Direção das taxas de juros é clara, mas decisões dependem de dados e projeções, diz Lagarde

A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, reforçou que a direção das taxas de juros definidas pela instituição é “clara”, mas afirmou que as decisões sempre dependem de dados e projeções. Com isso, a dirigente também evitou se comprometer com uma previsão de trajetória para os juros nas próximas reuniões da instituição.

Também não houve discussão, segundo ela, sobre quanto mais os juros podem cair. “Ainda é cedo”, enfatizou.

O Banco Central Europeu cortou suas principais taxas de juros em 25 pontos-base (pb), após concluir reunião de política monetária nesta quinta-feira, 30, em meio a novos sinais de fraqueza econômica na zona do euro e com a inflação ainda relativamente sob controle.

“Não seria realista prever próximos passos de política monetária em ambiente incerto”, afirmou Lagarde durante coletiva de imprensa.

Ela também ressaltou que a decisão desta quinta-feira foi unânime, e que um corte maior, de 50 pb, “de modo nenhum” esteve em discussão.

“Temos sorte” que, na decisão que será divulgada após a reunião de março, a equipe do BCE já terá produzido projeções atualizadas do cenário global e da zona do euro, declarou Lagarde durante a coletiva. “Até março poderemos ter uma ideia melhor sobre riscos do comércio global.”

Desinflação em progresso para direção da meta

A presidente do BCE afirmou ainda que a desinflação na zona do euro está avançando rumo à meta de 2% “de modo sustentável”.

Ela destacou que os membros da instituição estão “determinados a garantir a estabilização da inflação” na União Europeia (UE).

Lagarde afirmou que “não há estagflação na zona do euro”, ao responder pergunta na coletiva de imprensa após a decisão monetária.

A autoridade foi enfática ao apontar que a estagnação do Produto Interno Bruto (PIB) europeu no quarto trimestre de 2024 não reflete o desempenho da economia como um todo, o que torna prematuro discutir juros neutros neste momento.

Insistiu que está confiante na queda da inflação rumo à meta de 2% e repetiu que não se comprometerá com uma trajetória para os juros. “As decisões serão tomadas com base em dados e projeções, não apenas de uma leitura única, e sim o conjunto geral”, disse. “Há uma recuperação da economia em andamento, mas não estamos ainda em nosso potencial”, acrescentou.

Expectativa sobre a atividade

A presidente do BCE alertou que o crescimento econômico da zona do euro deve permanecer fraco no curto prazo. Destacou que o setor industrial europeu segue em contração e que a confiança do consumidor na União Europeia continua baixa.

Mais cedo, uma pesquisa da Eurostat mostrou que o Produto Interno Bruto (PIB) da zona do euro ficou estagnado no quarto trimestre de 2024 em relação aos três meses anteriores, contrariando a previsão de alta de 0,1%. O resultado representou uma forte desaceleração em comparação com o terceiro trimestre, quando a economia do bloco cresceu 0,4%.

Lagarde também ressaltou que “a renda real das famílias ainda não se recuperou para sustentar gastos na Europa”.

Ciclo

Segundo a dirigente, ainda não é possível dizer quando o BCE encerrará o ciclo de cortes de juros. “O debate sobre juros neutros é totalmente prematuro. Quando estivermos próximos dos juros neutros, poderemos avaliar se as taxas devem permanecer restritivas, voltar para o neutro ou cair abaixo deste nível”, rebateu.

Comentando sobre o salto em rendimentos soberanos, Lagarde apontou que múltiplos fatores domésticos e externos estão contribuindo para alta dos juros de títulos, como os problemas de dívida fiscal na Europa e o aumento dos prêmios de prazo nos EUA. “Contudo, isso não impede a transmissão em andamento da flexibilização monetária”, disse.

Salários

A presidente do BCE alertou também para um possível declínio nos salários dos trabalhadores europeus ao longo de 2025. Ela afirmou que vários indicadores sugerem uma desaceleração no aumento salarial neste ano.

Além disso, Lagarde previu que os preços de energia também devem cair em 2025.

A dirigente da instituição indicou que uma desaceleração no crescimento dos salários na zona do euro pode impactar a inflação no setor de serviços.

Tensões geopolíticas e atritos comerciais são riscos para economia

A presidente do BCE destacou também que as tensões geopolíticas globais, os atritos comerciais e os efeitos das políticas monetárias representam riscos para a economia da zona do euro. No entanto, ela afirmou que, caso essas tensões não se intensifiquem, as exportações poderão ajudar a sustentar a economia da União Europeia.

O posicionamento de Lagarde surge em meio a ameaças de elevação de tarifas para produtos europeus pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

Durante a coletiva de imprensa após o anúncio da decisão do Banco Central Europeu de reduzir as principais taxas de juros em 25 pontos-base, Lagarde também alertou que a baixa confiança pode dificultar uma recuperação mais rápida do consumo e do investimento na região.

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