Dólar avança 0,44% e fecha perto de R$ 5,57 com remessas ao exterior

O dólar abriu a última semana do ano em alta firme em relação ao real e voltou a se aproximar do nível de R$ 5,60 nos picos da sessão. Além do dia negativo para divisas emergentes, em especial latino-americanas, o real sofreu com a demanda sazonal por moeda americana para remessas de lucros e dividendos ao exterior em ambiente de liquidez reduzida. Embora sem impacto direto na formação da taxa de câmbio, operadores citaram desconforto com o imbróglio jurídico envolvendo a liquidação do Banco Master pelo Banco Central.

Com máxima de R$ 5,5858, o dólar à vista encerrou esta segunda-feira, 29, em alta de 0,44%, a R$ 5,5689. A moeda americana acumula valorização de 4,39% em dezembro, atribuída à combinação de sazonalidade desfavorável com aumento dos prêmios de risco após o anúncio, no início do mês, da pré-candidatura do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) ao Palácio do Planalto.

“Não vimos notícias hoje que pudessem mexer com o câmbio. O aumento das remessas ao exterior em meio à liquidez mais reduzida trouxe volatilidade e acabou puxando o dólar para cima”, afirma o especialista Ian Lopes, da Valor Investimentos.

Operadores ressaltam que o dólar futuro para janeiro se manteve em boa parte do pregão abaixo do nível do dólar à vista, algo pouco usual e que indica demanda mais forte por moeda no segmento spot para remessas ao exterior. Investidores também já rolam posições no mercado futuro e se preparam para a disputa pela definição da última taxa ptax de dezembro, que vai ser utilizada para liquidação de contratos derivativos e fechamento de balanços corporativos.

“Vimos em alguns momentos o casado negativo, com o dólar futuro em valor menor do que o spot. É algo muito comum no fim do ano, com saída de recursos para distribuição de lucros e dividendos”, afirma o head da mesa de câmbio e internacional da Mirae Asset Brasil, Jonathan Joo Lee.

Para Lee, apesar da sazonalidade negativa do fluxo, a depreciação do real hoje está mais ligada ao movimento global de valorização da moeda americana, com investidores reduzindo exposição a ativos mais arriscados na véspera da virada do ano, quando os mercados estarão fechados. “É um período marcado pelo ‘fly to quality’ por parte dos hedge funds”, afirma.

Termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis moedas fortes, o índice DXY operou em leve alta ao longo do dia, acima dos 98,000 pontos, mas rondava a estabilidade no fim da tarde. Já o iene ganhou força após sinais de mais aperto monetário pelo Banco do Japão (BoJ), que no último dia 19 elevou a taxa básica em 25 pontos-base, para 0,75%, o maior nível em 30 anos.

A valorização do iene pode ter desencadeado ajuste em operações de carry trade com moedas de países de juros altos, o que ajudaria a explicar o desempenho negativo das divisas latinas em dia de ganhos firmes do petróleo e do minério de ferro. Peso chileno e colombiano amargaram as piores perdas, com recuos entre 0,90% e 1% em relação ao dólar.

Ibovespa

Após duas sessões em alta, o Ibovespa fez uma pausa para ajuste, mas sustentando a linha dos 160 mil pontos pelo terceiro fechamento consecutivo. Entre a mínima e a máxima desta segunda-feira, 29, oscilou dos 159.701,72 até os 161.133,33 pontos, tendo saído de abertura aos 160.896,52 pontos. Ao fim, marcava leve perda de 0,25%, aos 160.490,30 pontos, com giro financeiro enfraquecido nesta penúltima sessão de 2025, a R$ 16,3 bilhões. No ano, acumula até aqui ganho de 33,43%, a caminho de seu melhor desempenho desde 2016 (+38,9%), há nove anos. Em dezembro, sobe 0,89%.

Nesta segunda-feira, 29, o bom desempenho de Petrobras (ON +0,65%, PN +1,05%) – impulsionado pelas tensões EUA-Venezuela, bem como por notícias desencontradas sobre um possível acordo de paz entre Rússia e Ucrânia, uma combinação que empurrou o petróleo para cima, em alta de 2% em Londres e Nova York – não foi o suficiente para equilibrar a queda de 1,37% em Vale ON, ação de maior peso individual no Ibovespa. A ação da mineradora recuou mesmo com o forte avanço do preço da commodity na sessão, em ajuste que operadores atribuíram a uma realização de lucros no papel, que ainda sobe mais de 12% no mês e quase 50% no ano.

“O Ibovespa teve menor liquidez como era esperado para o fim de ano, e foi puxado hoje para baixo pela correção em Vale, esperada, que vem de um trimestre muito bom”, diz Guilherme Falcão, sócio da One Investimentos.

O dia também foi negativo para o segmento de maior ponderação sobre o índice da B3, o financeiro, com perdas entre os maiores bancos que chegaram a 2,68% (Santander Unit) no fechamento – exceção para Bradesco PN, na máxima do dia no encerramento, em alta de 0,49%. Na ponta ganhadora do Ibovespa, Brava (+5,01%), Pão de Açúcar (+2,50%) e CVC (+1,93%). No lado oposto, Cogna (-3,12%) e CSN (-2,51%), ao lado de Santander.

Em relatório, o Inter avalia que a precificação atual do Ibovespa, a 160 mil pontos, implica uma expectativa baixa de crescimento de lucros para 2026 – em torno de 3%, segundo o consenso de mercado pela FactSet – que, na percepção do Inter, está sujeita a revisões. “Considerando um valuation de 10x, ainda abaixo da média histórica, e o crescimento esperado de 5% no lucro por ação do Ibovespa, estimamos um valor justo de 182 mil pontos, o que consideramos cautelosamente otimista”, aponta o relatório.

“Olhando para janeiro, a tendência é de um início de ano mais cauteloso, com maior volatilidade”, diz Bruno Corano, CEO da Corano Capital, para quem o mercado estará muito atento aos dados de inflação, às sinalizações do Copom e do Fed, bem como ao fluxo estrangeiro. “Se o cenário de juros continuar caminhando na direção certa, o viés segue construtivo”, acrescenta. Ele considera que o mês de dezembro foi como uma “pausa para ajuste”. “O pano de fundo para 2026 ainda é positivo para o primeiro semestre, até que a gente se aproxime das eleições”, observa.

No curtíssimo prazo, o mercado acompanhará os efeitos da acareação determinada pelo ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), entre Daniel Vorcaro, do Banco Master, e o diretor de Fiscalização do Banco Central, Ailton de Aquino, que ocorrerá amanhã. Após a liquidação do Master pelo BC, o temor é de que o envolvimento direto do STF em uma questão técnica atinente à autoridade monetária possa resultar, de alguma forma, em reversão favorável a uma instituição financeira considerada insolvente e não recuperável.

Em outro desdobramento em torno do assunto, o Banco Central enviou ao Tribunal de Contas da União (TCU) uma resposta ao despacho do ministro Jhonatan de Jesus que questionou a liquidação do Banco Master, decretada em novembro. O TCU informou que a resposta foi protocolada às 13h40 e acrescida ao processo às 16h22 desta segunda-feira. O conteúdo está sob sigilo, assim como o restante do processo.

Em despacho recente, o ministro do TCU deu 72 horas para a autarquia justificar a “medida extrema” e levantou a hipótese de travar ações futuras sobre os ativos da instituição financeira controlada por Daniel Vorcaro.

No cenário mais amplo, o Boletim Focus desta manhã trouxe novas reduções nas projeções de mercado para a inflação oficial, pelo IPCA. A mediana para o IPCA de 2025 caiu de 4,33% para 4,32%, a sétima baixa seguida. A taxa está 0,18 ponto porcentual abaixo do teto da meta, de 4,50%. Há um mês, era de 4,43%. Considerando apenas as 111 estimativas atualizadas nos últimos cinco dias úteis, a projeção passou de 4,32% para 4,31%.

A estimativa para o IPCA de 2026 caiu de 4,06% para 4,05%, a sexta baixa consecutiva. Há um mês, era de 4,17%. Considerando apenas as 110 projeções atualizadas nos últimos cinco dias úteis, a mediana recuou de 4,07% para 4,06%. O Banco Central espera que o IPCA some 4,4% em 2025 e 3,5% em 2026, conforme o último ciclo de comunicações do Comitê de Política Monetária (Copom).

Em outro destaque da agenda macro nesta abertura da última semana de 2025, o Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) registrou ligeira queda de 0,01% em dezembro, após ter subido 0,27% em novembro, informou a Fundação Getulio Vargas (FGV). A variação ficou abaixo do intervalo das estimativas coletadas pelo Projeções Broadcast, de alta de 0,04% a 0,30% para o mês, com mediana de 0,17%.

Dessa forma, o IGP-M encerrou 2025 com uma queda acumulada de 1,05%, menor taxa desde 2023, quando houve queda de 3,18%. Em 2024, o índice acumulou alta de 6,54%.

Juros

Em uma pregão morno e de liquidez reduzida devido à proximidade do feriado de Ano Novo, os juros futuros de prazo mais curto negociados na B3 aceleraram o ritmo de alta na segunda etapa da sessão. Enquanto os vencimentos intermediários e longos seguiram em viés de baixa e rondando os ajustes, a taxa para o primeiro mês de 2027 chegou a abrir entre 3 e 5 pontos-base na etapa final dos negócios.

Segundo agentes, é difícil apontar um gatilho específico para a piora, bastante tímida. No entanto, em um dia de poucas operações, qualquer movimento amplifica as oscilações dos DIs, e um possível condutor pode ter sido o déficit primário maior que o esperado pelo mercado em novembro, divulgado na parte da tarde.

Encerrados os negócios, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro para janeiro de 2027 oscilou de 13,747% no ajuste anterior para 13,785%. O DI para janeiro de 2029 passou de 13,228% no último ajuste para 13,200%. O DI para janeiro de 2031 marcou 13,505%, vindo de 13,537% no ajuste anterior.

“Hoje o dia foi de pouca volatilidade e poucas explicações”, disse um economista de uma grande tesouraria à Broadcast. “Não vi nenhum possível gatilho para essa alta do DI para janeiro de 2027”, reforçou.

A taxa negociada para o período passou a subir mais depois de o Tesouro Nacional publicar, às 14h30, o resultado primário do governo central, que registrou déficit de R$ 20,172 bilhões em novembro. O rombo no mês foi maior que o previsto pela mediana do Projeções Broadcast, de saldo negativo de R$ 13,25 bilhões.

“É difícil cravar algo, porque a liquidez no pregão de hoje foi muito reduzida”, destaca Felipe Tavares, economista-chefe da BGC Liquidez. “Qualquer coisa pode fazer preço. Mas pode ter sido o déficit maior que o esperado”. Para Tavares, porém, o ambiente externo benigno, com fechamento da curva dos Treasuries, e a percepção de alívio inflacionário doméstico reforçada pelo IGP-M ditaram a dinâmica positiva dos DIs observada na maior parte do pregão.

Divulgado mais cedo pela Fundação Getulio Vargas (FGV), o IGP-M caiu 0,01% em dezembro, após ter registrado alta de 0,27% em novembro. A variação ficou abaixo do piso das estimativas coletadas pelo Projeções Broadcast, de alta de 0,04%, enquanto a mediana era de 0,17%. O IGP-M acumulou deflação de 1,05% em 2025, menor taxa desde 2023, quando recuou 3,18%. “Em condições normais, o IGP-M não teria poder de fazer preço, não é algo tão significativo. Mas o dado vir abaixo do esperado é mais um sinal positivo que corrobora a perspectiva desinflacionária e a eficácia da política monetária”, diz o economista.

Ainda no campo dos indicadores, o boletim Focus mostrou ligeira queda nas projeções para a alta do IPCA em 2025 e 2026, enquanto as estimativas para 2027 e 2028, horizontes que mais importam para a política monetária, ficaram inalteradas. O consenso do mercado para o aumento do indicador este ano passou de 4,33% para 4,32%, e de 4,06% para 4,05% no próximo. As expectativas para 2027 e 2028 continuaram em 3,8% e 3,5%, respectivamente. O centro da meta perseguido pelo Banco Central é de 3%. Para a Selic, a mediana do mercado permaneceu em 12,25% para o fim de 2026, em 10,5% para 2027, e em 9,75% para o final de 2028.

A equipe econômica da BuysideBrazil observa que, desde a última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em 10 de dezembro, as expectativas dos analistas para o IPCA em 2025 e 2026 diminuíram 8 pontos-base e 11 pontos-base, pela ordem. Já a mediana do Focus para 2027 e 2028 também não teve alteração nessa comparação, assim como a janela móvel de 13 a 24 meses à frente.

Na abertura, levantamento do instituto Paraná Pesquisas mostrou que a desaprovação do governo Lula atingiu 50,9%, ante 45,6% de aprovação, o que representa estabilidade em relação à edição anterior da enquete. No embate eleitoral, Lula tem vantagem em todos os cenários no primeiro turno, mas aparece em empate técnico com o ex-presidente Jair Bolsonaro e o senador Flávio Bolsonaro nos cenários de segundo turno.

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Por Redação Folha de Guarulhos.

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