O diretor de Política Monetária do Banco Central, Nilton David, disse nesta quarta-feira, 23, que o ciclo de aperto monetário que vem sendo conduzido pela autarquia é “único”, devido à incerteza sobre o cenário internacional. Na avaliação dele, não há como saber à priori se seria mais benéfico elevar mais a taxa Selic ou mantê-la alta por mais tempo.
“Por causa de quão único o ciclo é, nós temos de descobrir, e nós vamos aprender à medida que vamos”, disse o diretor, respondendo a uma pergunta de investidores em um evento do JPMorgan em paralelo às reuniões de primavera do Fundo Monetário Internacional (FMI), em Washington, nos Estados Unidos.
David destacou que o objetivo do BC é levar a inflação à meta, de 3%, com o mínimo possível de custo para a sociedade. Mas ponderou que, se essa convergência demorar muito tempo, ela pode levar a algum tipo de “deformação permanente” nos preços, que acabe cobrando um preço mais caro no futuro.
“Nós tentamos balancear esses fatores, e é um processo de aprendizado para nós, dadas tantas questões”, afirmou o diretor. “Por exemplo: quando falamos de fiscal, por mais complicado que seja, os eventos que estamos vendo agora as tarifas nos EUA meio que diminuem todo o resto. É assim que eu vejo no momento. Nós vamos ter de continuar com nosso ciclo e nossas decisões.”
Taxa neutra real
O diretor de Política Monetária do Banco Central disse ainda que a estimativa de taxa neutra real de juros da autarquia – hoje, de 5% – é estrutural e não leva em conta eventos pontuais.
“Quando temos eventos pontuais, nós levamos em conta, adicionamos camadas, mas não mudamos a nossa estimativa de juro neutro”, explicou Nilton David.
O diretor acrescentou que esses eventos pontuais, embora não sejam adicionados às estimativas, têm impacto e demandam “ações extras” da autoridade monetária.
Medidas de crédito
Nilton David disse também que a autarquia ainda não tem convicção sobre os efeitos das medidas de crédito lançadas pelo governo. “Para nós, não está claro o que vai acontecer com as novas medidas de crédito”, afirmou.
Ele fez uma avaliação positiva da redução das taxas de crédito, uma vez que a aproximação dos juros cobrados pelos bancos à Selic fortalece a política monetária. Nilton também expressou a expectativa de que a política fiscal, fonte de estímulo econômico nos últimos anos, será diferente em 2025.
O fiscal, pontuou, é um “input” às decisões de política monetária. “Temos de viver com ele, ver para onde vai.”
O diretor do BC frisou que não é papel da instituição antecipar os riscos na política monetária. “A antecipação quem faz é o Focus”, disse Nilton, referindo-se ao relatório do BC que traz as previsões do mercado financeiro aos principais indicadores macroeconômicos.