Depois de mais de um ano de disputa judicial, a Tegra Incorporadora começou a retirada de 118 árvores do terreno do Bosque dos Salesianos, uma área de 7 mil m² com 207 árvores entre as ruas Pio XI, Sales Júnior e Presidente Antônio Cândido, no Alto da Lapa, na zona oeste de São Paulo. No local serão construídas torres residenciais.
O Tribunal de Justiça de São Paulo autorizou a retomada das atividades, após a obra ter sido suspensa a pedido da Promotoria de Justiça do Meio Ambiente. Em agosto, a construtora firmou um Termo de Compromisso Ambiental com a Prefeitura permitindo o manejo das árvores mediante o plantio compensatório de 1.799 árvores nativas na região, além de investimentos para melhoria no bairro.
Segundo o Termo de Compromisso Ambiental assinado entre a Prefeitura e a Tegra, 26 árvores nativas da Mata Atlântica serão cortadas. Outras 66 de espécies exóticas e sete invasoras também serão retiradas. De acordo com o documento, 19 exemplares já estão mortas.
Haverá o plantio interno no terreno de 120 mudas. Já o plantio compensatório de 1.679 mudas será feito em outros espaços do bairro.
O documento determina que cada muda tenha três centímetros e sejam de espécies nativas do Estado. O município ainda estabelece que o plantio deverá ser realizado após o término da obra.
“A Procuradoria Geral do Município informa não haver, atualmente, qualquer decisão judicial que impeça a intervenção no local citado”, informou a Prefeitura, em nota. O Executivo aponta que a liberação foi baseada em “fundamentação técnica e legal, prezando pelo equilíbrio ambiental”.
A Tegra Incorporadora destacou ter todas as autorizações necessárias e que fará a revitalização de quatro praças na região, com investimento superior a R$ 1 milhão.
Nesta terça-feira, 4, moradores realizaram um protesto contra o início da obra. O ato foi articulado pelo Movimento Salve o Bosque. “Na semana da COP-30, enquanto o mundo inteiro se reúne para discutir soluções e mudanças necessárias para reverter a crise climática, na zona oeste da capital paulista a incorporadora começou a derrubar o Bosque dos Salesianos com árvores centenárias e nativas”” escreveu a entidade nas redes sociais.
Diferentes associações de moradores da região também se mobilizaram. Diretor de Relações de Governo da Associação Viva Leopoldina, Carlos Alexandre de Oliveira criticou o que chamou de “devastação”. “Infelizmente, a Prefeitura, de uma maneira muito célebre, autorizou a compensação, ou seja, na prática, a derrubada de árvores centenárias no bosque, um dos últimos pulmões verdes da região, totalmente na contramão das boas práticas do meio ambiente”, declarou.
Na ação inicial do Ministério Público, de outubro de 2024, o promotor Carlos Henrique Prestes Camargo apontou “danos irreversíveis ao patrimônio ambiental” da capital. “O perigo decorre da destruição definitiva de uma área de suma importância para a cidade e, especialmente, para a população que reside no bairro da Lapa, comprovadamente desprovido de áreas verdes.”
Moradora do bairro há décadas, Elysa Levi Fonseca, de 88 anos, defende a importância do local também do ponto de vista histórico. “Era uma área verde de um colégio muito frequentado, onde era feita a formação de padres salesianos”, conta.


