Dólar sobe e fecha a R$ 5,43 com ajustes em dia de queda de commodities

Após dois pregões de queda, em que acumulou baixa de 1,18%, o dólar subiu nesta terça-feira, 26, e voltou a se aproximar de R$ 5,45 na máxima da sessão. Operadores afirmam que o ambiente externo desfavorável às divisas emergentes, com o mergulho de mais de 2% nos preços do petróleo, abriu espaço para ajustes e realização de lucros.

A deflação mais tímida que a esperada do IPCA-15 de agosto, que reduziu as apostas em início de um ciclo de cortes da taxa Selic pelo Banco Central em dezembro, ficou em segundo plano no mercado de câmbio doméstico.

O dólar chegou a abrir em baixa e tocou mínima de R$ 5,40, acompanhando a perda de fôlego da moeda americana frente a divisas fortes, na esteira da tentativa do presidente dos EUA, Donald Trump, de remover Lisa Cook da diretoria do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano).

O real, contudo, perdeu fôlego ainda pela manhã com o tombo das commodities, em meio a novas ameaças tarifárias de Trump contra China e Índia.

Após máxima de R$ 5,4495, no início da tarde, o dólar à vista fechou em alta de 0,37%, a R$ 5,4345. As perdas em agosto voltaram a ficar abaixo de 3%. No ano, o dólar recua 12,07%.

“Com a queda de commodities, principalmente o petróleo, as moedas emergentes estão sofrendo hoje. O real ainda está muito valorizado por conta do nosso juro muito elevado, que atrai capitais”, afirma o economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni. “Podemos ver o dólar subir quando o BC começar a cortar os juros.”

Em geral, o real costuma ser mais castigado em dias de enfraquecimento das moedas latino-americanas, mas nesta terça as maiores perdas ficaram com o peso colombiano e o peso chileno. No ano, a divisa brasileira exibe o melhor desempenho entre seus pares.

Pela manhã, o IBGE informou que o IPCA-15, após alta de 0,33% em julho, recuou 0,14% em agosto – deflação menos intensa do que a mediana das estimativas de Projeções Broadcast (-0,21%). Casas ouvidas pelo Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) avaliaram que o IPCA-15 veio qualitativamente pior que o esperado e alertaram para a dinâmica de núcleos e preços de serviços.

Para o economista-chefe da G5 Partners, Luis Otávio de Sousa Leal, o IPCA-15 foi um “choque de realidade” para quem estava otimista com a expectativa de inflação e reforça que não deve haver espaço para cortes na taxa Selic ainda neste ano.

Termômetro do comportamento do dólar ante uma cesta de seis moedas fortes, em especial euro e iene, o Índice Dólar (DXY) operou em alta moderada, com máxima de 98,563 pontos. O DXY recua 1,70% em agosto e 9,40% no ano.

Analistas afirmam que a postura errática da administração Trump, que ganhou novo episódio com o caso Lisa Cook, tem levado à depreciação da moeda americana, com investidores buscando alocação em outras divisas, em especial de países desenvolvidos, e no ouro como alternativa.

Trump anunciou a demissão de Cook na segunda-feira à noite, em carta na rede Truth Social, sob o pretexto de que a diretora cometeu fraude hipotecária, fato pelo qual ela não é investigada. O advogado de Cook, que, por ora, permanece no cargo, disse que entrará com uma ação judicial, uma vez que não está claro se Trump tem autoridade para demitir uma diretora do Fed.

À tarde, o presidente dos EUA disse que está preparado para uma disputa judicial com Cook e voltou a atacar o presidente do BC norte-americano, Jerome Powell, a quem acusou novamente de estar “atrasado demais” no processo de corte de juros.

“O ataque ao Fed agora com essa questão da Cook tem impacto no dólar, pois coloca em xeque a independência da gestão da política monetária”, afirma Velloni, da Frente Corretora. “O Fed está certo em ser cauteloso porque há risco de repique inflacionário com as tarifas de Trump.”

Bolsa

O Ibovespa oscilou para baixo nesta terça-feira, 26, após ter recuperado, na segunda-feira, a casa de 138 mil pontos, no maior nível de fechamento desde 8 de julho, o dia que antecedeu o tarifaço americano. Nesta terça, o índice teve variação de menos de mil pontos entre a mínima (137.058,48) e a máxima (138.036,72) da sessão, em que saiu de abertura aos 138.025,91 pontos. Ao fim, marcava 137.771,39 pontos, em leve baixa de 0,18%, com giro financeiro nesta terça em recuperação, a R$ 20,0 bilhões. Na semana, o Ibovespa recua 0,14%, ainda com ganho no mês a 3,53%. No ano, sobe 14,54%.

A sessão foi majoritariamente negativa para carros-chefes como Petrobras (ON -0,51%, PN -0,72%), em dia de queda superior a 2% para o petróleo em Londres e Nova York após quatro altas seguidas para a commodity. A terça-feira foi mista para o setor financeiro, com variações entre os maiores bancos de -0,67% (Itaú PN) a +1,65% (BB ON). Na ponta ganhadora, Minerva (+3,13%), Pão de Açúcar (+3,12%) e Vibra (+3,11%). No lado oposto, MRV (-3,43%), Raízen (-2,86%) e Yduqs (-2,45%). Entre as blue chips, Vale ON, o principal papel do Ibovespa, fechou em alta de 0,89%, na máxima do dia, contribuindo para a contenção do ajuste do índice.

Destaque da agenda doméstica nesta terça-feira, a leitura do IPCA-15 referente a agosto, considerada a prévia da inflação oficial do mês, ao trazer uma deflação, na margem, menor do que a antecipada pelo mercado, frustrou em parte a perspectiva de que o ciclo de cortes da Selic venha a ser antecipado do primeiro trimestre de 2026 para o último mês de 2025.

Uma parte maior dos agentes chegou a precificar redução da taxa em dezembro após o sinal dovish emitido na última sexta-feira por Jerome Powell, presidente do Fed, no sentido de possível flexibilização dos juros dos EUA já em setembro. Também contribuiu para esse movimento o boletim Focus da segunda-feira, que mostrou o primeiro sinal de alívio nas expectativas inflacionárias de longo prazo por aqui.

No quadro externo, as diatribes do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, com dirigentes do Fed seguem no radar dos investidores. O anúncio, feito por Trump na noite da segunda-feira, sobre a destituição de Lisa Cook, diretora do Fed, reacendeu discussões relevantes tanto no campo jurídico quanto econômico, observa Roberto Simioni, economista-chefe da Blue3 Investimentos.

Lisa Cook, indicada pelo então presidente Joe Biden, foi acusada por suposta fraude hipotecária no Michigan e na Geórgia. Segundo Trump, a diretora teria apresentado informações contraditórias em dois pedidos de financiamento imobiliário, ambos exigindo que os imóveis fossem utilizados como residência principal, o que, segundo ele, configuraria conduta enganosa e possivelmente criminosa.

Refletindo a persistência do fogo cruzado entre a Casa Branca e o BC dos EUA, os rendimentos dos Treasuries de 2 anos – mais correlacionados à perspectiva de curto prazo para a política monetária dos EUA – voltaram a ceder terreno nesta terça, como tem prevalecido desde a fala de Powell, mas vencimentos na ponta longa da curva, como os de 10 anos, avançaram nesta terça-feira. Por aqui, o dia foi de ajuste para cima na curva do DI após o IPCA-15 de agosto, divulgado pela manhã.

“A anunciada demissão de diretora do Fed causa um pouco de cautela e receio global, o que se reflete na cotação do dólar e no Ibovespa, considerando também o efeito desta recente leitura da inflação” para a curva de juros doméstica, aponta João Soares, sócio-fundador da Rio Negro Investimentos.

Nesta terça, Trump afirmou que está preparado para uma disputa judicial contra a diretora do Fed, em comentários após reunião de gabinete do governo. “Precisamos de pessoas que sejam 100% honestas no Fed”, disse Trump, acrescentando que possui “ótimas” alternativas para substituir Cook e que obterá maioria de dirigentes na conformação do BC americano “em breve”.

Taxas de juros

Após uma tendência incipiente de melhora das expectativas inflacionárias de longo prazo ter reduzido as taxas de juros futuros na segunda-feira, dados do IPCA-15 que mostraram um quadro ainda preocupante para o Banco Central esfriaram apostas de antecipação do corte da Selic e elevaram os DIs no pregão desta terça-feira.

A piora também teve alguma influência do exterior, com os rendimentos dos Treasuries de 30 anos reagindo às incertezas provocadas pela demissão da diretora Lisa Cook do Federal Reserve.

Encerrados os negócios, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro para janeiro de 2027 subiu de 13,916% no ajuste da segunda a 13,975%. O DI para janeiro de 2028 aumentou de 13,236% no ajuste anterior a 13,305. O DI para janeiro de 2029 avançou de 13,202% no ajuste da véspera para 13,245%, e o DI para janeiro de 2031 marcou 13,585%, vindo de 13,561% no ajuste antecedente.

Divulgada nesta terça pelo IBGE, a prévia da inflação oficial de agosto recuou 0,14%, enquanto a mediana do Projeções Broadcast projetava redução de 0,21%. Mais do que o número cheio em si, chamou atenção do mercado a aceleração dos núcleos, dos serviços e a maior disseminação dos reajustes de preços – um conjunto de informações que deve manter a postura cautelosa do Copom.

“O boletim Focus havia mostrado uma correção das expectativas, indicando que a inflação poderia vir mais baixa, e o IPCA-15 caminhou em sentido contrário”, diz Vitor Oliveira, sócio da One Investimentos, que destaca a deterioração da inflação de serviços. Esse grupo vem sendo acompanhado com lupa pelo BC, por ter correlação maior com o mercado de trabalho, que ainda segue resiliente.

Embora, na passagem mensal, a inflação de serviços tenha desacelerado de 0,70% a 0,50%, no acumulado em 12 meses, a alta dos preços desse setor da economia alcançou 5,96% – maior nível em 20 meses -, destaca Roberto Secemski, economista-chefe para Brasil do Barclays. Até julho, os serviços subiam 5,74% dentro do IPCA-15.

O núcleo da inflação de serviços deve permanecer pressionado, avalia Secemski, encerrando o ano perto de 6% em 12 meses – o dobro da meta de inflação perseguida pelo BC, de 3%. Devido à moderação dos preços de bens industriais e de alimentos, na esteira da valorização do real, o economista reduziu suas estimativas para o aumento do IPCA em 2025 e 2026 – para 4,9% e 4,2%, respectivamente -, mas continua enxergando uma conjuntura difícil para o Copom, que só deve começar a cortar a Selic em março de 2026.

“No geral, o cenário para a inflação no Brasil continua desafiador e, em nossa opinião, requer atenção do BC, em meio a pressões inerciais persistentes, expectativas de médio e longo prazos desancoradas, um mercado de trabalho apertado e uma demanda doméstica robusta”, diz Secemski.

Segundo Luciano Costa, economista-chefe da Monte Bravo, a manutenção da Selic ao menos até o final de 2025 é a melhor estratégia neste momento para o colegiado. “A política monetária deve permanecer restritiva para moderar o crescimento, aliviar pressões sobre o emprego e garantir a convergência da inflação no horizonte relevante”, afirma Costa. No cenário da corretora, o primeiro corte ocorre em janeiro de 2026.

Oliveira, da One Investimentos, acrescenta que a abertura nas taxas mais longas dos Treasuries nesta terça também contribuiu para pressionar a curva local, ainda que o principal condutor dos negócios tenha sido o IPCA-15.

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