O dólar apresentou alta moderada nesta segunda-feira, 26, dia marcado por liquidez bem reduzida, com ausência de negócios nos mercados americanos, fechados em razão do feriado de Memorial Day nos Estados Unidos. Além da depreciação da maioria das divisas emergentes e de exportadores de commodities, em especial ao longo da tarde, o real foi abalado pela persistência de um ambiente de cautela e apreensão com as alterações no Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre crédito, seguro e certas operações de câmbio na semana passada.
Com máxima a R$ 5,6755, à tarde, o dólar à vista fechou em alta de 0,51%, cotado a R$ 5,6757, praticamente zerando as perdas em maio (-0,02%). No ano, a moeda norte-americana acumula desvalorização de 8,16% em relação ao real, que apresenta o melhor desempenho entre as divisas latino americanas.
Termômetro do comportamento da moeda norte-americana em relação a uma cesta de seis divisas fortes, o índice DXY operou em baixa ao longo do dia e rompeu pela manhã o piso dos 99,000 pontos, com mínima aos 98,694 pontos. Euro e libra avançaram após o presidente dos EUA, Donald Trump, estender o prazo para imposição de tarifa de 50% a produtos da União Europeia de 1º de junho para 9 de julho.
Após ressaltar que o pregão desta segunda é atípico, pela baixa liquidez, o superintendente da mesa de derivativos do BS2, Ricardo Chiumento, observa que, em geral, o mercado local tem refletido a dinâmica de perda de força do dólar no exterior neste início de ano. Não por acaso, a apreciação do real, na casa de 8%, é bastante similar à queda do DXY no período.
“A exceção foi na semana passada, principalmente na quinta e sexta-feira, com o anúncio de medidas que mexeram de fato em pontos sensíveis ao capital estrangeiro”, afirma Chiumento, ressaltando que o governo voltou atrás na questão de IOF em pontos relacionados a aplicações em fundos de investimento em brasileiro em ativos no exterior e nas remessas destinadas a investimentos. “O IOF deve pesar um pouco mais sobre a atividade local, que já vinha apresentando sinais de enfraquecimento por conta dos juros altos.
Analistas ponderam que a alteração do IOF, um imposto regulatório, mostra que o governo persiste na estratégia de aumentar a receita para cumprir as metas fiscais, postergando ajustes estruturais nas contas públicas. Há temores de judicialização da decisão do governo de elevar o IOF sobre crédito e seguros.
O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), indicou nesta segunda-feira à tarde que vai levar para discussão, na reunião de líderes da Casa, o projeto de decreto legislativo que pede a suspensão do decreto do governo Lula que aumenta o IOF.
Pela manhã, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que a equipe econômica tem até o fim da semana para decidir como compensar o que deixará de ser arrecadado pela revogação do IOF para aplicação de fundos e remessas para investimentos.
“O mercado ainda tenta entender a lógica por trás do aumento relâmpago do IOF, anunciado e parcialmente desfeito em poucas horas, e agora monitora, com natural ceticismo, quais serão as medidas compensatórias para a isenção tributária dos fundos de brasileiros no exterior”, afirma o head de câmbio para o Norte e Nordeste da B&T XP, Diego Costa. “A verdade é que, enquanto Brasília seguir em modo de indefinição, qualquer respiro tende a ser, no máximo, técnico e temporário.”
Entre os indicadores do dia, à tarde, a Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) informou que a balança comercial brasileira registrou superávit comercial de US$ 2,297 bilhões na quarta semana de maio. No mês, o saldo é de US$ 6,483 bilhões e, no ano, o superávit acumulado é de US$ 24,212 bilhões.
Ibovespa
Sem a referência de Nova York no feriado do Memorial Day, e à espera de uma agenda carregada na semana, com leituras sobre a inflação e o Produto Interno Bruto (PIB), nos Estados Unidos e no Brasil, o Ibovespa teve uma segunda-feira comportada, em que oscilou cerca de mil pontos entre a mínima (137.794,97) e a máxima (138.799,68) da sessão. Ao fim, marcava leve alta de 0,23%, aos 138.136,14 pontos, bem distante dos ganhos observados na Europa. Por lá, os principais mercados encerraram em forte alta após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, adiar a imposição de tarifas de 50% sobre produtos da União Europeia, de junho para julho.
Assim como nos mercados europeus, o volume de negócios na B3 foi enfraquecido pelo feriado nos Estados Unidos: o giro foi de apenas R$ 10,9 bilhões nesta abertura de semana. Em maio, o Ibovespa acumula alta de 2,27% e, no ano, avança 14,84%.
“Dia morno para o Ibovespa, mas buscando recuperação desde a sexta-feira após a mancha deixada pelo aumento do IOF anunciado pelo governo no fim da tarde de quinta-feira”, diz Rubens Cittadin, operador de renda variável da Manchester Investimentos. “A oposição já entrou com um pedido para derrubar essa medida do governo em relação ao IOF, e a gente tem, obviamente, todo o contexto do Trump que causa volatilidade no mercado”, observa Alison Correia, analista e co-fundador da Dom Investimentos.
A progressão do Ibovespa foi contida nesta segunda-feira pelo desempenho da principal ação da carteira, Vale ON, que cedeu 0,57%. O dia foi misto para as cotações do petróleo e também para as ações de Petrobras (ON +0,03%, PN -0,32%).
A presidente da Petrobras, Magda Chambriard, disse nesta segunda que tanto a gasolina quanto o diesel estão abaixo do preço de paridade internacional, e que a empresa pode reduzir seus preços nas refinarias caso a cotação do petróleo continue caindo – o que contribuiu para o desempenho cauteloso do papel na sessão.
Por outro lado, o dia foi em geral positivo para as ações dos maiores bancos, com destaque para recuperação parcial em BB ON (+1,02%), que acumulou perdas desde o anúncio do balanço do primeiro trimestre, e ainda cede quase 15% no mês. Na ponta ganhadora do Ibovespa na sessão, destaque para Assaí (+5,97%), Azul (+4,81%) e Braskem (+4,15%). No lado oposto, Raízen (-7,94%) JBS (-3,63%) e Petz (-3,13%).
Juros
Os juros futuros terminaram a segunda-feira, 26, em queda moderada, definida pela possibilidade de alguma surpresa benigna do IPCA-15 de maio amanhã, mas em movimento limitado pela liquidez fraquíssima que resultou da ausência do mercado de Treasuries por causa do feriado do Memorial Day nos EUA. A tônica da sessão foram taxas perto da estabilidade. Na primeira parte, prevaleceu um viés de baixa na ponta curta e de alta nos vencimentos longos, mas na segunda etapa os juros curtos se firmaram em queda leve e os longos apagaram o viés de alta.
O contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 fechou com taxa de 14,710%, de 14,744% no ajuste de sexta-feira, e a do DI para janeiro de 2027, taxa de 13,95%, de 13,98%. A do DI para janeiro de 2029 passava de 13,60% para 13,56%.
Sem a referência dos Treasuries, a liquidez secou, deixando o mercado também sem estímulo para a montagem de posições, dada ainda a expectativa com a agenda econômica carregada da semana. O DI para janeiro de 2026 hoje foi o mais negociado, mas girando apenas 199.460 contratos, muito abaixo da média diária de 591 mil nos últimos 30 dias.
Pela manhã o mercado operou no piloto automático e à tarde, a curva esboçou alívio, na expectativa pelo IPCA-15 de maio, amanhã, ainda que limitado pelo volume escasso, segundo profissionais da renda fixa. “Algumas casas podem estar se antecipando ao IPCA-15. Como sai logo na abertura, quem estiver posicionado para um dado melhor tem vantagem”, afirma o estrategista-chefe e sócio da EPS Investimentos, Luciano Rostagno, lembrando que especialmente bancos podem ter apostas mais firmes, uma vez que costumam fazer coleta diárias de preços.
A mediana das estimativas coletadas pelo Projeções Broadcast é de ligeira aceleração, para 0,44%, de 0,43% em abril. Para preços de abertura, a projeção é de que a média dos núcleos repitam a alta de 0,47%, mas preços livres e, principalmente, alimentação no domicílio devem ter arrefecimento.
Nas reuniões hoje de diretores do Banco Central com economistas, houve consenso de que o PIB deve crescer mais do que se esperava este ano, trazendo risco para cima à inflação. Por outro lado, as mudanças no IOF reforçam, para os participantes, a convicção de que a taxa Selic continuará parada em 14,75%, porque equivalem a uma alta de 0,25 a 0,50 ponto porcentual nos juros.
A curva a termo, segundo Rostagno, precificava nesta tarde 66% de probabilidade de manutenção da Selic no Copom de junho e 34% de chance de aumento de 25 pontos-base. O mercado segue vendo espaço para corte ainda este ano, dada a precificação de queda de 16 pontos-base no Copom de dezembro. “A economia vai desacelerar em algum momento. Esse caminhão de juros que a gente tem deve bater na atividade”, afirma o estrategista.
O Boletim Focus desta segunda-feira trouxe alterações discretas nas medianas dos economistas. A do IPCA 12 meses à frente caiu de 4,91% para 4,86%, mas segue acima do teto da meta de 4,50% e a do IPCA para 2025 manteve-se em 5,50%. Para a Selic, também não houve mudança, com manutenção dos níveis de 14,75% e 12,50% para 2025 e 2026.
“Ainda que o Focus indique o fim do ciclo de aperto, mantida a Selic em 14,75%, nossa avaliação é de que o Copom deverá promover um último ajuste de 0,25 ponto na próxima reunião, diante da persistência inflacionária e da necessidade de reforçar o compromisso com a meta, sobretudo de 2026”, avalia Arnaldo Lima, economista da Polo Capital.
Para o economista, a semana será decisiva para calibrar as apostas, em função da agenda carregada. Além do IPCA-15, amanhã, haverá divulgação de “indicadores-chave”, especialmente os dados do mercado de trabalho, como o Caged e a taxa de desemprego do IBGE, além do PIB na sexta-feira. “Esses dados serão fundamentais para o Copom avaliar a efetividade das medidas fiscais anunciadas, mensurar a inércia inflacionária e decidir com maior segurança sobre a trajetória da Selic”, afirma.
A notícia do dia, a do adiamento da aplicação de tarifas de 50% à União Europeia pelo presidente Donald Trump, teve pouco potencial para mexer com os negócios por aqui, ao menos antes de um primeiro impacto nos Treasuries, que pode vir a ocorrer amanhã.
Internamente, o aumento do IOF, mesmo com o recuo parcial do governo, ainda traz desconforto. A equipe econômica tem até o fim da semana para decidir como compensar o que deixará de ser arrecadado pela alteração no decreto sobre a cobrança, estimado em R$ 2 bilhões. Os ministros da Junta Orçamentária se reúnem hoje para encontrar uma solução, segundo apurou o Broadcast(sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado).