Dólar recua a R$ 5,48 na contramão do exterior e fecha a semana em baixa de 0,76%

Após operar em queda firme pela manhã, com mínima a R$ 5,4600 (-0,70%), o dólar à vista desacelerou o ritmo de baixa ao longo da tarde e encerrou a sessão desta sexta-feira, 27, na casa de R$ 5,48. Operadores atribuíram a perda de fôlego do real, sobretudo, ao fortalecimento da moeda norte-americana no exterior e à alta das taxas dos Treasuries, após o presidente dos EUA, Donald Trump, afirmar que encerrou as negociações comerciais com o Canadá.

Houve também certo desconforto com declarações do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em entrevista à GloboNews, em momento marcado por atritos entre o Congresso e o governo. Haddad descartou a possibilidade de alterar as metas fiscais, mas não deu sinais de que o governo pretende cortar gastos e disse que o clima político não colabora para um alívio no Orçamento. Afirmou ainda que o governo pode judicializar a derrubada do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) pelos parlamentares.

No fim do pregão, o dólar à vista era negociado a R$ 5,4829, em queda de 0,29%. A moeda termina a semana com perdas de 0,76%, o que eleva a desvalorização acumulada em junho a 4,14%. No ano, o dólar recua 11,28% em relação ao real, que apresenta o melhor desempenho entre divisas latino-americanas.

A consultoria MCM 4intelligence afirma que, além do ambiente externo favorável, o real se beneficia do “significativo” diferencial de juros internos e externos, que sustenta as operações de carry trade.

Em evento pela manhã, o diretor de Política Econômica do Banco Central, Diogo Guillen, afirmou que um debate sobre corte da taxa Selic, que na semana passada foi elevada de 14,75% para 15%, ainda está muito distante dentro do Comitê de Política Monetária (Copom).

Parte da queda do dólar pela manhã foi atribuído à leva de indicadores divulgados nesta sexta-feira atestando moderação da inflação em um ambiente de atividade bastante saudável. A Pnad contínua do trimestre encerrado em maio mostrou queda da taxa de desemprego, ao passo que o IGP-M de junho apresentou deflação acima da esperada.

Para a MCM 4intelligence, parte do desempenho do real neste ano reflete uma “nítida melhora na percepção de risco do Brasil relativamente a outros mercados emergentes”. Além da menor exposição do país ao tarifaço de Trump, o Brasil tem um histórico de crescimento nos últimos anos que “contrasta com fragilidades observadas em pares”.

Embora tenha revisado recentemente para baixo a previsão de taxa de câmbio no fim do ano, de R$ 5,80 para R$ 5,70, a consultoria afirma que mantém visão cautelosa em torno do comportamento da moeda brasileira ao longo do segundo semestre.

“A fragilidade fiscal tem sido agravada pelo acirramento da disputa político-eleitoral antecipada, materializada na rejeição pelo Congresso das recentes medidas de ajuste tributário propostas pelo Executivo”, afirma a MCM 4intelligence. “Em meio à crise de popularidade do governo, esse cenário de confronto tende a persistir e potencialmente se intensificar. O resultado deve ser a perda parcial do vigor recente da moeda brasileira ao longo dos próximos meses.”

No exterior, o índice DXY – termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes – subia cerca de 0,20% no fim da tarde, ao redor dos 97,300 pontos, após máxima aos 97,498 pontos. Na semana, contudo, o Dollar Index perdeu cerca de 1,40%. Na quinta, Donald Trump informou que os EUA fecharam acordo comercial com a China.

Divulgado pela manhã, o índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês) – medida de inflação preferida pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) – veio em maio em linha com as expectativas. Já o núcleo do PCE – que exclui itens voláteis como alimentos e energia – subiu um pouco além do esperado.

A economista-chefe da Armor Capital, Andrea Damico, observa que, apesar do núcleo do PCE ligeiramente acima das projeções, dados de gasto real e venda pessoal vieram abaixo do projetado, reforçando a tese de atividade em desaceleração nos EUA. “Vale destacar os discursos mais recentes de dirigentes do Fed, que adotaram um tom mais dovish, indicando preocupação crescente com a atividade, em especial o mercado de trabalho. Isso contribuiu para o enfraquecimento do dólar na semana”, afirma Damico.

Bolsa

O Ibovespa chegou a ensaiar leve alta na máxima do dia (137.208,57), pouco acima da estabilidade no começo da tarde, mas se inclinou mesmo a uma pequena perda nesta penúltima sessão do mês – tanto no dia, como na semana e também em junho. Nesta sexta-feira, o índice da B3 cedeu 0,18%, aos 136.865,79 pontos, saindo de abertura aos 137.112,88 e tocando, no piso da sessão, os 136.468,56 pontos.

Fraco, o giro desta sexta-feira ficou em R$ 16,5 bilhões. Na semana, o Ibovespa recua 0,18%, vindo de virtual estabilidade (-0,07%) na anterior – e de ganho de 0,82% na que havia precedido o intervalo mais recente. Em junho, o índice cai 0,12%, com ganho no ano preservado a 13,79%.

Nesta sexta-feira, com o minério de ferro em alta de cerca de 2% em Dalian, na China, e de mais de 1% em Cingapura, Vale ON, a principal ação da carteira teórica, foi destaque quase solitário entre as blue chips, em alta de 1,92% no fechamento da B3. Petrobras ON e PN, por sua vez, cederam 1,23% e 0,79%. Entre os grandes bancos, BB ON foi a exceção positiva, em alta de 0,60%, assim como Bradesco PN (+0,12%).

Na ponta ganhadora do índice, à frente de Vale, apenas Engie (+4,24%) e Pão de Açúcar (+2,01%) – destaque também para Marcopolo (+1,68%) e Localiza (+1,35%). No lado oposto, Vamos (-6,56%), Brava (-3,59%) e Cosan (-2,46%).

“O Ibovespa operou hoje entre perdas e ganhos, mas a tendência de baixa se firmou em uma sexta típica, de menor liquidez. Curva de juros tem mostrado sinais mistos, mas havia uma certa tendência de elevação na parte estrutural. Dados de inflação favoráveis, com desaceleração de ritmo em 12 meses, contribuíram nesta semana para uma queda em especial nos vencimentos intermediários. E o dólar tem caído para o menor nível global em três anos, com especulações em torno do futuro do Fed uma vez que o governo Trump faça substituições, especialmente com relação a Jerome Powell”, diz Bruna Centeno, economista, sócia e advisor na Blue3 Investimentos.

Taxas de juros

A curva de juros futuros reverteu o viés de baixa na segunda etapa do pregão desta sexta-feira. Os gatilhos para o movimento de reversão foram falas do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que reacenderam preocupações com o risco fiscal, e, no ambiente externo, o anúncio do presidente dos EUA, Donald Trump, do fim das negociações comerciais com o Canadá.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) que vence em janeiro de 2026 fechou o dia em 14,935%, de 14,933% no ajuste anterior.

Já a do DI de janeiro de 2027 passou de 14,179% no ajuste da quinta-feira para 14,165%, enquanto o vértice de janeiro de 2029 marcou 13,295%, vindo de 13,318% no último ajuste.

Os juros futuros operavam com viés de baixa no início da tarde. Por volta das 15 horas, porém, começaram a zerar as quedas.

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