Dólar fecha em leve queda com investidores à espera de corte de juros nos EUA

O dólar se firmou em leve baixa ao longo da tarde e, após mínima a R$ 5,3534, encerrou a sessão desta terça-feira, 28, em queda de 0,20%, a R$ 5,3597 – menor valor de fechamento desde o último dia 8. O real parece ter se beneficiado de fluxo para a bolsa doméstica e de certo apetite externo ao risco, com investidores à espera de um novo corte de juros na quarta-feira, 29, pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano). Há também a expectativa de desenlace positivo do encontro entre os presidentes Donald Trump (EUA) e Xi Jinping (China) na quinta-feira, 30, na Coreia do Sul.

Operadores ressaltam que a liquidez continua bem reduzida, apesar da proximidade do fim do mês, quando ocorre a rolagem de posições no mercado futuro. A leitura é a de que investidores evitam apostas mais contundentes à espera de sinais mais claros sobre as tratativas comerciais. Outro ponto a ser levado em conta é ausência de indicadores relevantes da economia americana para balizar os negócios, uma vez que a divulgação de dados foi interrompida pelo shutdown.

O head de banking da EQI Investimentos, Alexandre Viotto, pondera que, a despeito do ritmo lento dos negócios, o clima segue favorável a ativos brasileiros no curto prazo, com a ambiente externo propício ao risco e a postura firme do Banco Central na gestão da política monetária.

“A aproximação entre Lula e Trump também colabora para o bom humor dos investidores. E o fato de Trump ter voltado atrás na ameaça de tarifas ainda maiores para a China também contribuiu para desanuviar o ambiente”, afirma Viotto, para quem os investidores já se acostumaram com a estratégia morde-e-assopra de Trump nas negociações comerciais.

Embora tenha uma visão otimista para os ativos brasileiros, Viotto pondera que o real pode sofrer uma leve depreciação, com o dólar atingindo novamente o nível de R$ 5,50 até o fim do ano, em razão do aumento sazonal de remessas ao exterior. “O BC já fez até uma pequena intervenção nesta semana com o ‘casadão’ e pode oferecer mais linhas ao mercado”, diz Viotto, em relação à oferta conjugada na segunda-feira de US$ 1 bilhão em leilão à vista e de US$ 1 bilhão em operação de swap cambial reverso.

Lá fora, o dólar recuou na comparação com outras moedas fortes, à exceção da libra, e em relação à maioria das divisas emergentes e de exportadores de commodities. Pares latino-americanos do real, contudo, amargaram perdas, em dia de tombo de mais de 2% dos preços do petróleo. O peso argentino teve queda de mais de 2,5%, devolvendo parte dos ganhos da segunda, na esteira da vitória do presidente Jair Milei nas eleições legislativas.

É dado como certo que o Federal Reserve vai anunciar na quarta novo corte de 25 pontos-base na taxa básica de juros americana, apesar do “apagão” de dados nos EUA. A perspectiva é a de que o BC americano promova mais um corte de 25 pontos-base em dezembro, o que tende a tirar força da moeda americana.

A perspectiva de um dólar globalmente enfraquecido e de aumento do diferencial entre juros interno e externo – dada a sinalização do Banco Central de que não haverá redução da taxa Selic neste ano – tende a dar suporte ao real, amenizando a pressão exercida pela piora do fluxo no fim do ano.

O head da Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, destaca que o real “é o campeão mundial” entre as principais divisas quando se observa o carry ponderado pela volatilidade – ou seja, apresenta a melhor relação entre risco e retorno. “O carry é muito elevado. A tendência é positiva para divisas emergentes, e o real pode continuar se valorizando”, afirma Weigt.

Bolsa

Ainda que não tenha renovado a máxima histórica intradia conquistada na segunda-feira, 27, o Ibovespa conseguiu um novo nível recorde de fechamento nesta terça-feira: os 147.428,9 mil pontos, em alta de 0,31%. A expectativa de corte de juros nos Estados Unidos na quarta-feira e possível acordo entre os presidentes Donald Trump (EUA) e Xi Jinping (China) na quinta-feira, quando devem se reunir, balizaram fluxo para a renda variável, com destaque para ações ligadas ao minério de ferro entre as maiores altas. Já a queda de quase 2% do petróleo reduziu o ímpeto do índice na reta final do pregão.

Segundo a B3, trata-se do 16º recorde do Ibovespa em 2025 e a primeira vez na história que o fechamento do mercado atinge o nível de 147 mil pontos.

Para o head de renda variável Gustavo Bertotti, da Fami Capital, a alta do Ibovespa hoje está relacionada principalmente ao cenário externo. “Com o entendimento de que o Federal Reserve (Fed) deve novamente cortar os juros na reunião de amanhã, investidores estrangeiros tendem a aumentar alocação para mercados emergentes”, avalia, cravando que o fluxo externo tem grande peso no comportamento da Bolsa brasileira.

Já a postura recente de Donald Trump, com falas mais amenas e que prezam pela negociação, inclusive com o governo brasileiro, criam a expectativa de um acordo comercial entre EUA e China, acrescenta Bertotti.

“Com o possível acordo entre EUA e China, o minério de ferro fechou em alta, e as empresas de mineração e siderurgia puxam o Ibovespa”, comenta o head de renda variável da Veedha Investimentos, Rodrigo Moliterno. A commodity fechou em alta de 1,94% em Dalian, na China, a US$ 110,43 por tonelada, fazendo empresas como CSN e CSN Mineração subirem mais de 2%, entre os maiores ganhos do índice.

No pano de fundo, investidores também monitoram o quadro fiscal do Brasil. No período da tarde, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que tenta avançar a pauta fiscal no Congresso, com o projeto de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil estando “próximo” do equilíbrio fiscal “na pior das hipóteses”. Instantes depois, o Ibovespa registrou máxima intradia, aos 147.810,55 pontos (+0,57%).

Em meio à melhora da popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a percepção é de que o governo não terá dificuldades em encaminhar suas pautas na Casa, pontua o estrategista-chefe do Grupo Laatus, Jefferson Laatus. “Volta a respirar, com sinais de menos restrição do Congresso”, estima.

Já mais próximo do fechamento, o Ibovespa voltou a perder fôlego com a queda dos contratos futuros de petróleo, enquanto as preocupações de excesso de oferta da commodity pela Organização de Países Exportadores de petróleo e aliados (Opep+) se sobrepõem às tensões geopolíticas.

Juros

Em um dia de agenda esvaziada de indicadores e sem condutores claros para guiar os investidores, o juros futuros caminharam em sentido contrário à performance positiva dos demais ativos domésticos e percorreram o pregão desta terça-feira em alta mais expressiva, com destaque para os vencimentos intermediários e longos. A ascensão teve sintonia com a abertura da curva americana em boa parte da sessão, às vésperas da decisão de política monetária do Federal Reserve (Fed), que deve reduzir o juro básico em 25 pontos-base.

Segundo agentes, o ganho de inclinação da curva a termo local, sem aparentes fundamentos econômicos para a piora, pode ter representado mais uma correção após a sequência bastante positiva para os DIs na semana anterior. No período, houve fechamento ao redor de 20 pontos-base nos vértices mais distantes, e de cerca 15 pontos-base nos trechos curtos.

Encerrados os negócios, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 subiu de 13,812% no ajuste de terça-feira para 13,820%. O DI para janeiro de 2028 aumentou de 13,08% no ajuste anterior a 13,120%. O DI para janeiro de 2029 marcou 13,080%, de 13,02% no ajuste. O DI para janeiro de 2031 avançou de 13,286% no ajuste da véspera a máxima intradia de 13,375%.

“Acredito que houve uma exaustão no movimento de alívio observado no período recente. Essa pressão na curva desta terça-feira, 28, talvez retire um pouco de prêmio acumulado nos últimos dias”, avalia Felipe Sichel, economista-chefe da Porto Asset. Para Sichel, o racional de correção, considerando especificamente o pregão de hoje, é válido tanto nos vértices curtos quanto longos da curva. “Um ganho de inclinação da curva é natural quando começamos a observar aumento de apostas em direção a antecipação de ciclo de cortes. Isso não aconteceu, mas é algo já esperado”.

Diretor de gestão e economista da Alphawave Capital, Tiago Hansen afirma que a sessão careceu de catalisadores para os juros futuros, que subiram mesmo com um conjunto de dados recentes mais benignos para os DIs, tais como o recuo das expectativas inflacionárias e moderação da atividade. “O mercado pode estar se preparando para a decisão do Fed desta quarta-feira, 29, embora um corte de 25 pontos-base já esteja precificado”, afirmou Hansen. “Todos os números estão de certa forma favoráveis, mas os DIs subiram. A leitura do pregão é difícil”, avaliou.

“Hoje, o ambiente é de cautela, com os mercados à espera da decisão do Federal Reserve amanhã e atentos aos desdobramentos da agenda comercial entre Estados Unidos e China”, afirmou Luis Felipe Laudisio, cogestor da mesa institucional de títulos públicos da Warren Investimentos. Os presidentes Donald Trump e Xi Jinping devem se reunir na quinta-feira.

No âmbito fiscal, que elevou as taxas antes do movimento de descompressão observado na semana passada, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta terça que o projeto de isenção do Imposto de Renda (IR) para aqueles que ganham até R$ 5 mil está “próximo do equilíbrio fiscal”, mas a equipe econômica deve fazer cálculos adicionais. Isso porque, de acordo com estudo da Instituição Fiscal Independente (IFI), o texto da forma como está gera R$ 1 bilhão de déficit por ano.

“O mercado segue atento a qualquer novidade que pode alterar a trajetória fiscal nos próximos trimestres, mas hoje os DIs não parecem ter reagido a questões fiscais ao longo do dia”, diz Sichel, da Porto Asset.

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