Descolado de NY, Ibovespa tem maior alta desde 14 de fevereiro, aos 125 mil

O Ibovespa retomou nesta quinta-feira, 13, o nível de 125 mil pontos, em recuperação de quase 2 mil pontos em relação ao fechamento anterior. O índice da B3 flutuou dos 123.589,56 aos 125.774,17 pontos, saindo de abertura aos 123.862,83 pontos. Ao fim, mostrava alta de 1,43%, aos 125.637,11, com giro financeiro a R$ 20,7 bilhões. Na semana, o Ibovespa passa ao positivo (+0,48%), com ganho no mês a 2,31% e no ano a 4,45%.

Em porcentual, a alta do Ibovespa nesta quinta-feira foi o melhor desempenho para o índice desde 14 de fevereiro, há um mês, apoiado na sessão pelas ações de primeira linha, como Vale (ON +1,38%), Petrobras (ON +0,71%, PN +1,00%) e as de grandes bancos (Itaú PN +1,62%, Bradesco PN +1,75%, BB ON +1,63%).

Na ponta ganhadora, B3 (+10,48%), CSN Mineração (+9,09%) e CSN (+7,91%) – após a divulgação de resultados bem recebidos de ambas as empresas do setor metálico e de siderurgia, aponta Lucas Serra, analista da Toro Investimentos. “A CSN trouxe melhora de dados operacionais, apesar do aumento da alavancagem”, destaca.

A ação da B3, por sua vez, foi impulsionada por decisão favorável do Carf sobre ágio na incorporação de ações da Bovespa holding. No lado oposto do índice da B3, Cogna (-6,40%), Lojas Renner (-4,13%) e Automob (-4,00%).

“Lá fora, especialmente em Nova York, o dia foi negativo, em realização ainda para o S&P 500 e o Nasdaq, com muitos ruídos em torno da implementação de tarifas comerciais”, diz Rodrigo Ashikawa, economista da Principal Asset Management, referindo-se a fatores como “magnitude” e “timing” da efetivação das taxas defendidas pelo presidente Donald Trump a importações que chegam aos EUA, o que já resulta em “surpresas negativas” com relação ao desempenho da economia americana em dados mais recentes – que alimentam a percepção quanto a uma possível recessão.

Em Nova York, os principais índices de ações encerraram a sessão com perdas de 1,30% (Dow Jones), 1,39% (S&P 500) e 1,96% (Nasdaq). “O Brasil conseguiu se descolar desse ambiente negativo, embora sem grandes novidades no cenário doméstico”, acrescenta o economista, referindo-se ao ajuste na curva do DI e, marginalmente, também no câmbio, com o dólar à vista em baixa de 0,15%, a R$ 5,8002, no fechamento desta quinta-feira.

Assim, o mercado deixou em segundo plano nova leitura, mais fraca, sobre um dado de atividade econômica no Brasil, desta vez do setor de serviços, do IBGE, observa Ashikawa. “Dados de atividade vêm em sequência um pouco mais frustrante em relação à expectativa de mercado, indicando acomodação do crescimento brasileiro nesses últimos meses”, acrescenta.

Dólar

O dólar passou a tarde em ligeira baixa no mercado local e encerrou a sessão desta quinta-feira, 13, em queda de 0,15%, cotado a R$ 5,8002, após correr entre mínima a R$ 5,7917 e máxima a R$ 5,8358. Operadores atribuíram a leve apreciação do real a uma eventual entrada de recursos estrangeiros para renda fixa e ações domésticas, além da valorização de outras divisas emergentes.

No início do pregão, a moeda chegou a ensaiar um movimento de alta, em sintonia com o comportamento do dólar no exterior, após o presidente dos EUA, Donald Trump, ameaçar a União Europeia com tarifas de 200% para bebidas alcoólicas.

A virada para o campo negativo ocorreu no fim da manhã e se sustentou praticamente ao longo de toda a tarde, período em que o Ibovespa renovou máximas, acima dos 125.600 pontos.

O Tesouro Nacional vendeu nesta quinta oferta integral de LTN, com volume de R$ 18,065 bilhões. Também foi colocado lote integral de 6 milhões de NTN-F (R$ 4,863 bilhões), papel preferido pelo investidor estrangeiro.

“O fluxo cambial está bem negativo no ano, mas é provável que haja entrada hoje de gringo tanto no leilão do Tesouro quanto na B3, o que segurou o dólar perto de R$ 5,80”, afirma o superintendente da mesa de derivativos do BS2, Ricardo Chiumento. “Há também uma visão de que vai sobrar espaço para produtos brasileiros em mercados como a China no meio dessa guerra comercial, o que tem ajudado o real.”

Termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes, o índice DXY subia cerca de 0,20% no fim da tarde, ao redor dos 103,800 pontos, após máxima aos 104,080 pontos. A moeda norte-americana perdeu força na comparação com pares do real, como os pesos chileno e mexicano, além do rand sul-africano.

Operadores afirmam que a taxa de câmbio pode ter encontrado um ponto de acomodação ao redor de R$ 5,80, com investidores ainda ponderando os riscos de recessão nos EUA por conta do vaivém da imposição de tarifas por Donald Trump.

Divulgado pela manhã, o índice de preços ao produtor (PPI, na sigla em inglês) veio estável em fevereiro, abaixo da previsão de analistas (0,3%). Já o núcleo do PPI caiu 0,1%, na contramão das expectativas (0,3%). Na quarta, leitura de inflação ao consumidor em fevereiro também veio abaixo das estimativas.

Chiumento, do BS2, afirma que, além das incertezas no ambiente externo, a falta de apetite dos investidores por apostas mais contundentes reflete a cautela com o quadro fiscal doméstico, diante da expectativa pela votação do orçamento de 2025 na próxima semana.

Na quarta, o Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) informou em primeira mão os rearranjos no orçamento propostos pelo governo Lula, que trazem corte de R$ 7,7 bilhões no Bolsa Família e de R$ 7 bilhões em ações do Ministério da Educação. De outro lado, há acréscimo de R$ 3 bilhões no Auxílio Gás e de cerca de US$ 7,8 bilhões em benefícios previdenciários.

O Citi afirma que o governo “está lutando” para enquadrar no arcabouço fiscal todas as políticas sociais que foram adotadas nos últimos anos, reiterando a promessa de cumprir a meta de resultado primário zero neste ano, com margem de tolerância de 25 pontos-base para cima ou para abaixo, seguida de superávit de 0,25% do PIB em 2026.

A recém-empossada ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, disse nesta quinta que o Bolsa Família não passará por cortes, mas por um “ajuste” que abrirá espaço fiscal para outros programas sociais. Após sua primeira reunião com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, Gleisi informou que a proposta de ampliação da isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil mensais será apresentada na próxima semana.

“A promessa do governo de que a meta fiscal será mantida poderia abrir espaço para o dólar cair para perto de R$ 5,75, mas vemos uma certa desconfiança de que não haverá disposição para novos cortes de gastos ao longo do ano”, afirma Chiumento, que vê um piso muito forte para a taxa de câmbio em R$ 5,70.

Taxas de juros

Os juros futuros intermediários e longos cedem mais de 10 pontos-base no período da tarde desta quinta-feira, 13. O ponto principal segue sendo o fechamento da curva dos Treasuries, mas a desmontagem de algumas posições de hedge após o Tesouro Nacional vender 27 milhões de LTNs, maior lote desde 10 de dezembro de 2020, dá ainda mais fôlego para o movimento. O volume de serviços também mostrou a terceira queda mensal do indicador, mas a ponta curta seguiu resistente, rondando os ajustes da véspera.

Por volta das 17h20, a taxa de depósito interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 marcava 14,715%, de 14,722% no ajuste anterior. O DI para janeiro de 2027 recuava a 14,475%, de 14,601%, e o para janeiro de 2029 caía para 14,390%, de 14,582% no ajuste anterior.

A queda dos juros dos Treasuries orienta a curva local desde cedo. Contudo, no período da tarde as taxas médias e longas renovaram mínimas.

O economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez, aponta que a curva pode estar aliviando por um movimento técnico do mercado após o leilão do Tesouro Nacional, que num primeiro momento teria assustado parte dos operadores. “O DI reagiu fortemente mais cedo, sugerindo que o mercado absorveu o risco dos títulos. Mas zerou boa parte, se não tudo, o que conseguiremos ver apenas amanhã com os dados da B3”, afirma.

A menos de uma semana da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), o vértice mais curto dos DIs não teve uma queda tão expressiva. O mercado prevê com unanimidade alta de 1 ponto porcentual na Selic em março, segundo o Projeções Broadcast. O maior nível do aperto monetário, de acordo com o levantamento, deve ocorrer em junho, com Selic a 15%.

Destaque da agenda desta quinta-feira, o volume de serviços caiu 0,2% em janeiro, na margem, ante estimativa de -0,1%. “Se somar esse dado com os que tivemos nesta semana de produção industrial, notamos que a atividade vem demonstrando alguma desaceleração, e isso vem contribuindo para derrubar as taxas de juros”, afirma o sócio e analista da Ajax Asset, Rafael Passos.

Já a Coordenadora do Boletim Macro do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), Silvia Matos, considera que a expectativa é de uma desaceleração no consumo das famílias em 2025 – fator importante para a inflação -, mas pondera que no início do ano há reajuste do salário mínimo em termos reais e o governo tem feito medidas adicionais para acelerar o consumo.

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