Já em alta firme pela manhã desta segunda, 7, o dólar ganhou ainda mais força ao longo da tarde no mercado local, em sintonia com o comportamento da moeda americana no exterior, após o presidente Donald Trump anunciar tarifas de importação pesadas a diversos países a partir de 1º de agosto.
Após máxima a R$ 5,4845, o dólar à vista encerrou a sessão desta segunda-feira, 7, em alta de 0,98%, cotado a R$ 5,4778, nos maiores níveis em 10 dias. Com o repique de hoje, a moeda apresenta alta de 0,80% em relação ao real nos cinco primeiros pregões de julho, depois de recuar 12,07% no primeiro semestre. No ano, as perdas agora são de 11,37%.
As chamadas tarifas recíprocas de Trump, adotadas em 2 de abril, no “Liberation Day”, haviam sido suspensas por 90 dias, prazo que expira nesta quarta-feira, 9. A volta do tarifaço aumenta as incertezas sobre a economia americana e global, o que castiga ativos de risco.
Trump enviou cartas aos países com as novas tarifas. Japão e Coreia do Sul terão alíquotas de 25%. Também foram anunciadas tarifas, variando de 25% a 40%, para África do Sul, Laos, Mianmar, Malásia e Casaquistão. As taxas anunciadas são separadas de quaisquer medidas setoriais já aplicadas.
“Precisamos ver ainda qual vai ser no final das contas as tarifas efetivas e quanto isso vai impactar na inflação e na trajetória dos juros pelo Federal Reserve, mas a reação inicial é de aumento da incerteza e sell off de bolsas e moedas emergentes”, afirma o economista da corretora Monte Bravo, Luciano Costa, ressaltando que o mais relevante é saber como será o desenho final das tarifas para parceiros maiores, como a União Europeia.
O presidente americano também ameaçou impor a países alinhados às “políticas antiamericanas” do Brics uma tarifa adicional de 10%. Declarações dos países do bloco, que se reuniram neste fim de semana no Rio de Janeiro, condenaram ataques militares ao Irã, mas sem citar nominalmente os Estados Unidos.
Além do ataque ao Brics, que pode respingar no Brasil, o presidente americano Trump meteu sua colher na política doméstica brasileira ao afirmar que o ex-presidente Jair Bolsonaro, a quem classificou como um “líder forte”, é vítima de uma “casa às bruxas” e pediu que o deixassem em paz. “O único julgamento que deveria acontecer é um julgamento pelos eleitores do Brasil”, afirmou Trump.
Apesar da ameaça tarifária ao Brics e do ataque de Trump ao sistema jurídico brasileiro, o real até que se comportou bem, com perdas inferiores às apresentadas por três de seus principais pares: os pesos chileno e colombiano e o rand sul-africano. Termômetro do comportamento do dólar ante uma cesta de seis divisas fortes, o índice DXY subia cerca de 0,30% no fim da tarde, ao redor de 97,500 pontos, após máxima de 97,667 pontos.
Costa, da Monte Bravo, afirma que a tendência global de depreciação do dólar foi revertida hoje com o aumento das incertezas, mas que a moeda americana pode voltar a se enfraquecer à medida que o mercado tenha mais clareza sobre a tarifa média efetiva de importação dos EUA e seu impacto na inflação. “Eventualmente, com um crescimento menor da economia americana, que pode desacelerar mais que a atividade no resto do mundo, e a perspectiva de corte de juros pelo Fed, o dólar pode continuar se enfraquecendo”, afirma o economista.
O economista-chefe da Suno Research, Gustavo Sung, observa que o Fed tende a “adotar uma postura mais cautelosa” na condução da política monetária, uma vez que o tarifaço deve impactar a inflação, em especial ao longo do segundo semestre, como já alertou o presidente do banco central americano, Jerome Powell.
“Os mercados buscam agora precificar o tamanho dessas medidas e seus desdobramentos sobre a economia global. Voltamos, portanto, a um ambiente de incerteza que tende a aumentar a aversão ao risco nos próximos meses”, afirma Sung.
Ibovespa
Vindo de máximas históricas intradia e de fechamento nas duas sessões anteriores, o Ibovespa teve um dia de correção, que se acentuou ainda no início da tarde com o anúncio da imposição de tarifas, pelos Estados Unidos, ao Japão e à Coreia do Sul: a atenção global segue voltada para 9 de julho, esta quarta-feira, 9, em que termina o prazo da trégua comercial concedida pela Casa Branca para a obtenção de acordos com parceiros espalhados pelo mundo. Aqui, o Ibovespa oscilou dos 139.294,84 até os 141.341,74 pontos, na máxima quase correspondente ao nível de abertura (141.265,20).
No fechamento, mostrava queda de 1,26%, aos 139.489,70 pontos, com giro restrito a R$ 17,1 bilhões. No mês, ainda acumula ganho de 0,46%, que coloca o do ano a 15,97%. Por sua vez, o dólar à vista fechou o dia em alta de 0,98%, a R$ 5,4778.
O presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou hoje tarifas de 25% sobre o Japão e a Coreia do Sul, o que resultou em alta do dólar ante moedas rivais e piora das bolsas de Nova York, bem como do Ibovespa, assim como das curvas de juros, seja dos Treasuries ou do DI. Trump também ameaçou os dois países, caso venham a aumentar suas tarifas, de impor “25% às nossas”. “Tarifas podem ser modificadas, a depender da nossa relação com os países”, acrescentou o presidente americano. Em Nova York, os principais índices de ações fecharam em baixa de 0,94% (Dow Jones), de 0,79% (S&P 500) e de 0,92% (Nasdaq).
“O Ibovespa saiu de máximas históricas para uma realização nesse início de semana. Trump voltou a sinalizar taxas, e já mandou uma carta para o Japão, indicando um aumento de tarifas de 25%. E a mesma coisa em relação ao Brics: quem estiver alinhado ao bloco será taxado também em 10% (adicionais)”, prometeu Trump, destaca Alison Correia, analista e co-fundador da Dom Investimentos.
“Além disso, Trump se posicionou em relação ao ex-presidente Jair Bolsonaro, pedindo para que seja deixado em paz. São movimentações realmente preocupantes, em que a gente vê o posicionamento também do presidente Lula, dizendo que há aqui regras claras – e de sugerir (indiretamente) para o Trump cuidar da própria vida”, acrescenta o analista, referindo-se à postagem do presidente Trump em rede social, na qual se referiu ao que seria uma “caça às bruxas” movida no Brasil contra Bolsonaro e a reações contrárias emitidas por Lula, que contribuem para um ruído político maior no momento em que questões tarifárias estão para se definir.
“Eu acho que eu não deveria comentar, porque eu não acho uma coisa muito responsável e séria o presidente da República de um país do tamanho dos Estados Unidos ficar ameaçando o mundo através da internet. Não é correto. Ele precisa saber que o mundo mudou, não queremos imperador. Nós somos países soberanos”, defendeu hoje Lula. “Cada país é dono do seu nariz”, acrescentou.
Mais para o fim da tarde, o presidente dos Estados Unidos anunciou, também, a imposição de novas tarifas de importação sobre produtos de outros cinco países: África do Sul (30%), Laos (40%), Mianmar (40%), Malásia (25%) e Casaquistão (25%). As medidas entrarão em vigor a partir de 1º de agosto e fazem parte da estratégia dos EUA de buscar “reciprocidade” nas relações comerciais bilaterais.
Ainda assim, no atual cenário de guerra tarifária, Brasil e Chile se encontram melhor posicionados que o México, por conta da ligação dos países sul-americanos com a China, avalia a economista-chefe da Principal Asset Management no Brasil, Marcela Rocha. Às jornalistas Isabella Pugliese Vellani e Francine De Lorenzo, Marcela destacou que a China ainda tem ferramentas para estimular sua economia, o que deve permitir ao país manter o ritmo de crescimento de cerca de 5% ao ano.
Na B3, com foco no front comercial, a sessão foi de perdas bem distribuídas pelas ações de primeira linha, com destaque entre os bancos para Itaú (PN -1,33%) e Banco do Brasil (ON -1,65%). Vale ON caiu 1,47%, enquanto Petrobras mostrou perdas mais discretas tanto na ON (-0,68%) como na PN (-0,19%).
Na ponta perdedora do Ibovespa, Engie (-6,33%), Totvs (-4,99%) e Pão de Açúcar (-3,73%). No lado oposto, apenas 12 dos 84 papéis que compõem a carteira Ibovespa conseguiram fechar o dia no campo positivo, tendo à frente os frigoríficos BRF (+9,37%), Marfrig (+4,09%) e Minerva (+1,16%) – fora do setor, destaque para Vamos (+1,76%) e Marcopolo (+1,23%).
“As decisões tarifárias de Trump prevaleceram sobre o sentimento do investidor em um início de semana com agenda esvaziada”, resume Rubens Cittadin, operador de renda variável da Manchester Investimentos.
Apesar dos ruídos globais em torno das tarifas americanas, o Ibovespa tem sustentado recuperação ao longo do ano e mostrado resiliência não apenas à incerteza externa como também aos solavancos domésticos, relacionados essencialmente à trajetória fiscal do País – entre idas e vindas do governo para encontrar fórmulas que sustentem as metas para as contas públicas.
Levantamento da consultoria Elos Ayta aponta que o desempenho da Bolsa brasileira, em dólares, tem sido o melhor desde 2016, ainda que, na moeda americana, o Ibovespa permaneça 41% abaixo da máxima histórica. Em dólar, até a sexta-feira passada, 4 de julho, o índice da B3 acumulava alta de 34,45% em dólares, o que coloca 2025, até aqui, como o melhor em nove anos para o mercado local.
“Essa valorização expressiva de 2025 recoloca o Brasil no radar de alocadores globais. Em dólar, o Ibovespa encerrou o dia 4 de julho aos 26.166,39 pontos – um patamar que não era registrado desde 28 de fevereiro de 2024. Ainda assim, a marca está 41,5% abaixo da máxima histórica de 44.616,04 pontos, atingida em 19 de maio de 2008, o que indica que ainda há um espaço considerável para recuperação”, diz.
O estudo ressalva que parte relevante da valorização do Ibovespa em dólares está relacionada à desvalorização global do dólar. A conclusão da consultoria é de que em 2025, até o momento, “há uma revalorização em curso, ainda que distante dos picos históricos”. “O que está por vir dependerá da manutenção da estabilidade fiscal, da trajetória da taxa de juros, da evolução do dólar global – e, claro, da confiança do investidor estrangeiro no Brasil.”
Juros
A aversão ao risco que se espalhou pelos mercados nesta segunda, 7, em reação à escalada das tensões comerciais, com novas tarifas dos Estados Unidos, também afetou a curva de juros futuros brasileira, que percorreu a segunda etapa do pregão de hoje em firme alta. A maior inclinação seguiu de perto o fortalecimento do dólar ante o real, bem como o aumento no rendimento dos Treasuries.
Encerrados os negócios, o contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) com vencimento em janeiro de 2026 oscilou de 14,921% no ajuste de sexta-feira para 14,925%. O DI de janeiro de 2027 passou a 14,220%, vindo de 14,174% no ajuste anterior. O DI do primeiro mês de 2028 avançou de 13,393% no ajuste da véspera para 13,480%, e o DI de janeiro de 2029, de 13,226% no ajuste antecedente a 13,340%.
Por volta do mesmo horário, o retorno do título do Tesouro americano de dois anos subia a 3,898%, o da T-Note de 10 anos alcançava 4,381% e o do T-bond de 30 anos aumentava a 4,916%.
No início da tarde, logo após o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciar tarifas comerciais de 25% para Japão e Coreia do Sul em sua rede Truth Social, os juros futuros intermediários e longos renovaram máximas intradia, com os contratos a partir de janeiro de 2029 abrindo mais de 10 pontos-base. A ascensão chegou a perder força, mas ganhou tração novamente, depois de Trump informar a imposição de novas tarifas a outros cinco países: África do Sul, Laos, Mianmar, Malásia e Cazaquistão.
“Quando a primeira bateria de tarifas de Trump foi anunciada em abril, todos os mercados se estressaram porque isso gera muita incerteza. Hoje vimos uma situação muito parecida; todo mundo corre para se defender com posições em juros e dólar”, diz Tiago Hansen, diretor de gestão e economista da Alphawave Capital. O dólar à vista terminou a segunda cotado a R$ 5,4778, com alta de 0,98% ante o real.
Ontem, o presidente americano ameaçou os países que integram o Brics com uma tarifa adicional de importação de 10%. Segundo declaração de Trump também em sua rede social, “qualquer país que se alinhar às políticas antiamericanas do Brics será submetido a uma tarifa adicional de 10%”. Hoje, o republicano defendeu o ex-presidente Jair Bolsonaro, que em sua visão seria “um líder forte” e “vítima de uma caça às bruxas”.
Em resposta ao alerta de Trump a respeito das potenciais tarifas para o Brics, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que seu par americano “não deveria ficar ameaçando presidentes de outros países através da internet”. Mais tarde, evitou tecer comentários a respeito de Bolsonaro. Já a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, disse em seu perfil no X que Trump “deveria cuidar de seus próprios problemas” e respeitar a soberania brasileira.
Para Hansen, a resposta dos políticos brasileiros e as discussões sobre Bolsonaro não fizeram preço na curva a termo hoje, que foi mais impactada pelos novos anúncios tarifários dos EUA. “Mas temos que pensar no que pode acontecer por conta deste conflito. Se essa rusga com os EUA resultar em alguma tarifa para o Brasil, aí sim teríamos um ‘spike’ nos ativos de risco.”
O lado técnico justificaria algum alívio nos DIs nesta segunda, diz o diretor da Alphawave, uma vez que o Boletim Focus do Banco Central mostrou nova redução na mediana do mercado para a variação do IPCA de 2025, agora em 5,18%. Há um mês, o consenso de analistas estava em 5,44%. “Mas o noticiário internacional pesou mais”.