Dólar fecha em alta moderada e ultrapassa R$ 5,30, seguindo tendência externa

Após rondar a estabilidade ao longo da tarde, o dólar à vista ganhou fôlego na reta final dos negócios e encerrou o pregão desta quinta-feira, 18, em alta moderada, perto do nível de R$ 5,32.

Operadores afirmam que fluxos pontuais, ajustes de posição no segmento futuro e uma aceleração dos ganhos da moeda norte-americana frente a outras divisas emergentes podem ter pesado no mercado local. O real, porém, perdeu menos que pares latino-americanos e moedas fortes.

A avaliação é que o provável aumento do diferencial de juros interno e externo nos próximos meses tende a impulsionar a divisa doméstica ou, no mínimo, limitar uma depreciação acentuada em caso de piora do cenário externo.

A superquarta trouxe sinais divergentes aqui e nos Estados Unidos. O Comitê de Política Monetária (Copom) sinalizou que a taxa Selic deve se manter em 15% até pelo menos o fim do ano, enquanto o Federal Reserve deixou a porta aberta para redução adicional de 50 pontos-base nos juros em 2025, após corte de 25 pontos-base na quarta.

Com mínima de R$ 5,2702, logo depois da abertura, e máxima de R$ 5,3201 no fim do dia, o dólar à vista fechou em alta de 0,34%, a R$ 5,3191. Apesar do avanço desta quinta, a moeda encerra a semana em queda de 0,65%. As perdas são de 1,90% em setembro e de 13,93% no ano.

A economista-chefe da Buysidebrazil, Andrea Damico, destaca que o real apresentou um desempenho relativo bem melhor do que outras moedas emergentes, em dia marcado por fortalecimento global do dólar.

“Isso é reflexo principalmente da comunicação do Copom, que veio com um tom muito duro. Ele não revisou para baixo a projeção de inflação”, afirma Damico, ressaltando que a apreciação recente do real permitiria uma “calibragem” das estimativas pelo Banco Central.

Ao contrário do esperado por diversos economistas, o BC manteve a projeção para a inflação no primeiro trimestre de 2027, que abrange o chamado horizonte relevante da política monetária, em 3,4%, acima do centro da meta, de 3%. O Copom minimizou também a melhora nas expectativas para o IPCA contidas no Boletim Focus e os sinais de desaceleração da atividade, fatores que embalavam a aposta em redução de juros ainda neste ano.

A perspectiva de ampliação do diferencial de juros interno e externo nos próximos meses, fruto da combinação de manutenção da taxa Selic em 15% até dezembro e de mais cortes de juros pelo Fed, tende a fortalecer o real no curto prazo, argumenta Damico.

“Era para o dólar estar subindo hoje cerca de 0,50%, 0,60%, em relação ao real, com o DXY ganhando força até bem razoável. Mas aqui o dólar passou o dia praticamente no zero a zero”, afirma a economista.

Termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes, o índice DXY voltou a superar os 97,000 pontos e rondava os 97,400 pontos no fim da tarde, em alta de cerca de 0,55%. O Dollar Index recua ao redor de 0,20% na semana e cerca de 0,50% no mês.

As taxas dos Treasuries, em especial de 10 e 30 anos, subiram na esteira de queda maior que a esperada de pedidos semanais de seguro-desemprego nos EUA, o que castigou as divisas emergentes. Umas das raras exceções foi o rand sul-africano, com ganhos de cerca de 0,20% em relação ao dólar.

O economista André Perfeito afirma que o mercado tende a “brigar” em torno do nível de R$ 5,30, que parece mais difícil de ser rompido. Ele pondera, contudo, que o tom adotado pelo Copom na quarta tende a “melhorar o carry para o Brasil, apreciando o real”.

“Acredito que o dólar vai se desvalorizar contra o real e ficar baixo dos R$ 5,30”, afirma Perfeito, que alerta para a possibilidade de reversão do movimento assim que o BC “insinuar um corte de juros”.

Bolsa

Após ter renovado na quarta-feira recordes tanto no intradia (pela primeira vez na casa de 146 mil pontos) como no fechamento (no patamar de 145 mil), o Ibovespa teve uma quinta-feira, em modo pausado, com leve variação entre a mínima (144.993,21) e a máxima (145.726,41) da sessão, em que saiu de abertura aos 145.593,63 pontos. Ao fim, o índice da B3 marcava leve perda de 0,06%, aos 145.499,49 pontos, interrompendo série de renovação de máximas que se estendeu por três sessões, entre a segunda e a quarta-feira.

Até aqui na semana, o Ibovespa ainda acumula ganho de 2,27% no intervalo, colocando o avanço do mês a 2,88% – no ano, o índice da B3 sobe 20,96%. O giro financeiro desta quinta-feira foi a R$ 22,8 bilhões, na véspera do vencimento de opções sobre ações.

A curva do DI avançou após o comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) ao fim da reunião de setembro, na noite da quarta, ter praticamente fechado a porta para o anseio de parte do mercado quanto às chances de um corte da Selic ainda em 2025, tendo o Federal Reserve, conforme esperado, iniciado na quarta-feira o ciclo de afrouxamento da política monetária dos EUA com um ajuste de 25 pontos-base na taxa de referência.

“Mesmo com a apreciação cambial observada nas últimas semanas e com os sinais de enfraquecimento da atividade, a projeção do modelo do BC para o IPCA no horizonte relevante (primeiro trimestre de 2027) permaneceu estável em 3,4%. A comunicação do Copom, portanto, não parece compatível com a possibilidade de corte de juros em dezembro”, diz Luis Cezario, economista-chefe da Asset 1.

“Ao mesmo tempo em que reconhece alguma desaceleração na economia, o comitê vê um mercado de trabalho ainda bastante resiliente e expectativas inflacionárias desancoradas. Além disso, há fatores que adicionam volatilidade ao ambiente, como conflitos geopolíticos e tarifas, especialmente as aplicadas sobre o Brasil”, observa Helena Veronese, economista-chefe da B.Side Investimentos.

Assim, vindo de máximas históricas e ante perspectiva de que a Selic permaneça no alto patamar de 15% ainda por algum tempo, ao menos até o primeiro trimestre de 2026, as principais ações do Ibovespa contaram com poucos gatilhos na sessão, negativa para os preços do petróleo e levemente, também, para o minério de ferro. Na B3, Petrobras fechou o dia em baixa de 0,75% na ON e de 0,98% na PN, enquanto a principal ação do Ibovespa, Vale ON, recuou 0,19%.

Na ponta ganhadora do índice, destaque para Natura (+16,46%), após o anúncio da venda da holding dos negócios da Avon Internacional, a Natura & Co UK Holdings, para a Regent – acelerando o processo de desinvestimento na marca. Logo depois, vieram Motiva (+2,29%) e Hypera (+2,08%). No lado oposto, Usiminas (-5,40%), Azzas (-3,37%) e Vamos (-2,96%). Entre os maiores bancos, o fechamento foi misto, com variações entre -1,06% (Bradesco ON) e +1,05% (Brasil do Brasil ON).

Nesta quinta-feira, ações do setor de varejo e construção, como Cyrela (-0,20%), Magazine Luiza (-0,71%) e MRV (-1,02%), refletiram o comunicado hawkish do Copom – que não trouxe expectativa de queda de juros tão cedo, cenário que tende a prejudicar esses setores, aponta Gabriel Filassi, sócio da AVG Capital.

“No Brasil, veio hoje um ajuste sutil, muito leve, mostrando a resiliência do mercado doméstico. Apesar da alta da moeda americana ante referências do índice DXY, como euro, iene e libra, vista nesta quinta-feira, o dólar deve seguir fragilizado em nível global, favorecendo diversificação para emergentes com o início dos cortes de juros nos Estados Unidos”, diz Matheus Spiess, analista da Empiricus.

Taxas de juros

O recado do Banco Central, de que não há pressa em diminuir a Selic, conduziu uma alta mais pronunciada dos juros futuros curtos no pregão desta quinta-feira. Os vencimentos longos também subiram. Nesse trecho da curva, houve influência do desempenho do mercado de renda fixa norte-americano, que teve deterioração no dia seguinte ao corte de juros pelo Federal Reserve, e ainda reagiu a uma queda maior que a prevista de pedidos de auxílio-desemprego – ou seja, um dado que sinaliza menos fraqueza do mercado de trabalho.

Encerrados os negócios, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 subiu de 13,926% no ajuste da quarta-feira para 13,995%. O DI para janeiro de 2028 avançou de 13,161% no ajuste da véspera para 13,235%. O DI para janeiro de 2029 fechou o dia negociado a 13,105%, vindo de 13,038% no ajuste precedente. O DI para janeiro de 2031 aumentou de 13,223% no ajuste anterior a 13,275%.

Considerando a precificação da curva a termo, ainda há apostas de que o ciclo de relaxamento monetário por aqui pode começar em dezembro, mas em menor grau. As chances de uma redução de 0,25 ponto porcentual da Selic na última reunião de 2025 do Copom passaram de 25% na quarta para 20% nesta quinta, nota Flávio Serrano, economista-chefe do banco BMG. Para janeiro, também houve ajuste para baixo, de 70% para 65%.

Na visão de Serrano, o tom do comunicado do Copom que acompanhou a decisão de manter a Selic em 15% não teve mudança alguma em relação a julho, embora muitos participantes do mercado tenham visto uma postura mais ‘hawkish’. “Vínhamos de vários dias de queda nos DIs. Houve uma correção. Mas a mensagem do BC é de que não haverá queda no curto prazo”, observa.

O Itaú Unibanco manteve sua perspectiva de que o BC vai começar a cortar a Selic em janeiro de 2026 após o comunicado da quarta do colegiado. Segundo o banco, a manutenção pelo Banco Central da projeção de alta de 3,4% do IPCA no horizonte relevante da política monetária (primeiro trimestre de 2027) trouxe um “um viés levemente mais duro” ao comunicado.

Sócio da One Investimentos, João Ferreira afirma que a sessão desta quinta-feira foi de ajustes nas posições, tendo em vista que o Copom contrariou expectativas de agentes de que poderia haver uma comunicação mais ‘dovish’ após a recente valorização do real ante o dólar, que contribui para uma inflação menor, e também depois de o Fed ter diminuído a taxa básica americana em 25 pontos-base. O relaxamento monetário nos EUA sequer foi citado no comunicado do comitê, que ainda enxerga um ambiente externo incerto.

“A ata vai dar mais sinais sobre o rumo da política monetária, mas a minha percepção é de que houve correção na ponta curta até a parte intermediária da curva como reflexo do comunicado do Copom”, disse Ferreira.

Antes da abertura do mercado, uma nova pesquisa da Genial/Quaest mostrou um cenário favorável à reeleição do presidente Lula, que lidera as intenções de voto para o pleito do próximo ano. Lula tem vantagem em todos os oito cenários testados no levantamento, que também indicou que o petista venceria todos seus potenciais adversários em potencial segundo turno. Para Ferreira, da One Investimentos, a tendência é que essas pesquisas ganhem relevância na formação de preços daqui para frente, mas nesta quinta, diante do Copom, o levantamento ficou em segundo plano.

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