Com melhora em NY, Ibovespa interrompe série negativa, aos 135,5 mil pontos

O Ibovespa lutou para reter a linha dos 135 mil pontos no fechamento desta quarta-feira, 16, perto da estabilidade como ontem, mas hoje enfim em viés levemente positivo, interrompendo, assim, série negativa que se alastrou por sete sessões – a mais longa sequência negativa desde agosto de 2023. Entre a mínima e a máxima do dia, oscilou dos 134.265,30 aos 135.640,67 pontos, saindo de abertura aos 135.250,10 pontos. O giro subiu para R$ 33,4 bilhões na sessão, em dia de vencimento de opções sobre o Ibovespa. Na semana, o índice da B3 recua 0,50% e, no mês, cede 2,41% – no ano, ainda avança 12,66%. No fechamento, o Ibovespa mostrava hoje leve alta de 0,19%, aos 135.510,99 pontos.

O sinal positivo se firmou à tarde, como em Nova York, após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, vir a público desmentir relatos quanto a uma demissão iminente, por iniciativa sua, de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, a quem tem criticado publicamente desde o começo do segundo mandato na Casa Branca pelo que considera ser uma insistência em manter juros elevados, em nível além do que seria exigido pelo momento atual da economia americana.

O jornal The New York Times reportou que Trump teria mostrado rascunho de uma carta de demissão do presidente do Fed a deputados republicanos, na noite de ontem. Mas ele negou, hoje, que planeja demitir Powell, embora tenha voltado a fazer críticas ao chefe do Fed – inclusive, hoje, levantando suspeitas quanto à conduta à frente de reforma da instituição. “Powell pode sair da presidência do Fed por fraude. A menos que haja fraude na reforma, não vamos demitir Powell”, disse Trump publicamente nesta quarta-feira, acrescentando ser “mais conservador que os republicanos sobre a demissão” – que, segundo ele, “gostaram da ideia”.

Os relatos sobre a iminente demissão ou permanência de Powell no comando do Fed até o fim de seu mandato, em maio de 2026, dominaram os negócios com ativos financeiros, aqui e no exterior, ao longo do dia. No início da tarde, antes de Trump vir a público desmentir os rumores sobre demissão, o mercado elevou, para 66%, a aposta de corte de juro pelo Federal Reserve em setembro, segundo ferramenta de monitoramento do CME Group, enquanto circulavam as informações de que o presidente americano o afastaria. Mais cedo, o mercado estimava em 55,6% a chance de corte de juros em setembro.

“Muitas pessoas querem o emprego de Powell, já me ligaram implorando para terem o trabalho”, disse também Trump nesta quarta-feira. A ambiguidade apareceu também em outro comentário, no qual o presidente americano afirmou acreditar que Powell esteja sendo investigado por fraude na reforma do Fed, sem entrar em detalhes.

Prêmio Nobel de Economia, Paul Krugman avalia que, apesar das ameaças e do desgaste acumulado, Trump não conseguirá demitir o presidente do Federal Reserve antes do fim do mandato de Powell. O problema é quem virá depois, afirma Krugman, alguém que, ao que tudo indica, “fará o que ele Trump quiser”.

Considerado um dos favoritos a substituir Powell no Fed, o diretor do Conselho Econômico da Casa Branca, Kevin Hassett, voltou a criticar, hoje, o banco central americano. Em entrevista à Fox Business, acusou o Fed de estar “muito, muito lento” no processo de relaxamento monetário. “O que precisa acontecer é que o Federal Reserve precisa voltar à curva onde os juros devem estar”, afirmou.

“Há uma piora de dinâmica para a Bolsa brasileira, que colocou hoje o Ibovespa abaixo dos 135 mil pontos, na mínima do dia”, diz João Piccioni, CIO da Empiricus Asset. De ontem para hoje, além das questões em torno de Powell, a mira da Casa Branca em relação ao Brasil pareceu ainda mais calibrada para causar o máximo estrago, com a decisão do governo americano de lançar investigação sobre práticas comerciais do País que seriam danosas aos Estados Unidos.

Em outro desdobramento, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) divulgou nesta quarta-feira que o governo federal enviou, ontem, uma carta à gestão de Donald Trump sobre as tarifas de 50% anunciadas para o Brasil, com vigência prometida para 1º de agosto. Conforme o MDIC, a carta critica a taxação, mas cobra respostas à busca por diálogo – o que estaria sendo tentado de forma oficial pela diplomacia brasileira desde meados de maio.

Nesse contexto, o fôlego curto do Ibovespa em relação à recuperação um pouco mais visível em Nova York nesta tarde – onde os ganhos chegaram a 0,53% (Dow Jones) no fechamento – envolve também incertezas sobre matérias domésticas, observa Luiz Roberto Monteiro, operador da mesa institucional da Renascença. “Há também a incerteza sobre o IOF, pesquisa Genial/Quaest, mostrando melhora da popularidade do presidente Lula, além das tarifas dos Estados Unidos e, agora, esse novo imbróglio do Departamento de Comércio americano, que acentua as próprias preocupações tarifárias. Nada anima”, acrescenta.

Assim, na B3, dentre as blue chips, apenas Vale (ON +0,91%) e Itaú (PN +0,49%) avançaram nesta quarta-feira – destaque também para Gerdau (PN +0,36%) e Metalúrgica Gerdau (+0,33%). Petrobras ON e PN fecharam o dia em baixa de 0,86% e 0,50%, pela ordem. Na ponta ganhadora do Ibovespa, Pão de Açúcar (+10,66%), WEG (+3,66%) e RD Saúde (+3,29%). No lado oposto, Usiminas (-4,52%) – após o Goldman Sachs rebaixar a recomendação da ação, de compra para neutra, destaca Josias Bento, sócio da GT Capital -, à frente de Braskem (-4,51%) e de Embraer (-3,86%). Entre os maiores bancos, à exceção de Itaú, as perdas da sessão ficaram entre 0,10% (BB ON) e 0,43% (Bradesco ON).

Dólar

O aumento das tensões tarifárias com os EUA impediu que o real se beneficiasse nesta quarta-feira, 16, da onda de enfraquecimento da moeda americana no exterior, em dia de dado aquém das expectativas da inflação americana no atacado e rumores sobre possível demissão do presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell.

Com máxima a R$ 5,5949 pela manhã, o dólar à vista fechou cotado a R$ 5,5619 (+0,07%), passando a acumular valorização de 2,35% em julho. As perdas da moeda americana no ano, que chegaram a superar 12% no início deste mês, quando a taxa de câmbio tocou R$ 5,40, agora são de 10%.

Operadores também citaram a melhora da popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas últimas rodadas de pesquisas eleitorais, reforçada hoje por levantamento da Genial/Quaest, como um dos fatores para a recuperação do dólar em relação ao real.

Ontem à noite, o Escritório do Representante Comercial dos EUA (USTR, na sigla em inglês) abriu investigação sobre supostas práticas comerciais desleais do Brasil, sinalizando dificuldade nas negociações em torno das tarifas de 50% que os americanos prometem impor a produtos brasileiros a partir de 1º de agosto.

A leitura é a de que o tarifaço do presidente americano, Donald Trump, que hoje voltou a elogiar o ex-presidente Jair Bolsonaro, favorece Lula e reduz as chances de um candidato à direita do espectro político, em tese mais comprometido com a austeridade fiscal, vencer o pleito em 2026.

Segundo o estrategista-chefe da EPS Investimentos, Luciano Rostagno, o comportamento do dólar no mercado local reflete o aumento das tensões comerciais entre Estados Unidos e Brasil. Ele vê também certa cautela em relação ao quadro fiscal, diante das expectativas pela decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), sobre o aumento de alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) pleiteado pelo governo, mas derrubado pelo Congresso por decreto legislativo.

“Temos também a melhora na popularidade do Lula, que eleva a percepção de risco fiscal, especialmente após a eleição de 2026”, afirma Rostagno, acrescentando que o dólar já se desvalorizou bastante em julho, “corrigindo” parcialmente o movimento dos últimos meses. “De certa forma, a postura do governo brasileiro de buscar o diálogo com os Estados Unidos, em vez de partir para o confronto, evita uma desvalorização maior do real”.

O governo brasileiro enviou carta ao americano, segundo informou hoje o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), em que critica a tarifa de 50%, mas reafirma o compromisso com o diálogo, buscado pelo Brasil desde maio.

No início da tarde, a divisa desceu até a mínima de R$ 5,5569, na esteira do aprofundamento das perdas da moeda americana no exterior, após notícia do The New York Times de que Trump teria apresentado um rascunho do que seria uma carta de demissão de Powell, cujo mandato termina em maio de 2025.

Termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas, o Dollar Index (DXY) já vinha em queda e despencou, furando o piso dos 98,000 pontos, com mínima a 97,714 pontos. O DXY reduziu as perdas em seguida, com o desmentido de Trump.

Apesar de tecer novas críticas a Powell, a quem classificou de “terrível”, o presidente dos EUA disse que não planeja demiti-lo, embora tenha conversado com republicanos sobre o tema. “A menos que haja fraude na reforma, não vamos demitir Powell”, disse Trump, em referência à reforma na sede do Fed.

Divulgado pela manhã, o índice de preços ao produtor (PPI, na sigla em inglês) e seu núcleo permaneceram estáveis em junho ante maio, diante de expectativa de ligeiro avanço, e registraram alta menor que a esperada na comparação anual. Economistas avaliam que os efeitos das tarifas ainda vão se materializar na inflação, o que justificaria postura cautelosa do Fed, embora dirigentes da instituição já tenham sinalizado possibilidade de corte de juros neste mês.

“O Fed parece estar procurando ganhar tempo para ter sinais mais claros de para onde a economia americana está caminhando. É muito difícil avaliar qual vai ser o resultado dessa postura errática do governo Trump sobre a inflação e atividade”, afirma Rostagno, da EPS Investimentos.

Juros

Os juros futuros caminharam em sentido contrário ao alívio vindo do exterior – onde os rendimentos dos Treasuries caíram – na segunda etapa do pregão desta quarta. Os vencimentos curtos seguiram rondando a estabilidade, enquanto os vértices intermediários e longos mostraram viés de alta. Com agenda econômica esvaziada, o mercado reagiu aos últimos desenvolvimentos do embate comercial com os Estados Unidos, bem como a seus potenciais impactos no quadro eleitoral doméstico, que parecem favoráveis ao presidente Lula.

Encerrados os negócios, o contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) com vencimento em janeiro de 2026 oscilou de 14,939% no ajuste de ontem para 14,940%. O DI de janeiro de 2027 ficou em 14,355%, igual ao ajuste da véspera. O DI de janeiro de 2028 marcou 13,760%, vindo de 13,722% no ajuste anterior, e o contrato do primeiro mês de 2029 avançou de 13,631% no ajuste antecedente para 13,700%.

Em mais um capítulo da ofensiva comercial dos EUA, o Departamento do Comércio americano abriu ontem ampla investigação sobre estratégias comerciais brasileiras, o que pode dificultar ainda mais as negociações para amenizar a tarifa de 50% já anunciada sobre produtos nacionais. Para Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, os ativos domésticos serão penalizados pelo inquérito, com a sinalização de que a discussão entre os governos brasileiro e americano vai durar mais tempo, o que eleva incertezas.

Por si só, a maior volatilidade causada pelos movimentos erráticos do presidente Donald Trump adiciona prêmio de risco à curva de juros local, avalia Luciano Rostagno, sócio e estrategista-chefe da EPS Investimentos. Mas o confronto do governo americano com o Brasil também teve consequências, em sua visão, sobre a disputa eleitoral em 2026 – uma vez que a postura combativa do governo Lula parece ter favorecido a popularidade do atual presidente, o que se refletiu nas últimas pesquisas para as eleições do próximo ano.

“A questão de Trump e dividendos políticos que Lula está colhendo com a forma que reagiu ao tarifaço estão mexendo com o mercado”, diz Rostagno. “Com Lula se beneficiando do embate com Trump pós-taxação, aumentam as chances de que ele seja reeleito e, consequentemente, a percepção de risco fiscal no médio e longo prazo”.

O republicano voltou a criticar hoje a forma como o Brasil trata o ex-presidente Jair Bolsonaro, impedido de concorrer às eleições pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e réu em ação penal do Supremo Tribunal Federal (STF), e citado pelo republicano como um dos motivos para a imposição da tarifa de 50% sobre o Brasil. Trump afirmou que ainda tem “alguns bons negócios” a anunciar, em referência às cartas que têm enviado a países com notificações de tarifas. Segundo o presidente americano, mais de 150 nações ainda podem recebê-las.

Lá fora, o destaque do foi a divulgação do índice de preços ao produtor (PPI, na sigla em inglês) dos EUA, que surpreendeu para baixo, ao ficar estável em junho ante maio e subir 2,5% sobre junho do ano passado. “Os últimos dados de inflação americanos foram benignos e isso está ajudando a reduzir as taxas dos Treasuries”, aponta Rostagno.

O mercado também ficou atento a relatos de que Trump planeja demitir o presidente da instituição, Jerome Powell. O republicano desmentiu os boatos, mas voltou a criticar a postura monetária do BC do país e apontou que a mudança no comando do Fed deve ocorrer nos próximos oito meses.

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