Dólar fecha abaixo de R$ 5,70 com exterior e Datafolha; Ibovespa avança 2,89% na semana

O dólar apresentou queda firme na sessão desta sexta-feira, 14, alinhado à onda de enfraquecimento da moeda americana no exterior na esteira de dados fracos de atividade nos EUA, e fechou no menor nível desde o início de novembro de 2024.

Já em baixa superior a 1% à tarde, a divisa acentuou o ritmo de queda na última hora de negócios e rompeu o piso técnico de R$ 5,70 após a divulgação de pesquisa Datafolha revelando uma piora na avaliação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O real, que ontem tropeçou com a menção ao etanol brasileiro no memorando de Donald Trump sobre tarifas recíprocas, hoje apresentou o melhor desempenho entre as principais moedas emergentes e de países exportadores de commodities, seguido pelo dólar neozelandês, com ganhos pouco acima de 1%.

O economista-chefe da Monte Bravo, Luciano Costa, ressalta que, embora o principal indutor da apreciação do real hoje tenha sido o quadro externo, houve uma retirada adicional de prêmios de risco na taxa de câmbio com a divulgação dos números do Datafolha.

Pesquisa do instituto mostrou que a aprovação de Lula caiu de 35% em dezembro de 2024 para 24%. Já a desaprovação saltou de 34% para 41%. Trata-se dos piores índices entre os três mandatos do petista pelo histórico do Datafolha.

“Isso aumenta a pressão para que a política econômica seja bem conduzida e Lula tente chegar à eleição com inflação e contas públicas sob controle. Por outro lado, também gera a possibilidade de aumento das chances de vitória de uma candidatura da oposição”, afirma Costa, ressaltando que pesquisa “é fotografia” do momento e que Lula pode recuperar a popularidade perdida.

Com mínima a R$ 5,6947 na reta final da sessão, o dólar à vista fechou em baixa de 1,26%, cotado a R$ 5,6962 – menor valor de fechamento desde 7 de novembro do ano passado (R$ 5,6753). A moeda americana termina a semana com perdas de 1,68% em relação ao real, o que leva a queda em fevereiro a 2,41%. No ano, o dólar acumula desvalorização de 7,83%, após ter subido 27,34% no ano passado.

Lá fora, o índice DXY – termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes – furou o piso de R$ 107,000 pontos e operava no fim da tarde ao redor dos 106,750 pontos, em queda de cerca de 0,50%. Na semana, o Dollar Index recuou mais de 1,30%.

O enfraquecimento global do dólar é uma resposta, em grande parte, à ampliação das apostas na retomada de cortes de juros pelo Federal Reserve neste ano, dado um sinal claro de perda de fôlego da atividade. As vendas no varejo dos EUA caíram 0,9% na passagem de janeiro para dezembro, enquanto analistas previam estabilidade.

Costa, da Monte Bravo, observa que os números de vendas no varejo frustraram as expectativas e levaram a uma revisão para baixo das estimativas para o PIB americano no primeiro trimestre, o que deflagrou o enfraquecimento do dólar e o recuo firme das taxas dos Treasuries.

“Na quarta-feira, quando caiu o CPI (inflação ao consumidor), o mercado previa apenas um corte neste ano. Agora, voltou a colocar na curva 40 pontos-base de redução dos juros”, afirma o economista.

Para Costa, outro ponto por trás da perda de força do dólar é a percepção de que não haverá uma escalada iminente da guerra comercial, dada a leitura de que tarifas de importação anunciadas por Trump são armas de negociação e podem não se concretizar.

Depois de anunciar taxação de 25% sobre aço e alumínio no início da semana, ontem Trump assinou memorando de imposição de tarifas recíprocas, com validade a partir de abril. Pela manhã, o secretário do Tesouro americano, Scott Bessent, disse que verá como os parceiros comerciais dos EUA vão responder e que, se necessário, o presidente americano vai impor as tarifas anunciadas.

“O dólar caiu muito com o efeito Trump. Esse vai e volta das tarifas parece uma grande cortina de fumaça visando o eleitor americano. Não tem nada concreto ainda de como vai ser feito nem em relação aos setores nem com as tarifas recíprocas”, afirma a economista Paloma Lopes, da Valor Investimentos.

Ibovespa

Com ganho de fôlego à tarde, o Ibovespa fechou na casa dos 128 mil pontos pela primeira vez no ano, em seu maior nível de encerramento desde 11 de dezembro, então perto dos 129,6 mil pontos. Nesta sexta-feira, o índice da B3 saiu de mínima a 124.849,48, correspondente à abertura, e mostrou forte dinamismo ao longo da tarde, tocando máxima a 128.481,66 pontos, com giro a R$ 26,5 bilhões. Na semana, avançou 2,89%, vindo de perda de 1,20% na anterior – até aqui, o único revés semanal de 2025. No ano, sobe 6,60% e, no mês, ganha 1,65%.

No fechamento desta sexta-feira, mostrava alta de 2,70%, aos 128.218,59 pontos, com grande impulso proporcionado por Petrobras (ON +3,60%, PN +3,08%), mesmo na contramão do petróleo na sessão, e pelas ações de grandes bancos, tendo BB ON (+4,74%) à frente nesta sexta-feira. Vale ON subiu 1,48%. Na ponta ganhadora do índice, Vamos (+9,17%), Hapvida (+8,19%) e CVC (+7,03%). No lado oposto, Petz (-1,79%), Suzano (-0,64%) e Porto Seguro (-0,51%). Apenas seis das 87 ações da carteira Ibovespa fecharam o dia no negativo. O ganho do índice na sessão foi o mais forte desde 30 de janeiro, quando subiu 2,82%.

O apetite por ações na B3 foi reforçado por nova pesquisa Datafolha, que trouxe queda na popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no menor nível de seus três mandatos – restrita a 24% de aprovação, no último levantamento. Assim, o dólar à vista foi negociado abaixo de R$ 5,70 na mínima do dia, a R$ 5,6947, e no fechamento ainda mostrava perda de 1,26% na sessão, a R$ 5,6962. A curva de juros doméstica também refluiu com consistência após o levantamento do Datafolha.

“A aprovação do Lula caiu bastante, de 35% para 24%. Chama muito a atenção porque ele nunca teve uma avaliação tão ruim. A reprovação do governo foi recorde. E isso trouxe um otimismo maior. A bolsa, que estava subindo em torno de 1,80%, disparou para uma alta de mais de 2,70%”, observa Marcelo Bolzan, sócio da The Hill Capital, que menciona também fatores externos na configuração do recente ajuste de preços dos ativos.

“O dólar nesse patamar atual é uma surpresa bem grande, e a queda está muito mais relacionada ao cenário externo, ainda. Existia uma preocupação muito grande em relação às tarifas Trump, e o que vimos até o momento é que não aconteceu”, acrescenta Bolzan. Assim, segundo ele, a semana que havia começado de uma forma “muito mais preocupada” termina, agora, em registro positivo.

Ainda assim, o quadro das expectativas para o desempenho das ações no curtíssimo prazo está rigorosamente equilibrado no Termômetro Broadcast Bolsa desta sexta-feira. As expectativas de alta, estabilidade e queda para o Ibovespa têm fatia de 33,33% cada, entre os participantes. Na edição anterior, 37,50% esperavam baixa para o índice e outros 37,50%, estabilidade, enquanto 25% previam ganho.

“O dia foi bom e os preços na Bolsa estavam muito comprimidos. O mercado continua a corrigir a distorção exagerada que foi o final do ano passado, com juros e dólar então muito para cima. Situação era bem menos desastrosa do que se precificava, o que aparece também na atual temporada de resultados trimestrais resilientes”, diz Felipe Moura, sócio e analista da Finacap.

Camilo Cavalcanti, gestor de portfólios na Oby Capital, destaca o fechamento observado na curva de juros na semana – expressivo hoje em especial nos trechos médios e longos -, o que contribui para desempenho positivo dos índices de crédito privado, com fechamento nos spreads dos títulos monitorados pelo Idex-CDI.

“Descompressão ocorre por vários motivos, a começar pelo ambiente internacional – em especial pela menor intransigência que tem sido mostrada, recentemente, pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump com relação a tarifas de comércio exterior.” Dessa forma, acrescenta o gestor, o dólar perdeu força ante referências internacionais, e o real segue como melhor moeda do ano, o que o recoloca a níveis de fim de outubro, começo de novembro passado.

Além disso, “as primeiras falas públicas do presidente do BC, Gabriel Galípolo, após o último Copom, no fim de janeiro, também merecem atenção. Ele mantém o tom com relação às expectativas de inflação, com preservação do sinal de que a Selic voltará a subir na próxima reunião”, aponta Cavalcanti.

Juros

Os juros futuros terminaram a sexta-feira, 14, em forte queda, estimulado inicialmente pela melhora do apetite ao risco generalizada por ativos de economias emergentes e, a partir do meio da tarde, pelos resultados de pesquisa Datafolha apontando queda na aprovação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao pior nível entre seus mandatos.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 caiu de 14,840% para 14,765%, e a do DI para janeiro de 2027, de 14,95% para 14,72%. O DI para janeiro de 2029 despencou a 14,45%, de 14,81%.

Durante a sessão, foi o ambiente internacional a ditar o ritmo de queda das taxas, mas no meio da tarde o fator interno deu combustível extra aos ativos locais. A pesquisa Datafolha mostrou que a aprovação do presidente despencou de 35% para 24% e a desaprovação saltou de 34% a 41%, piores índices entre os três mandatos do petista. O mercado quer saber agora se haverá, e qual seria, a reação do governo aos números.

Para o economista-chefe da Equador Investimentos, Eduardo Velho, os resultados podem pressionar o governo a ajustar a política econômica, em direção a uma maior responsabilidade fiscal, “já que mostram que o governo está fraco para negociar medidas”, mas a leitura do mercado parece ser mais a de que a oposição ganha força na corrida eleitoral do ano que vem. “O resumo da ópera é que Lula então não se candidataria e ganharia a eleição um candidato de direita, com mudança da política econômica em 2027”, explicou.

Velho acredita que o governo, acuado, pode partir para medidas ainda mais populistas no curto prazo, o que traria mais volatilidade aos ativos. “Tende a gerar mais pressão dentro do governo por incentivos fiscais, aprovação rápida da isenção de Imposto de Renda para rendimentos de até R$ 5 mil, maior expansão do crédito subsidiado, etc..”, avalia.

Antes do Datafolha, a queda do dólar e das taxas dos Treasuries já sustentavam os juros em baixa. As vendas do varejo americano bem mais fracas do que o esperado recolocaram no jogo a possibilidade de haver duas quedas de juros nos EUA este ano. Ainda, o fato de que a reciprocidade na aplicação das tarifas pelo governo Donald Trump não será adotada no curto prazo também seguiu ajudando os ativos de risco, impulsionando moedas emergentes como o real, o que acaba favorecendo a curva a termo.

Internamente, os indicadores fracos de atividade que saíram na semana seguiram hoje fazendo preço na curva ao longo da sessão, com o mercado ampliando as apostas de que os números ruins de varejo e serviços de dezembro podem representar sim uma tendência firme de desaceleração do ritmo de atividade. “A partir da preocupação de uma desaceleração mais rápida, haveria uma necessidade de aumento de juros menor, então a gente acaba tendo uma compressão relevante nos juros”, afirma o gestor de renda fixa da Porto Asset, Gustavo Okuyama. Segundo ele, a curva nesta tarde apontava Selic terminal de 15,50%, ante 15,93% no fechamento da sexta-feira passada.

O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, voltou hoje a pregar cautela na reação a dados de alta frequência que sugerem desaceleração, frisando que a autoridade monetária espera por maior clareza para concluir se é mesmo uma tendência. “O que já dissemos na ata, e tenho reforçado, é que num passado recente, esses dados de alta frequência, que apresentam maior volatilidade, às vezes se apresentaram de uma maneira que pareciam confirmar uma tendência e depois isso não se confirmou”, declarou Galípolo, em apresentação na Fiesp.
C

Deixe um comentário