Dólar sobe e supera R$ 5,75 com receio fiscal à espera de fala de Lula

Após rondar a estabilidade no fim da manhã e no início da tarde, o dólar à vista ganhou força nas últimas horas de pregão e se firmou em terreno positivo. Na reta final dos negócios, em meio a mínimas sucessivas do Ibovespa, a moeda americana superou o nível de R$ 5,75 e fechou em alta de 0,44%, a R$ 5,7560, na máxima do dia.

O escorregão do real à tarde teria sido motivado por uma postura mais conservadora dos investidores à espera do pronunciamento em rede nacional do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, às 20h30. A Secretária de Comunicação Social (Secom) informou que Lula vai falar dos programas sociais o Pé-de-Meia e o Farmácia Popular, que podem ter impactos fiscais.

Além disso, fontes afirmaram que Lula vai editar uma medida provisória para autorizar a liberação do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para os trabalhadores que foram demitidos e não puderam acessar o saldo retido na conta por terem aderido à modalidade de saque-aniversário.

O Broadcast também apurou que a equipe econômica deve enviar ao Congresso após o Carnaval o redesenho do projeto de lei para custear o programa do Auxílio Gás dentro das regras do arcabouço fiscal. A dúvida é como o governo vai encontrar recursos do Orçamento para entregar “gás de graça” para 22 milhões de famílias, como prometido pelo presidente.

O economista-chefe da corretora Monte Bravo, Luciano Costa, afirma que a sequência de informações que podem indicar expansão fiscal e até parafiscal, como no caso do FGTS, acabaram jogando o dólar para cima ao longo da tarde. Há receio de que Lula anuncie alterações ou até aumento no Pé-de-Meia, que precisa ser enquadrado nas regras do arcabouço.

“Tudo isso está relacionado à questão fiscal. Há também a perspectiva de medidas de estímulo, o que leva a um divergência entre a política monetária, que tenta desaquecer a economia. Isso parece que acabou tensionando o câmbio”, afirma Costa.

Analistas ouvidos pelo Broadcast nos últimos dias se mostraram preocupados com uma guinada populista de Lula, em uma tentativa de recuperar a popularidade perdida, como mostraram pesquisas de opinião recentes, e se posicionar de forma mais favorável para a eleição de 2026.

O gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, afirma que mercado tende a operar com volume mais reduzido nesta semana pré-Carnaval, o que pode trazer picos de volatilidade caso haja episódios de aversão ao risco ou surpresas negativas no campo fiscal.

“O mercado está bem parado nos últimos dias em termos de negócios. O real conseguiu se recuperar do tombo do fim do ano em grande parte porque não tinha notícia ruim vindo de Brasília. Os estrangeiros vieram aproveitar a bolsa barata em dólar e os nossos juros”, afirma Galhardo, que vê a taxa de câmbio oscilando no curto prazo entre R$ 5,70 e R$ 5,90.

No início da amanhã, o dólar até ensaiou uma queda, mas sem romper o nível de R$ 5,70, com mínima a R$ 5,7080. A moeda americana encerrou a semana passada com ganhos de 0,60%, após uma sequência de sete semanas consecutivas de desvalorização. Em fevereiro, o dólar ainda acumula baixa de 1,38%, o que leva as perdas no ano a 6,86%.

Lá fora, o índice DXY – termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes – operou ao redor da estabilidade ao longo do dia. Investidores aguardam a agenda pesada da semana para calibrar as apostas em torno dos próximos passos do Federal Reserve. Na quinta-feira, 27, sai resultado do PIB dos EUA o quatro trimestre. E na sexta-feira, 28, é divulgado o índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês), medida de inflação preferida pelo Banco Central dos EUA.

Ibovespa

A semana começou com o Ibovespa em baixa acima de 1% e atenção voltada à fala sobre macroeconomia do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em novo evento de “retomada” da indústria naval brasileira. À noite, expectativa para o pronunciamento presidencial, às 20h30, sobre os programas Pé-de-Meia e Farmácia Popular, no momento em que se ensaia uma contraofensiva para resgatar os níveis de aprovação do governo – o que, a depender do tom, pode reverberar sobre a percepção do mercado quanto à trajetória das contas públicas.

Em outro desdobramento do dia, a equipe econômica deve enviar ao Congresso após o Carnaval o redesenho do projeto de lei que cria um novo formato para custear o programa Auxílio-Gás dentro das regras do arcabouço fiscal, segundo apurou o Broadcast. O tema já entrou no radar da equipe técnica do Tribunal de Contas da União (TCU), sobretudo depois das discussões envolvendo o programa educacional Pé-de-Meia, reportam de Brasília os jornalistas Giordanna Neves e Renan Monteiro.

Assim, com a situação fiscal doméstica aos poucos retornando ao radar dos investidores, o Ibovespa encerrou o dia no menor nível desde 13 de fevereiro, em baixa de 1,36%, aos 125.401,38 pontos, com giro a R$ 19,3 bilhões. No mês, o índice oscilou hoje para o campo negativo, acumulando perda de 0,58%, o que reduz o ganho do ano a 4,25%.

Entre as ações de maior peso no índice, na contramão dos preços da commodity na sessão, Petrobras chegou a acentuar perdas acima de 1% à tarde, mas encerrou o dia com as ações mais acomodadas, em baixa de 0,66% na ON e de 0,70% na PN, em semana na qual serão conhecidos os resultados trimestrais da empresa, na quinta-feira. Vale ON, por sua vez, cedeu hoje 0,91%. E, entre os grandes bancos, o ajuste negativo ficou entre 0,55% (Itaú PN) e 1,77% (Bradesco PN), à exceção de Santander, que fechou em alta de 0,57%. Na ponta do Ibovespa nesta segunda-feira, destaque para Azul (+4,13%), Embraer (+1,54%) e BB Seguridade (+1,24%). No lado oposto, Azzas (-7,45%), Vamos (-6,93%) e MRV (-6,79%).

“As ações de commodities não foram bem hoje, em especial Petrobras e Vale, em dia de desvalorização do preço do minério de ferro na China e em meio à expectativa para os números trimestrais da estatal, que serão conhecidos na quinta-feira”, diz Gustavo Mendonça, especialista da Valor Investimentos.

“No cenário macro, as falas do presidente Lula – em que destacou que a economia brasileira deve crescer mais do que o previsto, e que a microeconomia seria a chave disso – trouxeram uma certa cautela para o mercado”, acrescenta o especialista. Ele destaca também o sinal antecipado pelo ministro do Trabalho, Luiz Marinho, sobre forte geração de vagas no Caged de janeiro, o que resultou em pressão na curva do DI na sessão, em vencimentos curtos como o de 2026, com a percepção de “juros elevados por mais tempo”.

No front corporativo, destaque para a reação do mercado para os números trimestrais da Azul, empresa que puxou a ponta ganhadora do Ibovespa na sessão. A companhia aérea anunciou prejuízo de R$ 3,9 bilhões no último trimestre de 2024, mas as ações avançaram mais de 4%, impulsionadas pelo crescimento de 33% no Ebitda, indicando uma melhora operacional que animou os investidores, diz Henrique Lenzi, operador de renda variável da Manchester Investimentos.

Juros

O estresse na curva de juros doméstica se acentuou à tarde, com o mercado entendendo que o pronunciamento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, marcado para as 20h30 desta segunda-feira, tende a trazer mais dúvidas sobre a sustentabilidade fiscal do País. O Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) apurou que a equipe econômica enviará ao Congresso um ajuste para que o programa Auxílio-Gás fique dentro das regras do arcabouço. Há também receio de maior pressão inflacionária, na véspera da divulgação do IPCA-15 e após notícias sobre liberação do FGTS e alertas do ministro do Trabalho, Luiz Marinho, sobre Caged.

A taxa de depósito interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 subiu para 14,650%, de 14,503% no ajuste anterior. O DI para janeiro de 2027 avançou para 14,580%, de 14,373%, e o para janeiro de 2029 subiu para 14,470%, de 14,293% no ajuste anterior.

Segundo o diretor de Investimentos da Nomos, Beto Saadia, o mercado “busca proteção especialmente antes do pronunciamento do presidente Lula, pois o histórico do discurso dele, em geral, não é favorável aos mercados”.

O anúncio deve ser sobre programas Pé-de-Meia e Farmácia Popular, conforme a Secom informou, e isso sugere “mais despesas, sendo que o governo nunca fala a origem de receita”, comenta o estrategista Tiago Castro, da Cambirela.

O Broadcast mostrou no fim da tarde que a equipe econômica deve enviar ao Congresso após o Carnaval o redesenho do projeto de lei que cria um novo formato para custear o programa Auxílio-Gás dentro das regras do arcabouço fiscal, segundo fontes.

A alta nos vértices mais curtos aponta que também há receios quanto à inflação e a trajetória da política monetária. O IPCA-15 deve ser divulgado nesta terça-feira e apontar aceleração a 1,37% em fevereiro, após 0,11% em janeiro, segundo o Projeções Broadcast.

À tarde, correu a informação de que Lula vai editar uma Medida Provisória (MP) autorizando a liberação do FGTS a trabalhadores que foram demitidos e não puderam acessar o saldo retido na conta por terem aderido à modalidade de saque-aniversário. A informação foi antecipada pela Folha de S.Paulo e confirmada pelo Broadcast.

“A injeção de mais dinheiro na economia naturalmente leva a um aumento no consumo”, avalia Castro, da Cambirela. “Uma característica marcante desse governo é a aceleração da política monetária, enquanto o Banco Central tenta conter esse movimento de maior inflação por meio de juros elevados.”

Também no período da tarde, o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, afirmou que o Caged de janeiro mostrará a criação de mais de 100 mil empregos no mês. Se confirmado, o valor está acima da mediana do Projeções Broadcast, que aponta para a abertura de 50.500 vagas.

Deixe um comentário