Dólar fecha em queda em dia favorável a divisas emergentes com avanço do petróleo

A arrancada dos preços do petróleo com sanções de Estados Unidos e União Europeia à Rússia levou a uma rodada de valorização de divisas emergentes e de países exportadores de commodities nesta quinta-feira, 23. Com mínima de R$ 5,3784, o dólar à vista encerrou a sessão em queda de 0,20%, a R$ 5,3861, passando a acumular perdas de 0,36% na semana. Em outubro, a divisa avança 1,19% em relação ao real.

Operadores ressaltaram que a liquidez foi bem reduzida no segmento futuro, o que revela uma postura cautelosa dos investidores, que evitam assumir posições mais firmes diante das incertezas externas. Além da expectativa em torno do desfecho das negociações comerciais sino-americanas, com o encontro entre os presidente Donald Trump e Xi Jinping na próxima semana, há o “apagão” de dados nos EUA na esteira da paralisação parcial do governo (shutdown), que completa 23 dias nesta quinta.

“O assunto do dia foi a disparada do preço do petróleo, que chegou a subir quase 6% sem gerar um sentimento de aversão ao mercado. Isso acabou levando a uma valorização de divisas emergentes, principalmente de países exportadores de petróleo”, afirma a economista-chefe da Buysidebrazil, Andrea Damico, ressaltando que também houve avanço de outras commodities, como a soja.

Os principais contratos futuros de petróleo fecharam em alta superior a 5%, na esteira do anúncio da quarta-feira pelos EUA de sanções a duas das maiores empresas de energia da Rússia, Rosneft e Lukoil, em uma tentativa da Casa Branca de pressionar o presidente russo, Vladimir Putin, por um cessar-fogo na guerra da Ucrânia. Já a União Europeia anunciou hoje um novo pacote de sanções contra a Rússia, com foco na “frota fantasma” de petroleiros, no comércio de gás natural e no setor financeiro russo.

Termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes, o índice DXY oscilou pouco ao longo do dia e apresentava ligeira alta no fim da tarde, pouco abaixo do limiar dos 99,000 pontos. Destaque para as perdas de mais de 0,40% do iene, abalado pela expectativa de políticas fiscais expansionistas durante a gestão da nova primeira-ministra do Japão, Sanae Takaichi.

Apesar do shutdown nos EUA, será divulgada na sexta a leitura da inflação ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) americano em setembro. A avaliação entre analistas ouvidos pela Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) nos últimos dias é que o indicador não deve alterar as expectativas de novo corte de juros em 25 pontos-base pelo Federal Reserve na próxima quarta-feira, 29.

Como é dado como certo que o Banco Central brasileiro anuncie, no início de novembro, manutenção da taxa Selic em 15%, a perspectiva é de aumento do diferencial entre juros interno e externo – o que pode amenizar pressões de alta sobre o real nos dois últimos meses do ano, marcados tradicionalmente por aumento de remessas de recursos ao exterior.

Em evento em Jacarta, na Indonésia, o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, disse que há um processo de desaceleração da inflação, mas ponderou que as expectativas ainda estão fora da meta, o que exige a manutenção da taxa de juros em nível alto e restritivo por um período prolongado.

“Não vejo um driver doméstico hoje para a apreciação do real. Acredito que o movimento do câmbio está mais ligado ao comportamento das moedas emergentes, que estão performando melhor hoje com a alta das commodities”, afirma Damico, da Buysidebrazil.

Bolsa

O Ibovespa fechou em alta de 0,59%, aos 145.720,98 pontos, maior nível desde 30 de setembro. A valorização foi puxada pela disparada superior a 5% do petróleo depois que Estados Unidos e União Europeia anunciaram novas sanções contra a Rússia. Brent e WTI alcançaram o maior preço em duas semanas e impulsionaram as ações da Petrobras, que avançaram 0,72% (ON) e 1,14% (PN).

O índice perdeu fôlego no início da tarde, mas voltou a ganhar tração quando a Casa Branca confirmou que Donald Trump se reunirá com Xi Jinping na próxima quinta-feira. O presidente norte-americano afirmou que acha que o encontro “será muito bom” A notícia também animou as bolsas de Nova York. Ainda assim, o giro financeiro na B3 somou R$ 19,14 bilhões, abaixo da média diária de R$ 23 bilhões.

“O dia é de alta para a Bolsa, mas o volume financeiro está baixo. Existe um viés positivo, um tom de fundo melhor, mas ainda muitas dúvidas. E quando há dúvida, ou o investidor vende, ou fica quietinho. Hoje o mercado está quietinho”, resumiu Marcelo Boragini, sócio e especialista em renda variável da Davos.

Boragini mencionou seis fatores de incerteza: o CPI nos EUA e o IPCA-15 no Brasil, que devem ser divulgados na sexta-feira; o shutdown do governo americano, já com 23 dias; a possível reunião entre Luiz Inácio Lula da Silva e Trump no domingo; o desfecho do encontro entre Trump e Xi Jinping; a decisão do Federal Reserve no fim de outubro; e a indefinição sobre o ajuste fiscal brasileiro.

Em relação ao fiscal, o senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator do projeto que amplia a faixa de isenção do Imposto de Renda, disse que apresentará parecer na próxima semana. Já a arrecadação federal de setembro ficou em R$ 216,727 bilhões, ligeiramente abaixo da mediana de R$ 217,4 bilhões.

No front monetário, o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, afirmou que as expectativas de inflação ainda estão fora da meta, embora reconheça um processo de desaceleração em curso. O Projeções Broadcast aponta que o IPCA-15 de outubro deve arrefecer para 0,24%, após 0,48% em setembro.

Juros

Em um pregão marcado por oscilações contidas, os juros futuros consolidaram viés de baixa em toda a extensão da curva a termo na etapa final da sessão desta quinta-feira, 23. As quedas em todos os vencimentos, ainda que contidas, contrariaram uma conjunção de fatores que teria potencial para pressionar as taxas, após três dias seguidos de redução na semana.

Mesmo com forte aumento das cotações de petróleo depois de o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos ter aplicado sanções às duas maiores empresas petrolíferas da Rússia, e a aversão ao risco no ambiente externo que elevou as taxas dos Treasuries, os DIs encontraram espaço adicional para ceder. Do lado doméstico, a curva pouco reagiu a dados mais fracos de arrecadação de setembro publicados mais cedo.

O comportamento benigno dos DIs, segundo agentes, pode ter refletido ajustes técnicos de posições, enquanto o mercado aguarda o resultado do IPCA-15 deste mês, a ser divulgado nesta sexta-feira. Também ainda há como pano de fundo a percepção de melhora do ambiente inflacionário, na medida em que casas continuam revisando estimativas para baixo após o reajuste negativo da gasolina efetuado pela Petrobras. Como o corte ocorreu nesta semana, a leitura é a de que a estatal não deve fazer nova alteração no curto prazo.

Encerrados os negócios, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 oscilou de 13,883% no ajuste anterior a 13,879%. O DI para janeiro de 2028 passou de 13,187% no ajuste a 13,155%. O DI para janeiro de 2029 marcou 13,120%, vindo de 13,148% no ajuste antecedente. O DI para janeiro de 2031 recuou de 13,43% no ajuste a 13,405%.

Gestor de fundos multimercados da AZ Quest, Eduardo Aun afirma que a dinâmica benigna dos DIs no pregão atual teve sintonia com a valorização modesta do real ante o dólar, ainda que tenha ignorado a pressão vinda dos rendimentos dos Treasuries. A divisa brasileira se beneficia quando o preço do petróleo aumenta, dado que o País é um grande exportador de óleo. “A curva americana e a alta do petróleo seriam um vetor de alta para as taxas, mas o real se apreciando um pouco enfraquece o canal de transmissão dos Treasuries para os DIs”, aponta Aun.

Para o gestor, há um consenso do mercado sobre uma possibilidade de cortes mais cedo do que se antecipava na Selic, na esteira da visão de que a inflação está mais controlada. “Tanto a inflação quanto a atividade estão dando sinais mais claros de desaceleração”, diz, o que também ainda pode ter feito preço nos DIs hoje, ainda reverberando as últimas três sessões, na falta de gatilhos mais potentes para os negócios no pregão desta quinta. “Ainda há um rebote desse movimento da semana. E é natural que o mercado prepare posições para o IPCA-15 desta sexta-feira, 24, que é um número que pode fazer preço”, acrescentou.

Pela manhã, a Receita Federal divulgou que a arrecadação de impostos e contribuições federais ficou em R$ 216,727 bilhões em setembro. O dado ficou ligeiramente aquém da mediana da pesquisa Projeções Broadcast, de R$ 217,400 bilhões. As taxas mais longas tiveram máximas e chegaram a subir após o resultado, mas o movimento teve fôlego curto. Segundo Heliezer Jacob, economista do C6 Bank, tributos mais relacionados ao ciclo econômico, como PIS/Cofins, IRPJ e CSLL, têm mostrado desaceleração, mas em linha com o observado nos dados de atividade.

*Conteúdo elaborado com auxílio de Inteligência Artificial, revisado e editado pela Redação do Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado.

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