-candidatura do senador Flávio Bolsonaro (PL) à eleição presidencial de 2026 embaralhou as apostas do mercado para o pleito e levou o vértice de janeiro de 2031 a saltar quase 60 pontos-base.
Hoje, declarações do filho do ex-presidente Jair Bolsonaro de que pode desistir da corrida presencial caso os condenados na trama golpista sejam anistiados animaram os investidores. Isso porque, com eventual volta atrás, o nome do governador de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos), tido pelo mercado como o mais competitivo da direita e, também, com maior probabilidade de implementar um ajuste fiscal em 2027, volta a ganhar musculatura.
Segundo apurou o Broadcast Político, algumas legendas de centro-direita não querem apoiar imediatamente o senador para a disputa presidencial, por avaliarem que sua candidatura não deve se sustentar, podendo ser uma estratégia pontual para manter o bolsonarismo ainda como polo oposicionista. Neste domingo, Flávio disse em entrevista à TV Record que o “preço” para desistir de concorrer em 2026 seria ter Bolsonaro “livre e nas urnas”. Comentou ainda que Tarcísio é o principal “cara do time” e que acredita na reeleição dele como governador de São Paulo.
No fechamento, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 diminuiu de 13,843% no ajuste anterior para 13,785%. O DI para janeiro de 2029 caiu de 13,229% no ajuste a 13,18%. O DI para janeiro de 2031 marcou 13,41%, vindo de 13,472% no ajuste.
Diretor de análise da Zero Markets Brasil, Marcos Praça afirma que o pregão foi uma discreta correção do que avalia como exagero da sessão anterior. “Hoje foi mais um ‘morde e assopra’, com o Flávio deixando claro que quer a anistia do pai, e que a candidatura não é um forte desejo seu. É só um alarde, e o mercado tende a continuar corrigindo isso. Nesta segunda, ficou mais ‘em cima do muro'”, avaliou, tendo em vista, além da volatilidade do cenário político, a proximidade das definições de juro básico aqui e nos Estados Unidos, nesta quarta-feira.
“Vejo o movimento desta segunda mais como oportunismo da especulação. Claro que o mercado gostaria mais do Tarcísio, por causa da expectativa em torno da política fiscal, pensando que o presidente Lula poderia ter medidas mais populistas. Mas acho que ainda é muito cedo para criar narrativas em cima da eleição”, diz Praça.
Segundo Tiago Hansen, diretor de gestão e economista da Alphawave Capital, o maior gatilho para os negócios foi a questão política, mas na parte da tarde, a aceleração do recuo da curva de DIs parece ter vindo da melhora do exterior. Isso porque o Ibovespa e o dólar também passaram e exibir comportamento mais benigno, em linha com a melhora nas bolsas de Nova York.
Além de digerirem o noticiário político, os investidores aguardam a decisão do Federal Reserve (Fed), que deve diminuir o juro básico americano em 0,25 ponto porcentual nesta quarta. Já o Banco Central deve manter a Selic nos atuais 15% no mesmo dia.
Praça, da Zero Markets, não espera nenhum sinal mais claro na comunicação da autoridade monetária sobre o momento do início do ciclo de flexibilização, mas ressalta que, de acordo com as opções digitais de Copom negociadas na B3, a chance de redução de 25 pontos-base em janeiro ficou maior. A probabilidade de manutenção está em 34,8%, e a de corte, em 41,5%.


