Antonio Perez
Depois de recuar pontualmente pela manhã sob o impacto da leitura benigna da inflação ao consumidor nos EUA, que reforçou a perspectiva de mais dois cortes de juros pelo Federal Reserve até o fim do ano, o dólar à vista ganhou força ao longo da tarde e encerrou a sessão desta sexta-feira, 24, em leve alta. Operadores afirmam que o recuo do petróleo e a diminuição das perdas da moeda americana frente a outras divisas emergentes estimularam uma realização de lucros intradia no mercado local, em um ambiente de liquidez bem reduzida.
Já há relatos também de pressão compradora tanto no segmento à vista quanto no futuro, em movimento típico de fim de ano, quando aumentam as remessas de recursos ao exterior.
Com mínima de R$ 5,3628 e máxima de R$ 5,4032, o dólar à vista fechou em alta de 0,12%, a R$ 5,3926. A divisa termina a semana com baixa de 0,24% mas ainda exibe ganhos em outubro (1,31%). No ano, a moeda americana recua 12,74% em relação ao real.
Por aqui, destaque para o IPCA-15 em outubro, com alta de 0,18%, abaixo da mediana de Projeções Broadcast, de 0,24%. Investidores aumentam as apostas em início de um ciclo de cortes da taxa Selic em janeiro. Analistas ponderam, contudo, que ainda é cedo para ver um desmonte de operações do carry trade, dado que o diferencial entre juros interno e externo com o afrouxamento monetário nos EUA e a taxa brasileira elevada desestimula apostas contundentes contra o real.
Sócio da Ethica Services, Ricardo Gallo afirma que a valorização do real neste ano é consequência do enfraquecimento global do dólar e do aumento da atratividade das operações de carry trade, em razão da taxa de juros elevada e da baixa volatilidade da moeda. Isso teria levado os investidores estrangeiros a reduzirem drasticamente a posição comprada em dólar. “Estamos no carry trade ‘mood’. Se a Selic cair ou a volatilidade aumentar, cai o retorno. Mas toda a dança para mesmo se o dólar voltar a subir lá fora”, afirma Gallo, em nota.
Analistas ressaltam que o real se apreciou neste ano apesar da deterioração das contas externas. O BC informou pela manhã que o déficit em transações correntes atingiu US$ 9,774 bilhões em setembro de 2025 – o maior para o mês na série histórica e acima da estimativa mais pessimista de Projeções Broadcast (US$ 8,40 bilhões).
Bolsa
Dados de inflação nos Estados Unidos e no Brasil abaixo do esperado realimentaram as esperanças de cortes de juros e deram fôlego para a renda variável, com ações mais sensíveis à economia doméstica entre as maiores altas do Ibovespa. Acumulando uma valorização próxima de 2% na semana e próximo de apagar as perdas de outubro, contudo, o índice perdeu força no fim da tarde com o mercado adotando cautela frente à expectativa de um encontro entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (Brasil) e Donald Trump (EUA) no domingo.
O Ibovespa fechou em alta de 0,31%, aos 146.172,21 pontos, após máxima aos 147.239,76 pontos pela manhã, próximo do recorde histórico de 147.578,39 alcançado em 30 de setembro. Na semana, avançou 1,93%, praticamente apagando as perdas para o mês de outubro a -0,04%. Em 2025, acumula valorização de 21,52%.
“Os protagonistas hoje são os dados de inflação. Tanto o IPCA-15 quanto o CPI vieram abaixo das expectativas do mercado, fazendo com que os juros futuros fechem e trazendo reflexo positivo para a Bolsa, principalmente nos setores cíclicos”, afirma o estrategista de ações da Nomos, Max Bohm.
O núcleo do índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) dos EUA subiu 0,2% em setembro ante agosto, abaixo da mediana coletada pelo Projeções Broadcast de alta de 0,3%. O indicador interrompeu, ainda que de forma momentânea, o apagão de dados provocado pelo shutdown do governo americano e abre espaço para o Federal Reserve (Fed) cortar juros na reunião da próxima semana.
Já o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – 15 (IPCA-15) avançou 0,18% em outubro, inferior à mediana de 0,24% do Projeções Broadcast. Na avaliação do PicPay, os principais indicadores de inflação subjacente vieram abaixo das estimativas, o que coloca uma assimetria baixista para o IPCA de 2025, com probabilidade moderada de encerrar 2025 dentro da banda da meta do Conselho Monetário Nacional (CMN).
Contudo, o índice não conseguiu renovar máxima histórica e perdeu tração principalmente no período da tarde pela falta de liquidez, com giro financeiro de R$ 16 bilhões (abaixo da média diária de R$ 23 bilhões).
Investidores adotam postura mais defensiva antes do eventual encontro entre Trump e Lula, esperado para domingo, e também do presidente dos EUA com o homólogo chinês, Xi Jinping, na próxima quinta-feira.
“Após um desempenho firme da Bolsa, o mercado vai para o fim de semana com um pouco mais de cautela, pois deve ter novidade geopolítica e pode ter algo em relação ao shutdown americano”, comenta o sócio e analista Rafael Passos, da Ajax Asset.
Juros
Os juros futuros negociados na B3 emendaram a quinta sessão consecutiva de queda e renovaram mínimas intradia no pregão desta sexta-feira, 24. A leitura disseminada desde o início da semana de que os preços estão desacelerando mais rápido do que o esperado foi reforçada pelo IPCA-15 de outubro, que surpreendeu com número cheio abaixo do previsto e aberturas qualitativas mais benignas.
Lá fora, o CPI de setembro, também divulgado nesta sexta e igualmente aquém das expectativas do mercado, acentuou a tendência de declínio dos DIs, ao reforçar a visão de que o Federal Reserve (Fed) tem margem para seguir cortando o juro básico dos Estados Unidos. Embora a relação entre a política monetária americana e a local não seja automática, o aumento do diferencial de juros favorece a valorização do real ante o dólar pelo canal de operações de carry trade, o que consequentemente ajuda a controlar a inflação.
Com a postura dura do Banco Central em suas últimas comunicações, um corte em dezembro segue opção fora da mesa para a maior parte dos agentes, mas aumentam as discussões sobre o início do ciclo de flexibilização monetária em janeiro do ano que vem. Segundo Flávio Serrano, economista-chefe do banco BMG, a curva precifica 67% de chance de que a taxa básica seja cortada em 0,25 ponto no primeiro mês do próximo ano, porcentual que estava em 63% ontem.
No fechamento, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 cedeu de 13,876% no ajuste de quinta-feira a mínima intradiária de 13,805%. O DI para janeiro de 2028 diminuiu de 13,161% no ajuste antecedente a 13,080%, também mínima intradia. O DI para janeiro de 2029 marcou 13,030%, vindo de 13,123% no ajuste de ontem. O DI para janeiro de 2031 recuou de 13,415% no ajuste a mínima intradia de 13,300%
O cômputo semanal também foi de deslocamento para baixo da curva a termo. Segundo a equipe econômica do Santander, a redução das taxas foi relativamente homogênea em todos os vencimentos, com nível de inclinação similar à da última semana. “O mercado segue ponderando os riscos de desaceleração mais intensa do que o antecipado para a economia brasileira, além de monitorar a situação dos mercados de crédito, o que tem favorecido posições aplicadas”, diz o banco em relatório.
“O cenário de inflação convergindo para patamar dentro dos limites da meta com arrefecimento lá fora ajuda em um corte de juros aqui”, afirma João Freitas, estrategista da Toro Investimentos, destacando que a inflação acumulada pelo IPCA-15 em 12 meses ter voltado a ficar abaixo de 5% é um sinal emblemático.
A prévia da inflação oficial desacelerou de 0,48% em setembro para 0,18% em outubro, ante estimativa de 0,24% apontada pelo Projeções Broadcast. A medida em 12 meses também perdeu fôlego, de 5,32% a 4,94%. Além da surpresa com o headline, economistas destacaram a moderação da inflação de serviços subjacentes, mais relacionados à política monetária, assim como dos bens industriais, núcleos de inflação e dados de difusão.
Nos EUA, o CPI subiu 0,3% no mês passado frente a agosto, 0,1 ponto aquém da mediana de analistas do Projeções Broadcast. Na comparação anual, o CPI avançou 3%, ante expectativa de 3,1% dos analistas consultados. “O apagão de dados devido o shutdown continua sendo importante, mas o CPI torna mais forte a percepção de que há espaço para o Fed seguir em movimento de queda de juros”, disse Freitas, da Toro.
“O núcleo de serviços, excluindo habitação, continua rodando em um patamar um pouco acima do desejado, mas não revela maiores preocupações em relação a efeitos de segunda ordem da alta das tarifas sobre os demais preços da economia. Avaliamos que o CPI de hoje dá conforto ao Fed para continuar reduzindo a taxa de juros no ritmo de 25 pontos-base por reunião”, avalia Luis Cezario, economista-chefe da Asset 1.

