Dólar fecha dia em queda de 0,26% a R$ 5,5698 e encerra semana com recuo de 2,62%

O dólar perdeu força no mercado local à tarde e fechou a sessão desta sexta-feira, 6, em leve queda, na casa de R$ 5,56. Esse movimento se deu na contramão da onda global de fortalecimento da moeda norte-americana, que se iniciou pela manhã e persistiu ao longo do dia, após dados do mercado de trabalho nos EUA esfriarem as apostas em corte de juros mais agressivo pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) neste ano.

O real foi uma das poucas moedas emergentes, ao lado do peso mexicano, a ganhar terreno. Operadores citaram como possível gatilho para a apreciação da moeda brasileira o retorno de certo otimismo com o pacote fiscal em estudo no governo.

Pode ter ocorrido também um movimento de ajustes e realização de lucros, uma vez que a possibilidade de alta residual da taxa Selic neste mês torna ainda mais difícil a manutenção de posições compradas em dólar.

O real e seu principal concorrente também se beneficiaram da alta do petróleo e do aumento do apetite ao risco na segunda etapa de negócios, depois de o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciar que haverá um encontro entre representantes comerciais americanos e chineses na próxima segunda-feira, dia 9. Na quinta, Trump conversou por telefone com o líder da China, Xi Jinping.

Com mínima a R$ 5,5603, o dólar à vista encerrou o pregão em queda 0,26% a R$ 5,5698 – menor valor de fechamento desde 8 de outubro (R$ 5,5328). A divisa termina a semana e os cinco primeiros pregões de junho com perdas de 2,62%. No ano, a moeda americana apresenta desvalorização de 9,88% em relação ao real.

“O dólar se fortaleceu pela manhã com o payroll, afastando a hipótese de queda de juros nos EUA no curto prazo. Esse comportamento mudou ao longo do dia com alguma correção técnica e pela expectativa da reunião do fim de semana para discutir medidas fiscais”, afirma a economista-chefe do Ouribank, Cristiane Quartaroli.

Após rumores de adiamento, fontes ouvidas pelo Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) informaram que está mantido o encontro neste domingo, 8, entre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e deputados levados pelo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), para debater alternativas à alta do IOF. Se os líderes do Senado não conseguirem participar dessa reunião, outra será feita com eles e o presidente da Casa, Davi Alcolumbre (União-AP), na segunda-feira de manhã.

O presidente do conselho da Esfera Brasil, João Camargo, afirmou que Motta deve fazer no sábado um discurso histórico no fórum que o grupo empresarial promove em Guarujá, no litoral de São Paulo. Já o ministro das Cidades, Jarder Barbalho Filho, disse acreditar que os benefícios tributários serão tema central da reunião de domingo. O líder do União Brasil na Câmara, Pedro Lucas (União-MA), por sua vez, indicou que, entre os pontos que serão tratados, estão a “desvinculação da receita da saúde e da educação, o excedente do petróleo e os dividendos do BNDES”.

O economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, afirma que, além da reprecificação do cenário para a taxa Selic nos últimos dias, o real parece se fortalecer com o crescente otimismo em torno do desenlace da reunião de Haddad com parlamentares. “Uma proposta de corte linear nos benefícios tributários seria bem melhor que a encomenda”, afirma Borsoi.

No exterior, termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas, o índice DXY subia cerca de 0,40% no fim da tarde, por volta dos 99,200 pontos, após máxima aos 99,357 pontos. Apesar disso, o Dollar Index termina a semana com leve baixa (0,25%). No ano, o DXY cai mais de 8%.

Após dados fracos de geração de emprego no setor privado (relatório ADP) e aumento dos pedidos semanais de seguro-desemprego sugerirem desaquecimento do mercado de trabalho, o relatório de emprego de maio superou as expectativas. A economia americana criou 129 mil vagas no mês passado, acima da mediana de Projeções Broadcast, de 125 mil.

“O payroll veio mais um menos dentro do esperado e mostrou que o mercado de trabalho segue forte. Isso sugere que não haverá cortes de juros nos EUA no curto prazo”, afirma o economista Vladimir Caramaschi, sócio-fundador da +Ideas Consultoria Econômica, para quem a apreciação do real à tarde está mais ligada ao aumento do apetite ao risco no exterior com a expectativa da reunião entre China e EUA. “Pode estar ocorrendo também uma devolução da parte do estresse inicial com o episódio do IOF”.

Bolsa

O Ibovespa encerrou a primeira semana de junho acumulando perda de 0,67% no intervalo, mantendo-se no campo negativo nas últimas três sessões, e agora no menor nível de encerramento desde 7 de maio, há um mês. Na sessão desta sexta-feira, cedeu apenas 0,10%, aos 136.102,10 pontos.

Dessa forma, emenda também a terceira semana em baixa, no período iniciado em 19 de maio. Ainda que tenha sido discreto o ajuste acumulado neste intervalo – e no qual o índice renovou máxima histórica, no intradia e fechamento, em 20 de maio -, o prosseguimento da leve correção no Ibovespa o coloca agora na mais longa série semanal negativa desde as quatro entre 9 de dezembro e 3 de janeiro passado. Contudo, a série atual sucede seis semanas de avanço, de 7 de abril a 16 de maio. E no ano, o Ibovespa mantém ganho sólido, de 13,15%.

Nesta sexta-feira, o índice oscilou dos 135.600,86 aos 136.889,88 pontos, saindo de abertura aos 136.236,37 pontos. O giro foi a R$ 24,4 bilhões na sessão. Na ponta ganhadora, Prio (+3,56%), JBS (+1,93%) e Brava (+1,66%). No lado oposto, Magazine Luiza (-5,57%), Vamos (-5,23%) e Lojas Renner (-4,67%).

Entre as blue chips, Petrobras avançou 1,19% na ON e 0,92% na PN, enquanto Vale ON ficou perto da estabilidade, em viés positivo (+0,13%). Entre os principais bancos, as perdas do dia ficaram entre 0,06% (Bradesco PN) e 2,38% (Banco do Brasil ON), à exceção de Itaú PN, principal papel do setor, que virou no fim e subiu 0,25%, contribuindo para a moderação do ajuste do Ibovespa, ao lado de Petrobras e Vale.

Os contratos futuros de petróleo fecharam em alta, com o renovado otimismo em relação às negociações comerciais entre EUA e China e pela ausência de avanços em direção a cessar-fogo entre Ucrânia e Rússia ou a acordo sobre o programa nuclear com o Irã – fatores que compensaram as preocupações com o aumento da produção pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+). Em Nova York, o contrato do WTI para julho subiu 1,91% (US$ 1,21), fechando a US$ 64,58 o barril. E o Brent para agosto, negociado em Londres, avançou 1,73% (US$ 1,13), a US$ 66,47 o barril. Na semana, o WTI teve alta de 6,23% e o Brent, de 6,15%.

Como destaque da agenda global pela manhã, a economista, sócia e advisor na Blue3 Investimentos, Bruna Centeno, aponta a geração de vagas de trabalho nos Estados Unidos em maio, acima do esperado para o mês, o que traz cautela com relação à trajetória de juros nos Estados Unidos, considerando ainda as incertezas em torno das tarifas comerciais, deflagradas e sustentadas pela Casa Branca – o que tem algum efeito, também, para a curva de juros doméstica.

“Ciclo de alta de juros no Brasil pode não ter terminado”, acrescenta Bruna, mencionando também as recentes fortes leituras sobre a economia doméstica, como o PIB do primeiro trimestre.

“Ficou claro que a economia americana criou mais empregos que o esperado para maio e os salários também vieram acima das projeções”, reforça Christian Iarussi, economista e sócio da The Hill Capital. “Esses dados reforçam a percepção de que a maior economia do mundo segue aquecida – o que, por um lado, é positivo para o sentimento global, mas por outro, sem dúvida, reduz as apostas em cortes mais agressivos de juros pelo Federal Reserve esperados pelo mercado mais para a frente”, acrescenta.

No front do comércio exterior dos EUA, o presidente Donald Trump anunciou nesta sexta-feira que encontro entre representantes comerciais americanos e chineses ocorrerá em 9 de junho, próxima segunda-feira, em Londres – a retomada do diálogo entre as partes, o que incluiu conversa nesta semana entre os presidentes Trump e Xi Jinping, da China, tem animado, ainda que cautelosamente, o mercado.

“Tenho o prazer de anunciar que o secretário do Tesouro, Scott Bessent; o secretário de Comércio, Howard Lutnick, e o representante de Comércio dos EUA, Jamieson Greer, se reunirão com representantes da China no contexto do acordo comercial”, disse na Truth Social.

O quadro das expectativas para o comportamento das ações no curtíssimo prazo permaneceu dividido e inalterado no Termômetro Broadcast Bolsa desta sexta-feira em relação às últimas semanas. Entre os participantes, a expectativa de alta para o Ibovespa tem fatia de 33%, assim como a de estabilidade e de queda. Na pesquisa anterior, cada uma das projeções também tinha participação de 33% no universo das respostas.

Taxas de juros

Após uma manhã em alta, os juros futuros inverteram o sinal e passaram a cair à tarde, com o mercado mostrando melhora nas expectativas sobre as medidas que estão sendo elaboradas em alternativa ao aumento do IOF, e também acompanhando a valorização do câmbio. Com isso, a influência de alta vinda da curva dos Treasuries acabou sendo neutralizada, embora ainda servisse como limitação a um alívio mais significativo.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 fechou em 14,90%, de 14,91% no ajuste da quinta-feira, e a do DI para janeiro de 2027 terminou em 14,29%, de 14,36%. O DI para janeiro de 2029 encerrou com taxa de 13,71% (de 13,79%) e a do DI para janeiro de 2031, em 13,83%, de 13,91%.

As taxas percorreram a manhã em alta, refletindo a pressão dos Treasuries e um mercado cauteloso sobre as medidas para resolver o impasse do IOF que serão discutidas numa reunião entre Executivo e Legislativo neste domingo. À tarde, o dólar passou a cair e, adicionalmente, declarações de autoridades presentes no evento da Esfera Brasil sinalizando compromisso fiscal melhoraram o sentimento do mercado.

“Esse fechamento agora à tarde foi junto com o câmbio. O câmbio por sua vez melhorou junto com o peso mexicano. Mas o real é a segunda melhor moeda hoje”, afirma Rafael Ihara, economista-chefe da Meraki Capital. Ele destaca que o aumento das apostas na alta de 25 pontos-base da Selic em junho deve ajudar a moeda, “e, por ser uma decisão mais responsável, ajuda no flattening da curva de juros”. “Acredito que deve ter um pouco de fiscal também. Pode sair alguma medida importante da reunião de domingo”, complementa Ihara, que acredita que o Congresso “vai ajudar Haddad nessa”.

No exterior, os juros dos Treasuries subiram com força, refletindo a leitura do relatório de emprego nos EUA. A taxa da T-Note de dez anos abriu mais de 10 pontos-base, voltando a tocar os 4,50% à tarde, mas o impacto foi ofuscado pela melhora da percepção doméstica, principalmente nos vencimentos longos. A ponta curta teve um recuo moderado, com o mercado mais conservador nas apostas para a Selic nos próximos meses.

Otávio Araújo, consultor sênior da Zero Markets, vê uma possível alta de 25 pontos-base no Copom de junho e acredita que o Banco Central não terá condições de reduzir a Selic ainda em 2025. “Risco fiscal é o principal fator de pessimismo. Um governo que está gastando mais do que arrecada e fazendo isso sem constrangimento. E tem 2026, ano eleitoral, que terá de gastar ainda mais, gerando mais incerteza e inflação”, disse.

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