O diretor de Política Monetária do Banco Central, Nilton David, disse nesta terça-feira, 25, que um novo aumento da taxa Selic não faz parte do cenário-base da autarquia. “Não estamos mais no ciclo de interrupção de alta dos juros, aumentar os juros não está mais no cenário-base do BC. A questão agora é entender quando será o processo de corte de juros”, frisou, durante participação no evento Brasil Treasury Summit, organizado pela EuroFinance em São Paulo.
Nilton destacou que, dado o nível de incerteza elevada, o BC segue na postura dependente de dados na expectativa de que convirjam para o cenário esperado. O diretor ainda salientou a preocupação do Comitê de Política Monetária (Copom) com uma comunicação que não gere ruído.
“Nas reuniões do Copom, estamos mais focados em afinar a comunicação”, destacou o diretor, que ainda frisou que “tudo que o BC altera na comunicação tem um propósito.
Nilton também disse “não ser fã” de forward guidance nas comunicações, dado o nível elevado de incertezas.
Meta de inflação
O diretor de Política Monetária do Banco Central disse que o melhor que a autarquia pode fazer para gerir as expectativas de aumento da dívida pública é trazer a inflação para a meta. “Focus antecipa que estamos indo para o centro da meta, mas ainda não chegamos lá”, destacou.
Nilton frisou que, para que a inflação convirja à meta de forma sustentável, a atividade deve ser levada para o seu potencial. “Não queremos diminuir o PIB, mas fazer com que ele cresça no seu potencial.”
Tarifas dos EUA
O diretor de Política Monetária do Banco Central ressaltou a situação incerta envolvendo as tarifas impostas pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, ainda que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tenha retirado a sobretaxa de 40% sobre alguns itens. “É quase um experimento econômico o que está acontecendo na parte das tarifas”, afirmou.
Segundo o diretor, a incerteza sobre os efeitos do tarifaço persiste, com opiniões divergentes quanto ao seu impacto. “Há quem ache que o efeito do tarifaço já passou, enquanto outros não. Há bastante incerteza”, frisou Nilton.
No entanto, ele indicou sinais de melhora. “Parece que está havendo um arrefecimento da situação.”
Nilton ainda destacou que as oscilações cambiais têm sido um desafio. Para ele, embora o nível de incerteza no cenário externo seja menor quando comparado ao início do ano, a situação ainda exige atenção. “O BC não pode abaixar a bola”, destacou.
O diretor de Política Monetária avaliou a relação atual do Brasil com os Estados Unidos diante do tarifaço. Para ele, apesar das turbulências envolvendo os dois países, a percepção é de que, por ora, o efeito de medidas protecionistas foi menos agressivo do que o esperado.
“A impressão que se tem é que ninguém deixou de levar as coisas para os Estados Unidos”, disse o diretor, que também enxerga uma mudança de percepção. “Parece que há uma maior boa vontade para uma dependência menor dos EUA.”
Nilton também chamou atenção para a postura da Europa frente às políticas de Trump, a quem ele considera mais pragmático do que dogmático. “Boa vontade da Europa para conversar com os demais países aumentou”, frisou.


