Dólar cai 0,69% a R$ 5,81 em dia de recuperação de divisas emergentes

O dólar acentuou o ritmo de baixa ao longo da tarde, em sintonia com o comportamento da moeda norte-americana no exterior, e encerrou a sessão desta terça-feira, 11, em queda firme, no nível de R$ 5,81, após mínimas na casa de R$ 5,80.

Notícia de que a Ucrânia aceitou proposta norte-americana para um cessar-fogo na guerra contra a Rússia e o recuo temporário da província canadense de Ontário na aplicação de tarifas de 25% à energia elétrica exportada aos EUA foram bem recebidos pelos investidores.

Pela manhã, o presidente Donald Trump havia anunciado tarifa adicional de 25% sobre o aço e o alumínio canadense, elevando a tarifa total 50%, em contraofensiva a iniciativa de Ontário na segunda-feira. À tarde, Trump disse que poderia desistir da sobretaxa de 25% para os produtos canadenses a partir da quarta-feira, o que foi confirmado em seguida.

Divisas emergentes e de países exportadores já se valorizavam em relação ao dólar desde a abertura dos negócios, em movimento de correção parcial das pesadas perdas da segunda-feira, quando os temores de recessão nos EUA abalaram ativos de risco.

Com mínima a R$ 5,8037, o dólar à vista terminou a sessão em queda de 0,69%, a R$ 5,8117. Com isso, a divisa passa a acumular desvalorização de 1,77% nos cinco primeiros pregões de março, após alta de 1,37% em fevereiro. No ano, o dólar recua 5,96%.

“Temos hoje um movimento global de desvalorização do dólar, que ainda está forte. Com a perspectiva de taxa de juros menor e economia desacelerando, os Estados Unidos vão atrair menos fluxo, o que favorece divisas emergentes”, afirma o head da Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt.

Termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes, o índice DXY caía cerca de 0,60% no fim da tarde e operava ao redor dos 103,370 pontos, após mínima aos 103,221 pontos, graças sobretudo às perdas do euro.

Divulgado no fim da manhã, relatório Jolts mostrou que a abertura de postos de trabalho nos Estados Unidos subiu para 7,74 milhões em janeiro, resultado praticamente em linha com a expectativa de analistas.

Investidores aguardam a divulgação na quarta-feira do índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) dos EUA em fevereiro para calibrar as apostas em relação aos próximos passos do Federal Reserve, o banco central norte-americano.

Por ora, as apostas majoritárias se inclinam para uma redução total de 75 pontos-base neste ano, com o primeiro corte em maio ou junho. À tarde, Trump disse que está “muito otimista” com as perspectivas para a economia dos EUA, que “vai bombar”.

Lembrando que a taxa de câmbio oscilou entre R$ 5,70 e R$ 5,90 nos dois primeiros meses de 2025, após um “overshooting” que levou o dólar a R$ 6,30 em dezembro, a equipe de econômica da XP traça três cenários para o comportamento da moeda norte-americana.

No cenário base, haveria uma leve depreciação do real, com o dólar indo a R$ 5,90. Isso leva em conta a perspectiva de menor crescimento econômico com a guerra comercial, maior aversão ao risco e postura mais rígida do Fed, sem cortes de juros neste ano. Outros pontos seriam estabilidade dos preços de commodities e ausência de piora do risco-país brasileiro.

Já no quadro mais otimista traçado pela XP, sem aumentos significativos nas tarifas de importação por Trump e cortes de juros pelo Fed neste ano, o dólar escorrega para R$ 5,40. Esse cenário leva em conta também nova rodada de medidas de ajustes fiscal pelo governo Lula.

Na outra ponta, mais pessimista, o dólar vai a R$ 6,45. Tal cenário teria como premissa a manutenção da guerra comercial ao longo do ano e mais pressão inflacionária nos EUA, o que levaria a debates sobre alta de juros pelo Fed, além de deterioração fiscal maior no Brasil.

Bolsa

Com os mercados globais ainda pressionados pelos desdobramentos em torno do protecionismo de Trump nos EUA, o Ibovespa seguiu em baixa de 0,81% nesta terça-feira, 11, aos 123.507,35 pontos no fechamento, o que reduz o ganho acumulado no mês a 0,58%. Nas duas primeiras sessões da semana, a leitura agregada é de -1,22%, limitando o avanço do ano a 2,68%.

Nesta terça-feira, com giro a R$ 19,5 bilhões na B3, poucos carros-chefes do Ibovespa conseguiram se desvencilhar do viés negativo, como Vale, que reagiu à tarde e encerrou em alta de 0,83%. Petrobras ON e PN, por sua vez, caíram 2,06% e 1,50%, apesar da estabilização do petróleo na sessão.

Em entrevista à Energy Intelligence, durante a CERAWeek, uma das maiores conferências de energia do mundo, promovida pela S&P Global, em Houston (EUA), a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, afirmou que os preços do petróleo para este ano devem variar entre US$ 70 e US$ 75 por barril – enquanto o plano de negócios da estatal previa a commodity a US$ 83. “Se começarmos a normalizar os fluxos de energia no mundo, suspender as sanções à Rússia, com mais produtores colocando petróleo nos mercados, o preço cairá”, disse Chambriard.

Entre os grandes bancos, as perdas foram a 2,11% (Santander Unit) nesta terça-feira. Na ponta ganhadora, Automob (+4,00%), LWSA (+3,79%) e Viva (+3,16%). No lado oposto, Marcopolo (-4,46%), Auren (-3,35%) e Pão de Açúcar (-3,25%).

“Dinâmica bem confusa nos mercados hoje, aqui, com juros futuros em queda, mas também no dólar frente ao real e da Bolsa. As expectativas estão mudando, com prêmio de risco cedendo ante a percepção de que há perda de força do governo para as próximas eleições, um movimento ainda muito especulativo pela distância temporal”, diz Felipe Moura, analista da Finacap Investimentos. “Há um movimento de correção esperado, com muito prêmio ainda na parte longa da curva. Mas se olharmos o contexto mais amplo, também há uma baixa no dólar, com efeito para as bolsas americanas em correção de mais de 10% este ano, em que o S&P 500 está abaixo da média móvel de 200 períodos, ante Trump, o que não se via desde outubro de 2023”, acrescenta o analista, referindo-se a preços esticados nos Estados Unidos para os ativos – “agora em perda de momentum” com o “tarifaço protecionista” do presidente americano, que resulta em posições mais defensivas.

Por outro lado, os “preços dos ativos ficaram tão baratos no Brasil que já começam a compensar o risco”, acrescenta Moura. “Precisamos dessa base macro mais favorável, em juros futuros e dólar, para que a Bolsa volte a subir com consistência.”

“Essa posição negociadora de Trump – especialmente Canadá e México, com os quais tem sido mais agressivo – começa a afetar a economia e a incomodar os mercados, resultando em aversão a risco um pouco mais elevada”, resume Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha investimentos, acrescentando que o Ibovespa acompanhou o mal-estar externo ao longo da sessão.

Taxas de juros

A produção industrial abaixo do esperado reforçou a tese de que a economia brasileira está passando por um processo de desaceleração, o que apoia o fechamento da curva de juros nesta terça-feira. O enfraquecimento do dólar, após Ontário suspender sobretaxa em eletricidade aos Estados Unidos, e o leilão do Tesouro com lote e risco menor para o mercado também contribuíram para o alívio.

Por volta das 17h15, a taxa de depósito interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 recuava para 14,715%, de 14,799% no ajuste anterior. O DI para janeiro de 2027 cedia para 14,540%, de 14,704%, e o para janeiro de 2029 caía para 14,485%, de 14,699% no ajuste da segunda-feira.

“Hoje saíram dados de produção industrial do Brasil, abaixo das estimativas. Há algumas semanas, boa parte dos dados de atividade têm surpreendido para baixo, então, com sinais mais claros de desaceleração econômica, as taxas de juros acabam caindo”, afirma o estrategista-chefe da Constância Investimentos, Carlos Eduardo Mello e Paiva.

A produção industrial ficou estável em janeiro ante dezembro, abaixo da mediana do Projeções Broadcast de aumento de 0,4%. Na comparação com janeiro de 2024, o indicador subiu 1,4%, também abaixo da mediana de 2,0%.

Monitorando os dados mais fracos de atividade, o mercado volta a discutir até que nível o Banco Central (BC) pode subir a taxa Selic, segundo o economista-chefe da Monte Bravo, Luciano Costa. “A curva de juros precifica Selic terminal em torno de 15%, em alguns momentos da sessão de hoje foi até um pouco abaixo”, comenta.

No ramo de tarifas, que têm sido um ponto de incerteza para os mercados globais, destaque para o recuo da província de Ontário de aplicar a sobretaxa de 25% em eletricidade aos Estados Unidos. Em seguida, o governo dos EUA disse que não aplicará a tarifa de 50% em aço e alumínio do Canadá na quarta-feira. “Então houve um canal de alívio na aversão a risco lá fora, e com o real apreciando, os juros acabaram respondendo e também caíram um pouco mais”, comenta Costa, da Monte Bravo.

“O dólar é uma variável muito importante para o cenário do BC. Embora a inflação corrente ainda esteja muito alta, a inflação que o BC mira é a de 18 meses, e esta é influenciada pelo dólar”, afirma Mello e Paiva, da Constância.

Na quarta-feira, o mercado deve acompanhar na lupa o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de fevereiro, que deve acelerar a 1,32% após alta de 0,16% em janeiro, segundo mediana do Projeções Broadcast na pesquisa com analistas do mercado financeiro.

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