A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, afirmou que a redução das taxas de juros em 25 pontos-base (pb) realizada nesta quinta-feira, 5, deixa a política monetária em “boa posição para enfrentar incertezas”. “Com corte hoje e nível atual dos juros, estamos em boa posição para navegar circunstâncias que virão a seguir e retornar a inflação para a meta sustentadamente no médio prazo”, disse, em coletiva de imprensa para comentar a decisão.
Lagarde apontou que ainda não é possível dizer se a política monetária está em uma zona neutra, tendo em vista que o banco central está chegando somente agora ao “fim” do ciclo monetário responsável por responder aos choques econômicos dos últimos anos.
Segundo ela, a taxa neutra dos juros só pode ser calculada em ambiente ausente de choques e em “completo equilíbrio”.
A presidente do BCE também classificou como “decentemente bom” o desempenho do banco central ao superar as crises provocadas pela pandemia, guerra na Ucrânia e salto nos preços de energia.
“A inflação está na meta, as expectativas estão bem ancoradas e os três elementos que eram nossa preocupação – inflação de serviços, evolução de salários e de lucros – voltaram para níveis consistentes com preços em 2%”, afirmou Lagarde.
Além da moderação salarial, Lagarde destacou que houve certa redução nas preocupações sobre a incerteza quanto a políticas comerciais e na volatilidade dos mercados financeiros.
Placar não foi unânime
A presidente do Banco Central Europeu revelou que o corte das taxas juros em 25 pontos-base (pb) não teve apoio unânime, com voto contrário de um dirigente. “Tivemos um consenso amplo, mas não foi unânime”, disse, mas sem detalhar qual a opção escolhida pelo voto divergente.
Lagarde evitou comentar os próximos passos do banco central, reiterando que não há uma “trajetória predeterminada” dos juros e ressaltando diversas vezes que vê a política monetária bem posicionada no momento. “Prefiro não dizer nada sobre as próximas decisões ou possíveis futuros choques econômicos, sobre os quais não sabemos nada agora”, afirmou.
Contudo, a presidente do BCE não descartou a possibilidade de ajustes futuros nas perspectivas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) ou de outras projeções.
Lagarde lembrou que um grande fator que pode provocar alterações é o resultado das negociações comerciais dos EUA com todos os parceiros comerciais. “Isso não está no nosso cenário nem eventuais retaliações. Nossas projeções publicadas hoje consideram apenas o cenário atual”, disse.
A equipe técnica do banco central projeta que as novas políticas comerciais devem pesar sobre as exportações e os investimentos empresariais nos próximos meses, contrapondo o forte crescimento do PIB europeu no primeiro trimestre.
Lagarde acrescentou que tensões geopolíticas na Ucrânia e no Oriente Médio, além de possível deterioração do mercado financeiro, podem piorar esse cenário, enquanto impulsionar reformas fiscais pode apoiar a atividade econômica.
A presidente também notou que aumentar a resiliência da economia europeia, melhorar ferramentas macroprudenciais e ampliar políticas econômicas e fiscais pró-ativas dos países da União Europeia (UE) podem ajudar no fortalecimento do euro.
Questionada, Lagarde reconheceu que há uma possibilidade da divisa europeia alcançar o posto de reserva de valor global. “Mas não é um processo que podemos tomar como garantido ou que será simples. Temos que estabelecer reputação de confiança para fortalecê-lo”, afirmou, revelando que o assunto começou a ser debatido na última reunião monetária.