O Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo, o maior do país, tornou-se palco de um esquema de extorsão envolvendo motoristas clandestinos, conhecidos como “arrastadores”. Esses golpistas se passam por motoristas de aplicativos, coagem passageiros a pagar valores exorbitantes pelas corridas e intimidam tanto as vítimas quanto motoristas legalizados.
Uma investigação do Fantástico acompanhou, ao longo de três meses, a ação dos criminosos, analisando mais de 30 boletins de ocorrência, nove deles registrados em 2024, e obtendo imagens exclusivas. O golpe conta com o envolvimento de falsos seguranças e até de uma mulher especializada em enganar turistas estrangeiros.
Segundo a Prefeitura de Guarulhos, mais de 120 veículos clandestinos foram apreendidos apenas em 2024.
Golpes Extremos
Uma das vítimas relatou ter pago R$ 4.999 por uma corrida que normalmente custaria R$ 70. Outro passageiro relatou que recebeu uma ligação ameaçadora do golpista, exigindo R$ 700 para liberar seu filho após o transporte.
Imagens exclusivas mostram cenas de violência, com os golpistas agredindo motoristas legalizados que tentaram denunciar o esquema. Em algumas ocasiões, as brigas envolveram dezenas de pessoas.
Raízes do Esquema
Um relatório da Polícia Rodoviária Federal (PRF) de 2021 já apontava a existência de uma organização criminosa operando no local, com mais de 100 carros clandestinos e movimentação superior a R$ 3 milhões. O documento também destacou atividades ilícitas associadas, como porte ilegal de armas e tráfico de drogas.
Flávio Catarucci, porta-voz da PRF-SP, explicou que as ações começaram após rondas identificarem motoristas que alegavam ser de aplicativos, mas não estavam logados em nenhuma plataforma.
A Polícia Civil de São Paulo agora busca informações com a PRF sobre as investigações de 2021. Já a concessionária do aeroporto, Gru Airport, destacou que a fiscalização cabe às autoridades policiais e à prefeitura.
Relatos de Vítimas
Luiz Felipe Gomes, produtor musical de Teresina, foi vítima do golpe em 2023. “O golpista se apresentou como motorista credenciado, com um carro de luxo. Ao fim da corrida, fui cobrado R$ 542 em vez dos R$ 100 previstos. Tentei sair do carro, mas teria que abandonar minhas malas”, relatou.
O nome do golpista é Geraldo Ferreira Júnior, condenado a um ano de prisão por estelionato. A pena foi convertida em doação de cestas básicas, por ser réu primário. Mesmo assim, imagens recentes mostram que ele continua atuando no aeroporto.
Outro “arrastador”, Celso Araújo Sampaio de Novais, foi flagrado coagindo quem questionava o esquema. Celso ganhou notoriedade recentemente por outro motivo: foi uma das vítimas de um ataque a tiros em São Paulo, durante a execução de Antônio Vinícius Gritzbach, delator do PCC. Celso morreu em um hospital de Guarulhos após o atentado.
O Alerta Continua
A Polícia Civil segue investigando o caso e as atividades dos envolvidos. Enquanto isso, passageiros são orientados a utilizar apenas serviços oficiais e denunciar qualquer situação suspeita.
Os suspeitos citados na reportagem foram procurados, mas não se manifestaram.